Ibovespa ficou caro? Confira as ações preferidas de gestores de valor na Bolsa

Confira por que investidores inspirados em Warren Buffett estão apostando em papéis como os de Camil, Panvel, Movida, Arezzo e Sul América

Pedro Ladislau Leite

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SÃO PAULO – Há diversos estilos de investimento no mercado de ações. Dos mais “oportunistas”, que não precisam achar uma empresa-modelo para se tornar sócio, até os mais fundamentalistas, que seguram o papel na alegria e na tristeza, existem dezenas de abordagens possíveis.

Na prática, claro, há uma mistura de filosofias empregadas na decisão dos gestores. Entre os “value investors”, adeptos da filosofia do megainvestidor Warren Buffett, o mantra é buscar empresas que estejam sendo negociadas a um preço menor do que a qualidade intrínseca da companhia.

Essas análises não são simples, exigem uma avaliação criteriosa dos números da empresa. O trabalho desafia até mesmo profissionais experientes, já que os preços dos papéis refletem expectativas e fatores intangíveis, como a qualidade de gestão da companhia.

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Para saber onde estão as oportunidades de ganhos mais explosivas segundo esses gestores – em um contexto em que o Ibovespa sobe desde 2016, com valorização de 23% apenas em 2019 –, o InfoMoney acompanhou o congresso “Value Investing Brasil”, realizado nesta sexta-feira (1º), no qual apostas em ações do tipo “small caps” (com menor capitalização na Bolsa) ganharam relevância. Confira a seguir alguns dos papéis selecionados pelos gestores de casas como Neo Investimentos, Perfin, SulAmérica e Santander, presentes no evento.

Camil (CAML3)

A empresa especializada no mercado de arroz e feijão entrou este ano no enxuto portfólio do fundo de ações da Neo Investimentos – hoje são apenas quatro papéis na carteira. Sócio da Neo, Henrique Teixeira Alves afirma que o trunfo da empresa é uma possível consolidação no mercado brasileiro, que alavancaria a eficiência da companhia.

Outro ponto forte é a possibilidade de lançar novos produtos similares no mercado de alimentos. “Olhamos 70 empresas para chegar a quatro. Preferimos essa abordagem porque não dependemos tanto do ciclo de crescimento”, disse o gestor, listando as oportunidades que surgem para algumas empresas nos ciclos de retração da economia, como conseguir manter a clientes em momentos em que eles priorizam produtos ou serviços de qualidade, e sofrer menor concorrência de empresas financeiramente mais frágeis.

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CPFL Energia (CPFE3)

Para Daniel Gewehr, do Santander, quem esperar o aumento do PIB para entrar na Bolsa deve perder um bom pedaço das valorizações. E esse deve ser o caso dos investidores estrangeiros, diz ele, ressaltando que as empresas reduziram suas dívidas e contarão com uma alavancagem operacional, isto é, não precisarão de grandes investimentos para aumentar suas receitas.

Mas, para além dos setores relacionados à retomada do consumo, ele destaca a CPFL Energia como uma empresa que apresenta bom potencial de retorno. “Energia vai ser o principal problema [de infraestrutura] na retomada do crescimento, já tivemos apagão antes”, disse, acrescentando que, fora da filosofia de value investing, a empresa deve entrar em alguns índices de ações, o que elevaria a cotação dos papéis.

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SulAmérica (SULA11)

Outra oportunidade apontada por Gewehr está no setor de saúde, em que ele destaca a SulAmérica. “Com o envelhecimento da população, o setor de saúde é a China brasileira”, afirma. “Tem uma discussão sobre se a SulAmérica é mais uma seguradora que está cara ou uma empresa de saúde que está barata. Achamos que é a segunda opção.”

Ele ainda destaca que a SulAmérica vendeu seu segmento de automóveis para a alemã Allianz, por R$ 3 bilhões, para concentrar seus negócios no ramo de saúde. “Ao tirar carros da equação, ela vai ter 20% de retorno sobre patrimônio. Além disso, os empregos formais estão melhorando, o que pode surpreender no crescimento de volume no próximo ciclo”, diz

Cesp (CESP3)

Recentemente privatizada, a Cesp é uma das apostas de Ralph Rosenberg, gestor da Perfin Investimentos, que enxerga a nova gestão, encabeçada pelo consórcio entre Votorantim e um fundo de pensão canadense, como um dos responsáveis pelo potencial de ganho com as ações. “Vai ser um player para além da geração hídrica, com a parte eólica e de transmissão. Certamente vai ser uma das empresas líderes de energia no Brasil.”

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Panvel (PNVL3)

A compra pela Kinea de 10,5% do capital total da Dimed, dona das drogarias Panvel, sinaliza uma mudança de governança que pode render bons ganhos, afirma João Saldanha, gestor de portfólio dos fundos da SulAmérica Investimentos.

“É a maior cadeia de farmácias do Sul, mas negocia pouco hoje. Operou com um bom retorno durante a crise, seguiu com seu projeto de expansão”, ressalta Saldanha. Ele explica que o ingresso da Kinea indica uma provável captação, que aumentaria a liquidez dos papéis. “Aí o jogo muda para o investidor, com uma oportunidade de dobrar de valor em até 18 meses”, prevê.

Movida (MOVI3)

O setor de locação de veículos também ganhou destaque no evento. “Se existisse, eu compraria um ETF das três locadoras de automóveis”, afirmou Saldanha, da SulAmérica. “Trouxeram uma massa de consumidores que não podiam pensar em alugar um carro, e a queda das tarifas deu acesso a uma classe C”, diz.

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Entre as opções do mercado, o gestor escolhe Movida, do grupo JSL. “É a que tem mais distorção em oportunidade de crescimento. A venda de seminovos é importante para o negócio, gira os ativos muito rápido, ajuda a administrar a depreciação. É uma empresa que está sendo negociada a 15 vezes o lucro, quando o benchmark [Localiza] é 26 vezes. Na minha opinião, não faz sentido uma empresa negociar com um desconto desse.”

Arezzo (ARZZ3)

Um modelo de negócio de franquias que não demanda grandes investimentos e bem posicionado para enfrentar a disrupção do e-commerce no setor de varejo. Para Rosenberg, da Perfin, essa é a avaliação que dá aos papéis da Arezzo um grande potencial de valorização. “É uma marca que todos conhecem e que vem trabalhando em uma internacionalização, que é o grande ponto de interrogação”, conta.

Rosenberg espera que a empresa deixe de “queimar caixa” no quarto trimestre. “Se de fato acabar acontecendo uma melhora na operação nos Estados Unidos (principalmente da marca Schutz), seria uma avenida de crescimento, que hoje é mal precificado. Assim como a Renner, é uma empresa mais estruturada para o e-commrece.”

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Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.