Guru dos emergentes, Mobius se diz decepcionado com Brasil, mas mantém quatro ações na carteira

Lojas Americanas, B2W, Yduqs e Fleury lideram as preferências do gestor; apesar de olhar cauteloso, Brasil responde por segundo maior peso de seu fundo

Mariana Zonta d'Ávila

(Piotr Malecki/Getty Images)

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SÃO PAULO – Diante de uma economia mais enfraquecida, com alta da inflação e piora da visão sobre o quadro fiscal, o receio dos investidores não tem escapado sequer a um dos gestores mais entusiastas de Brasil: Mark Mobius, conhecido por sua dedicação aos mercados emergentes.

“Temos acompanhado [a situação de perto] e com bastante cautela”, afirmou o fundador da Mobius Capital Partners e ex-Franklin Templeton, em entrevista feita por telefone ao InfoMoney.

O Brasil responde hoje pela segunda maior posição no portfólio da casa, com peso de 13,2% (abaixo dos 18% de abril) e nomes como Lojas Americanas (LAME4), B2W (BTOW3), Yduqs (YDUQ3) e Fleury (FLRY3) estão entre os preferidos na Bolsa.

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Antes de a pandemia de coronavírus se alastrar, a China liderava as escolhas de Mobius, mas a crise afetou o país e pesou especialmente sobre a posição em consumo no país, que acabou revertida no período.

Com isso, o país asiático passou a deter a quarta maior posição do portfólio (com 12,9% de peso) e a Índia assumiu a liderança, em termos regionais, com 22,8% de participação. A Coreia do Sul aparece em terceiro lugar, com fatia de 13,1%.

Entre os setores, as maiores posições recaem sobre companhias de tecnologia (30,8%), consumo discricionário (18,8%), saúde (16,7%), indústria (13,3%) e serviços de telecomunicações (8,9%).

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Sem grandes alterações no portfólio após o ápice da crise, entre março e abril, Mobius diz seguir posicionado em ouro e defende que todo investidor deve ter o metal precioso na carteira, principalmente em um cenário de depreciação das moedas globais, como o atual.

Atualmente em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e sem conseguir voltar para sua casa, em Singapura, por conta de medidas de isolamento, o gestor aproveitou os últimos meses para conhecer diferentes negócios ao redor da Europa.

Desde a última conversa com o InfoMoney, realizada em abril, Mobius passou cem dias em Munique, na Alemanha, e seguiu para Itália, Portugal e Grécia.

Durante a entrevista, o gestor voltou a tecer críticas às medidas de isolamento social adotadas por governos ao redor do mundo, abordou os impactos da pandemia sobre seus negócios e contou o que espera de repercussão do resultado das eleições americanas entre os emergentes.

Confira a seguir alguns dos principais trechos da entrevista:

InfoMoney: Que mudanças o senhor fez no portfólio desde a última conversa com o InfoMoney, em abril?

Mobius: Não fizemos muita coisa, porque a maior parte dos nossos investimentos foi feita entre março e maio, que foi um bom momento para sair comprando. Mas, para além disso, não estamos girando muito nosso portfólio.

IM: Como o senhor vê o aumento da inflação e das preocupações com o risco fiscal no Brasil?

Mobius: É muito negativo que o país não esteja avançando com o programa de reformas e estamos bem decepcionados com isso. Esperamos que o governo comece a se movimentar no Congresso, que pare de travar a agenda e faça o que precisa ser feito para avançar com as reformas. Caso contrário, não será bom para o país. É algo que temos acompanhado de perto e com bastante cautela.

IM: O senhor vê oportunidades na Bolsa brasileira? Quais são suas principais posições hoje?

Mobius: Sim, sempre tem oportunidade no Brasil, só depende de quando. A chave é escolher os lugares certos. Temos hoje B2W, Lojas Americanas, Yduqs e Fleury, que são empresas, com modelos de negócios flexíveis, robustos e desafiadores, que se beneficiam do avanço do e-commerce e da tecnologia na região.

IM: Como o senhor analisa a recuperação da China e o impacto sobre o mercado de commodities?

Mobius: A China está de volta aos trilhos e praticamente já superou o problema da Covid-19. O país está retomando a economia e deve aumentar o consumo de commodities daqui para frente, o que deve contribuir para a alta dos preços. Mas isso vai levar um tempo, claro, não será da noite para o dia.

IM: De que forma o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos afeta os mercados emergentes?

Mobius: Se o Trump não ganhar e Biden sair vitorioso, acredito que o mercado americano não receberá bem a notícia, porque as pessoas esperam que o Biden aumente drasticamente os impostos, o que não será bom para o mercado financeiro. Isso vai se refletir sobre o restante do mundo, porque o que acontece nos EUA é seguido nos outros países. Então espero que o Trump vença, mas isso não é uma previsão.

IM: O senhor costuma viajar muito para reuniões de negócios. Como a pandemia mudou sua dinâmica do trabalho e quais adaptações foram necessárias para essa nova realidade?

Mark Mobius: Sim, mudou bastante a dinâmica. Estou acostumado a entrar em um avião e viajar para qualquer lugar do mundo. Não temos mais a flexibilidade de visitar companhias como gostaríamos e fazíamos antes. Quero viajar para Turquia, África do Sul e diferentes lugares da Ásia, onde temos negócios, então isso tem sido um problema. É claro que temos teleconferências, mas é diferente. E a pandemia não só atrapalha a forma como trabalhamos, como cria um cenário muito ruim para os negócios. Os negócios não conseguem operar propriamente, então temos que ter muito cuidado ao calibrar o impacto dos lockdowns por conta da Covid-19 em companhias que investimos.

IM: O senhor comentou que viajou para diferentes países da Europa nos últimos meses. Como estava a situação na região?

Mobius: Na Alemanha, as coisas estavam bem, pareciam normais. Acho que os alemães são mais práticos nesse sentido, mas tenho que reconhecer que estamos agora em uma situação em que, se houver um aumento no medo da população com a doença e uma segunda onda, seria muito negativo para todos.

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