“Invistam em cartoons”, diz chargista da Economist

Um bate-papo com o cartunista Kal, o bico de pena por trás das charges da revista de economia mais influente do mundo

Rafael Brandimarti

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Colaborador da Economist desde 1978 e autor de mais de 4.000 cartoons e 140 capas, o americano Kevin Patrick Kallaugher, ou simplesmente Kal, 58, acaba de lançar o livro “Daggers Drawn: 35 Years of Kal cartoons in The Economist”. Nele, reúne mais de 300 desenhos premiados, entre caricaturas e charges, nos quais aponta sua pena para muitas das personalidades que passaram pelas páginas da revista britânica nos últimos 35 anos, de Fidel Castro e Margaret Thatcher a Obama e Kim Jong-un. Em meio à divulgação do novo livro, Kal falou à revista InfoMoney:

IM – Quando você começou a desenhar para a Economist?

KAL – Comecei em abril de 1978. Na época, era jogador de basquete semiprofissional na Inglaterra. Como a equipe estava passando por dificuldades financeiras, pensei em usar minhas habilidades de desenhista para fazer caricaturas de turistas nas ruas de Londres. Comecei também a visitar jornais britânicos e revistas à procura de trabalho. A Economist foi a minha última parada.

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IM – Quanto tempo você leva para desenhar uma charge para a revista?

KAL – Levo um dia inteiro para fazer minhas charges editoriais e dois para criar uma capa. Uso antigas pontas de caneta de tinta, algumas com mais de cem anos, para aplicar a tinta, o que demanda tempo; em seguida, escaneio a arte e envio por e-mail para o escritório da Economist em Londres.

IM – Quem decide o tema da charge?

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KAL – Inicialmente envio um rascunho a lápis sobre o assunto que quero abordar naquela semana. Na maioria das vezes, os editores ficam satisfeitos. Por causa do meu relacionamento de longa data com a Economist, criamos uma relação de muita confiança, o que me permite criar com uma boa dose de liberdade.

IM – Você já desenhou alguma personalidade brasileira?

KAL – O Lula está no livro, mas ainda falta desenhar a Dilma, embora eu goste muito dos desenhos dela feitos pelos cartunistas brasileiros.

IM – Qual foi o cartoon mais engraçado que você já fez?

KAL – Um dos meus favoritos é uma capa da Economist que fiz sobre o mercado de ações [foto]. É um dos meus mais populares também. Todo mês, há 20 anos, recebo pedidos de editoras, revistas e corretores para reproduzi-lo. Acho que realmente capturou a essência da loucura da bolsa.

IM – Quais são as suas principais influências?

KAL – São tantas… Minha primeira influência foi [o cartunista] Dr. Seuss (1904-1991), ainda tenho alguns de seus livros em minha coleção. Mais tarde, Honoré Daumier [artista francês do século 19], David Low (1891-1963), David Levine (1926-2009) e o australiano Pat Oliphant. Mas os cartunistas que mais admiro são aqueles que trabalham em países onde a liberdade de expressão está ameaçada. Infelizmente, hoje há cartunistas que correm o risco de serem presos, torturados e até assassinados por causa de seus desenhos.

IM – Você já desenhou uma saída para a crise?

KAL – Acho que haverá muitas crises ainda, especialmente enquanto a Europa se debater com questões da dívida. Acredito que ainda teremos anos difíceis pela frente. Mas, felizmente, para os cartunistas, más notícias muitas vezes significam mais material para cartoons.

IM – Que conselho você daria para os nossos leitores?

KAL – Eu não sou analista, mas posso sugerir com segurança que invistam em cartoons. À medida que os jornais e as revistas vão perdendo espaço para os meios digitais, haverá cada vez menos trabalhos de cartunistas na mídia tradicional de tinta e papel. O trabalho que está sendo produzido hoje, em breve, será artigo raro no mercado. Logo, invistam em cartoons!

(Entrevista originalmente publicada na revista InfoMoney n.º 45.)