Gestores desconfiam de bolsas perto do recorde nos EUA

Embora S&P 500 tenha subido mais de 50% desde a mínima do ano, retomada ocorreu com taxa de desemprego em dois dígitos e governo lutando contra Covid-19

Bloomberg

(Bloomberg) — Alguns dos maiores gestores de recursos estão instigados pelo mesmo paradoxo que incomoda tanta gente: as bolsas dos EUA estão perto do maior nível histórico, mas o mundo ainda parece estar se desmantelando.

Inúmeras ameaças iminentes podem causar uma freada brusca na escalada das bolsas americanas, acreditam gestores de fundos de hedge e fundos mútuos. Entre elas estão a incerteza sobre a reabertura das escolas, as eleições em novembro, tensões com a China e o efeito da política monetária sobre a inflação.

Embora o S&P 500 tenha subido mais de 50% desde a mínima atingida em março, a retomada ocorreu mesmo com a taxa de desemprego em dois dígitos e o governo federal lutando para conter a Covid-19. O avanço das bolsas também elevou a relação preço/lucro do índice para 26, comparado a uma média de 18 na última década. Por isso, alguns participantes do mercado não querem chamar o movimento de recuperação.

“Existe uma grande desconexão entre os fundamentos e os mercados”, disse Brian Payne, diretor de investimentos do sistema previdenciário dos professores do estado de Illinois. “Há muito capital perseguindo os investimentos, o banco central americano está inundando os mercados e essa alavancagem não está chegando na economia real. Conforme nos aproximamos da eleição e aumentam as preocupações com uma grande vitória do Partido Democrata, isso poderia ser o ponto de inflexão no qual o otimismo se transforma em pessimismo.”

O fundo de hedge multibilionário de Chris Rokos está moderadamente otimista para o curto prazo, mas espera volatilidade à frente, considerando que o mercado subestima o potencial para movimentos maiores nos próximos dois meses.

É fato que previsões sombrias têm sido feitas há meses. Em 12 de maio, durante webcast realizado pelo Clube de Economia de Nova York, Stan Druckenmiller declarou que a equação entre risco e retorno das ações era a pior vista durante toda a sua carreira. O S&P 500 subiu 18% desde então e Druckenmiller disse mais tarde que foi “cauteloso demais”.

Com a velocidade da recuperação das bolsas, o medo de não aproveitar a oportunidade de ganhos ficou particularmente grande este ano, forçando gestores de fundos a se afastar de aplicações seguras de curtíssimo prazo e entrar em posições que demonstram otimismo em níveis históricos.

Ainda assim, vários gestores famosos estão soando o alarme. Com as crianças tendo aulas online, o impacto para os pais pode “ser tão perturbador para o mercado de trabalho quanto uma recessão de pequeno ou médio porte” porque eles podem ser forçados a reduzir a carga horária ou pedir demissão, afirmou o fundo de hedge britânico Brevan Howard Asset Management em nota enviada a clientes este mês.

“Os investidores precisam adicionar a situação das escolas ao seu painel regular de indicadores econômicos”, disse Brevan Howard. “O que está acontecendo com a educação tem potencial para ser tão importante quanto qualquer outra métrica.”

Além disso, há a corrida por uma vacina. É possível que o desenvolvimento de uma vacina confiável demore mais que o esperado ou que parte da população não queira se imunizar, disse Roger Aliaga-Diaz, economista-chefe para as Américas da Vanguard Group.

A expectativa do mercado é que a vacina saia até o final do ano, “mas a produção e distribuição podem vir muito mais tarde do que as pessoas pensam”, alertou ele. “Isso seria uma surpresa negativa.”

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