Como investir com a Selic ainda em 13,75%? Papéis de inflação sobressaem e pós-fixados valem no curto prazo

Ativos de crédito privado isentos de Imposto de Renda ganham destaque, mas especialistas alertam para os riscos de inadimplência e qualidade dos emissores

Katherine Rivas

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Pela quinta reunião seguida, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por manter a Selic em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (22) – apesar da quebra recente de bancos no exterior e do receio do mercado quanto à possibilidade de uma crise de crédito no Brasil.

A visão dos agentes de mercado é que a economia brasileira deve enfrentar incerteza e dificuldade nos próximos meses. Se, por um lado, os núcleos de inflação estão voltando a acelerar, o que demandaria nova alta nos juros para conter os preços, por outro existe uma forte pressão do governo para que a Selic comece a cair.

O resultado desta queda de braço tem sido juros estacionados em um patamar elevado por mais tempo, dado o risco de a inflação avançar, explica Marília Fontes, economista e sócia-fundadora da Nord Research. Segundo ela, um cenário semelhante foi visto em 2012, durante o governo de Dilma Rousseff, quando o Banco Central forçou a queda da Selic com a inflação ainda subindo.

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Não seria uma situação favorável para a economia – e, por isso, muitos agentes financeiros só acreditam em redução dos juros a partir de novembro ou apenas em 2024.

Uma mudança de direção seria possível se fosse apresentado pelo governo um novo arcabouço fiscal – regra para controle dos gastos públicos – crível. Mas a divulgação do plano ficou para abril.

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Diante deste cenário, os ativos indexados à inflação estão ganhando cada vez mais espaço entre as recomendações de investimento. Há, no entanto, quem prefira uma diversificação de carteira com papéis pós-fixados (que acompanham o rendimento da Selic ou da taxa do CDI) para o curto prazo, deixando os ativos indexados à inflação para o médio e longo prazos.

Para os investidores de perfil mais arrojado, algumas casas recomendam uma alocação tática em papéis prefixados de médio prazo, com o intuito de vendê-los antes do vencimento para obter ganhos de capital devido à marcação a mercado. Confira abaixo a visão dos especialistas consultados pelo InfoMoney:

Títulos públicos

Nos títulos do Tesouro Direto, a preferência de Marília, da Nord, é pelo Tesouro IPCA+ de qualquer vencimento. A especialista lembra que em cenários de juros estáveis e inflação elevada, a taxa real dos títulos tende a cair, levando o preço dos papéis a subir e beneficiando o investidor.

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A economista não vê com bons olhos o Tesouro Selic (que é pós-fixado) e nem o Tesouro Prefixado, porque acredita que o aumento da inflação pode consumir os possíveis ganhos destes títulos. “Se as taxas de longo prazo subissem diante de um corte de juros, o prefixado sofreria marcação a mercado”, explica. No caso do Tesouro Selic, a recomendação é usá-lo apenas para reserva de emergência ou caixa.

Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante, tem uma estratégia diferente em alguns pontos. Para ele, o Tesouro Selic 2026 e 2029 deve ser utilizado como veículo de investimento para quem deseje resgatar o dinheiro em no máximo dois anos. Já para um horizonte de até cinco anos, os títulos de inflação têm potencial – mas seu conselho é procurar vencimentos menores dos que os oferecidos no Tesouro Direto, onde o prazo mais curto é 2029.

“Se os investidores conseguirem achar vencimentos mais curtos nas corretoras, entre 2026 e 2027, ficarão menos expostos à volatilidade”, destaca. O investimento no Tesouro IPCA+ tem a função tanto de proteger a carteira quanto de oferecer ganho de capital no cenário atual, segundo o analista.

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Já para o investidor arrojado, que busca lucrar com uma possível queda dos juros no médio prazo, Yamamoto recomenda os prefixados, desde que não sejam levados até o vencimento. O título que se encaixa melhor nessa estratégia é o Tesouro Prefixado 2026, aponta.

Títulos bancários

Para quem pretende carregar o ativo até o vencimento e quer evitar a volatilidade das taxas, Yamamoto aconselha investir em CDBs (Certificado de Depósito Bancário) com taxas a partir de 13% ou 14% e vencimento em dois ou três anos.

Leonardo Siqueira, superintendente de investimentos do Santander, enxerga com bons olhos os ativos isentos e pós-fixados, como LCIs e LCAs (letra de crédito imobiliário e do agronegócio), além das LIGs (Letra Imobiliária Garantida). O ideal é buscar taxas a partir de 90% do CDI.

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“Se o investidor não for mexer no recurso, pode travar vencimentos mais longos, mas é importante ter ativos líquidos para aproveitar oportunidades”, diz. Embora a visão do Santander seja neutra para prefixados, Siqueira explica que pelo menos 30% das letras procuradas pelos investidores da casa são desse tipo.

Crédito privado

Ativos de dívida corporativa como debêntures incentivadas, CRIs e CRAs (certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio), isentos de Imposto de Renda e atrelados à inflação, estão ganhando atratividade. Mas especialistas recomendam atenção redobrada com o risco de crédito e a escolha de boas empresas emissoras.

Marília, da Nord, aconselha comparar os retornos com os do Tesouro IPCA+, que atualmente oferece remuneração acima de 6% ao ano em quase todos os vencimentos, mais a variação da inflação. A lógica, segundo a economista, é que os bons CRIs ou CRAs entreguem taxas maiores – de 7,5%, por exemplo.

