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Os desafios da mitigação das mudanças climáticas e da adaptação das economias a uma nova realidade ambiental vão demandar investimentos globais de cerca de US$ 90 trilhões até 2030, de acordo com relatório da Global Commission on the Economy and Climate (SEI). O aporte, direcionado principalmente à área de energia sustentável, deve abrir muitas oportunidades em projetos no Brasil, incluindo novos ativos para as carteiras de longo prazo dos investidores.
Os investimentos em infraestrutura no Brasil ainda são muito baixos se comparados à realidade internacional, não passando de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Na opinião de Rodrigo Rocha, sócio da Vinci Partners, a necessária modernização da infraestrutura do País demandaria um volume de 1,8 a 2 vezes maior.
“Ainda falta muito investimento, e são muitas as oportunidades, em áreas como energia, transporte, saneamento, telecomunicações”, destacou durante painel na Expert XP 2023, na última semana. Segundo ele, o ponto agora é que toda a infraestrutura que vai ser implantada daqui em diante precisa ter o viés da sustentabilidade.
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Rocha lembra que um relatório da consultoria McKinsey constatou que serão necessários US$ 20 trilhões para descarbonização da economia da América Latina, sendo US$ 7 trilhões apenas para o Brasil. Nesse processo, estão incluídos os segmentos de mobilidade, agricultura, energia, construção, combustíveis fósseis, hidrogênio e biocombustíveis, florestas, indústria, entre outros.
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Da perspectiva dos investimentos, ele vê condições de o Brasil atrair capital global para a transição, à medida que o risco climático é problema do mundo todo, e não apenas do País. “Com isso, é possível atrair capital internacional para modernização da infraestrutura brasileira”, afirmou, ressaltando que existem oportunidades tanto em setores que contribuem para a mitigação das mudanças climáticas quanto naqueles ligados à adaptação da economia aos efeitos que já são irreversíveis.
Por isso, a Vinci tem feito investimentos com foco em geração renovável de energia (matrizes solar e eólica e pequenas centrais hidrelétricas), água e saneamento, e aplicações de tecnologias verdes na infraestrutura (eficiência, baterias, biogás e hidrogênio verde). No caso da água, a tese considera o potencial do mercado diante de uma realidade em que 100 milhões de pessoas não têm acesso a água potável no Brasil e 40% da água tratada é perdida antes de chegar à população.
“Essa tese é abrangente, com muitas oportunidades no Brasil”, disse. Para fazer os investimentos, a gestora adota duas condições elegibilidade para cada ativo: potencial de retorno e capacidade de demonstrar que tem impacto positivo para o clima.
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Os investidores interessados em exposição à criação e aprimoramento da infraestrutura sustentável podem escolher entre vários canais para investir: fundos, compra direta de ações de empresas listadas, aquisição de títulos de dívida (as empresas do setor de infraestrutura normalmente tomam dinheiro no mercado, inclusive via debêntures incentivadas, com isenção fiscal para o investidor pessoa física), fundos de investimento em infraestrutura (FIPs-IE) e fundos de crédito em infraestrutura.
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Energia renovável
Na transição para a economia de baixo carbono, o segmento de energia renovável é considerado um mar de oportunidades de investimento.
O Brasil é abençoado nesse sentido. O nível de irradiação solar na pior área do Brasil é melhor do que na melhor área da Alemanha. Um dólar investido nesse tipo de energia na Europa por aqui poderia render de três a quatro vezes mais. A eficiência para cada dólar investido no Brasil é imbatível. E ainda temos biomassa de cana-de-açúcar e etanol de segunda geração
Rodrigo Rocha, sócio da Vinci Partners
Para Eddie Corrochano, sócio-fundador da Newave Capital, a transição energética não é uma tendência, mas uma realidade. “Cerca de 75% dos novos investimentos em energia hoje estão em eólica e solar. A energia renovável neste ano alcança US$ 1 trilhão em investimentos. Só em hidrogênio verde são US$ 300 bilhões por ano”, ressaltou.
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O Brasil está bem posicionado nesse processo, já que tem 85% de sua matriz energética limpa, contra média mundial de 30%, além de ventos e irradiação invejáveis.
Conforme uma legislação já aprovada, a partir de 2027, a Europa vai medir carbono em todas as importações de produtos e vão taxar o que não estiver descarbonizado. A agenda da energia limpa, portanto, interessa a todos os países que vendem para os europeus.
Corrochano citou, ainda, a importância da energia renovável para sustentar a capacidade de processamento de dados demandada pelas novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial. Isso porque esse processamento depende de grandes servidores, que consomem uma enorme quantidade de energia. Segundo o especialista, hoje as empresas já requerem data centers abastecidos por energia limpa e a estimativa é de que esse segmento vai girar US$ 600 bilhões em cinco anos apenas com inteligência artificial.
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No Brasil, outra novidade no setor de energia é a abertura do mercado. A partir de 2024, consumidores que hoje são obrigados a comprar energia de distribuidoras poderão adquirir essa energia de outras empresas, no mercado livre.
Hoje, dos 90 milhões de consumidores, apenas 30 mil empresas têm essa possibilidade. Os fornecedores do mercado livre poderão ofertar energia limpa, o que vai beneficiar empresas consumidoras interessadas em descarbonizar suas operações.
Transportes e logística
Outro segmento de destaque é o de concessões de transportes — incluindo rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. “Em termos de infraestrutura, no Brasil tudo ainda está para ser feito, tanto que o governo acaba de lançar o PAC 3, que envolve R$ 1,3 trilhão em investimentos. O pipeline é muito robusto”, diz Tulio Machado, responsável por infraestrutura na XP.
A indústria é mais uma área relevante, principalmente no processo de substituição da matriz da fonte primária de energia (calor) para a produção de combustíveis fósseis líquidos ou gasosos para gás verde, como hidrogênio verde (obtido por um processo conhecido como eletrólise) ou biometano (obtido de resíduos sólidos ou vindos do agronegócio).
Rocha ressaltou que, no caso do hidrogênio verde, o Brasil inclusive poderia deixar de apenas exportá-lo como commodity, produzindo localmente aço verde para vender para outros países, e exportando um excedente de amônia, que é matéria-prima de fertilizantes.
Na avaliação de Guilherme Souza, sócio da Vinci, o BNDES deve ter o papel de indutor da agenda sustentável. Em 2022, o banco de fomento destinou R$ 2,5 bilhões a cinco fundos de infraestrutura, sendo R$ 500 milhões para um da Vinci focado em mudança climática.
“Agora o BNDES se alinhou à vanguarda global, com atuação em conjunto com outros bancos e desenvolvimento para a indução de novos mercados e novos atores”, diz Souza. Segundo ele, o dinheiro que o BNDES investe no novo modelo alavanca novas captações para os fundos, num efeito multiplicador.
“Depois do comprometimento do BNDES, outros investidores se sentem motivados porque a tese já passou pelo crivo do maior investidor institucional do país”, afirma Souza. “Quando o BNDES dá respaldo a um tema novo, como é o da mudança climática, os investidores sabem que não se trata de greenwashing. E isso é muito importante para o mercado”, acrescenta Rocha.
Para o médio prazo, a Vinci vê novas oportunidades para a infraestrutura sustentável com o esboço de um mercado regulado de carbono no Brasil e com as aplicações de tecnologia verde. “Vemos que muitas empresas têm se comprometido em ser net zero, até por pressão da sociedade, então a tese das tecnologias verdes abre muitas possibilidades”, diz Rocha.