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Siqueira reforça, contudo, que não é a taxa oferecida o mais relevante – e, sim, a qualidade do emissor e o risco de crédito. “Tem debêntures pagando IPCA mais 18% ao ano, mas o risco é muito grande. Há empresas que não estão indo bem e pagando taxas elevadas”, alerta.

Para o especialista, vale mais a escolha de bons emissores de dívida em ativos que paguem acima da inflação ou pelo menos 1 ponto percentual acima do Tesouro IPCA+.

Marília destaca que debêntures do setor de concessões devem ser evitadas, incluindo empresas rodoviárias e metroviárias. “Elas são mais dependentes da atividade econômica do País, e não da empresa. O investidor precisa tomar cuidado”, diz.

Os especialistas lembram que, embora sejam boas alternativas para usufruir do cenário atual, os títulos de crédito privado tendem a ser mais voláteis e o investidor deve estar preparado para essas oscilações.

Fundos de investimento

Para quem não se sente pronto para lidar diretamente com as mudanças do mercado e o risco dos ativos, os especialistas recomendam o investimento via fundos, delegando a função de acompanhar os papéis aos gestores.

Yamamoto, da Levante, vê potencial em fundos de renda fixa, principalmente os que seguem índices Anbima de inflação. É o caso da família IMA-B, que reúne uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação. Sua preferência é pelo IMA-B 5 P2, composto por papéis de inflação com vencimentos em até cinco anos.

Ele também indica fundos que tenham como benchmark (referência) o índice IRF-M P2, uma cesta de títulos prefixados de diversos vencimentos.

No Santander, a preferência é por fundos de infraestrutura, que investem em CRIs, CRAs e debêntures e reúnem mais de 50 papéis. Segundo Siqueira, isso minimiza os riscos e ajuda a maximizar os ganhos com a diversificação de vencimentos. “Estes fundos entregam 1% acima dos títulos públicos e são isentos”, diz Siqueira.

O Santander também sugere investir em fundos multimercados do tipo “multigestão”, replicando estratégias de outros gestores.

Fundos imobiliários

Com o crescimento dos CRIs, os juros elevados e a indexação à inflação, o que também pode entrar na carteira são os fundos imobiliários de “papel”. Maria Fernanda Violatti, analista da XP, explica que este tipo de FIIs – que não investem diretamente em imóveis, e, sim, em títulos de renda fixa ligados ao mercado imobiliário – podem pagar dividendos elevados, especialmente os que compram papéis atrelados ao CDI. Os que investem em papéis indexados à inflação se encontram descontados e também podem se beneficiar.

Já os fundos de “tijolo” devem sofrer enquanto a Selic continuar elevada, com queda no preço das cotas. Contudo, segundo a analista, isso pode ser uma oportunidade de investir pensando no longo prazo. “O investidor deve diversificar em fundos de ‘papel’ para se beneficiar dos dividendos elevados e em fundos de ‘tijolo’ para usufruir do ganho de capital no longo prazo”, aconselha.

No “tijolo”, Giuseppe Galante, head de real estate da Ouro Preto Investimentos, vê oportunidades em lajes corporativas e desenvolvimento residencial, principalmente nos relacionados a imóveis de médio e alto padrão.

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Na bolsa de valores

Quando o assunto são as ações, analistas destacam como os preços estão “absurdamente baratos” e podem representar uma oportunidade para o investidor focado no longo prazo. A recomendação é começar pelos papéis com foco em dividendos, para segurar os solavancos do mercado.

Segundo Vicente Guimarães, CEO da VG Research, setores considerados perenes – como bancos, elétricas, saneamento, saúde e seguros – apresentam ações com elevado potencial de valorização e, por enquanto, dividendos de dois dígitos. “A estratégia de investir em ações de dividendos se mostra vencedora e lucrativa no longo prazo”, diz.

Para Guimarães, o único setor que não está descontado na Bolsa é o de aço e commodities. Para os mais arrojados, já pensando na valorização, ele cita que há ações baratas nos segmentos de varejo e de construtoras – mas só para quem for capaz de escolher boas empresas e manter o investimento por vários anos, já que ambos os setores têm sofrido com os juros altos.

“Outra oportunidade é a ação do Bradesco (BBDC4), um banco sólido, renomado, com receitas crescentes há mais de uma década e que nunca teve suas ações negociando a um preço tão baixo”, diz.

Para Hugo Queiroz, sócio-fundador do Hub do Valuation, o desempenho das ações vai depender de quanto tempo falta para a Selic começar a cair. Se os juros recuarem até novembro, as melhores oportunidades, em sua visão, estão nos segmentos de varejo, indústria e utilities (empresas de serviços públicos), como energia, telecomunicações, saneamento e concessões.

Já se os juros continuarem elevados, ele vê boas opções entre as empresas exportadoras, com receita dolarizada. As utilities também poderiam se beneficiar, por serem consideradas defensivas.

Algumas ações citadas por Queiroz são Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3), Kepler Weber (KEPL3), CSN Mineração (CMIN3), Lojas Renner (LREN3), Track & Field (TFCO4), Soma (SOMA3), Vivara (VIVA3), Romi (ROMI3), Tupy (TUPY3), Eztec (EZTC3), Plano e Plano (PLPL3); nos segmentos defensivos, Eletrobras (ELET6) e Sabesp (SBSP3).

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.