Gestoras substituem bancos com oferta de fundos que permitem lucrar com empréstimos a PMEs e pessoas físicas

Captalys, Quasar e Riza estão entre as poucas gestoras brasileiras que atuam nesse segmento alternativo de crédito privado no país

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Em momentos de depressão econômica, normalmente quem mais sofre são os negócios de pequeno e médio porte. As dívidas começam a se acumular, ao mesmo tempo em que o acesso a financiamentos em bancos fica cada vez mais difícil.

De olho em bons negócios que, por não terem escala, não conseguem empréstimos para se manter no azul na hora do aperto, gestores passaram a atuar com uma modalidade ainda pouco explorada no mercado local.

Chamada de direct lending, o termo significa “empréstimo direto”, em tradução livre. E como o próprio nome já diz, nesse caso, quem prospecta o tomador, analisa o risco e fornece o crédito é uma gestora de recursos, e não um banco.

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No Brasil, a Captalys e a Riza oferecem acesso a operações de direct lending por meio de fundos multimercado para investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras), com tíquetes a partir de R$ 5 mil.

Ambos os fundos estão abertos para captação. Pelas características dos produtos, é preciso, contudo, se atentar para os prazos de resgate, de D+119 e D+180, respectivamente.

Na Quasar, o fundo de direct lending, de 2018, foi fechado para novas aplicações e resgates por um período de seis anos (até 2024) e é destinado apenas para investidores profissionais (com mais de R$ 10 milhões em aplicações).

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Entre as grandes assets globais que atuam com a modalidade, estão nomes como a GSO, braço de crédito da Blackstone, com US$ 135 bilhões sob gestão, e a Ares Management, com cerca de US$ 170 bilhões em direct lending, private equity e no setor imobiliário.

Trata-se de um investimento estruturado com maior nível de risco, já que é o próprio gestor quem assume a responsabilidade por uma eventual inadimplência.

Em alguns casos, o atraso no pagamento das dívidas é coberto por garantias concedidas pelo tomador do empréstimo, mas não é uma regra para todas as operações de direct lending do mercado.

Ao assumir a responsabilidade de encontrar uma empresa, ou pessoa física, com capacidade de honrar uma dívida no futuro com os juros devidos, a remuneração que normalmente cabe ao banco por esse trabalho, e ao distribuidor do título de crédito, é revertida para dentro da carteira.

Fontes: Captalys, Quasar, Riza

Por conta disso, e por atuarem com empresas de menor porte, portanto com mais risco, a rentabilidade almejada pelos fundos de direct lending tende a oscilar dentro de uma banda entre 4% a 6% ao ano, além do CDI.

Com a Selic na mínima histórica, trata-se de um investimento estruturado de perfil alternativo, que, da mesma forma que similares, como private equity e ativos estressados, começa a ganhar espaço entre os investidores de alto poderio financeiro.

No entanto, como estabelece a regra, em nome da expectativa de uma rentabilidade mais alta, o investidor precisa abrir mão da liquidez. A prudência se faz necessária. Não existe mercado secundário que ofereça liquidez para a negociação desse tipo de ativo.

Assim, os gestores precisam de tempo para encontrar os tomadores que consideram ter condições de honrar os compromissos no futuro, e para casar os pedidos de resgate com os vencimentos das dívidas.

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“Até para atender a questões regulatórias, ainda existe a bancarização, mas não tem a intermediação financeira do banco”, explica Margot Greenman, CEO da Captalys, gestora com foco exclusivo em direct lending e cerca de R$ 7 bilhões em ativos sob gestão.

As instituições financeiras tradicionais entram na jogada apenas para fazer a estruturação do título de crédito propriamente, como uma debênture, uma nota promissória ou uma Cédula de Crédito Bancário (CCB), já que a gestora não pode fazer os empréstimos por conta própria.

2021 promete

Carlos Maggioli, CEO da Quasar Asset Management, acredita que o ano de 2021 será repleto de oportunidades para os fundos de direct lending, em um momento de retomada da economia, no qual as empresas estarão sedentas por novas linhas de crédito.

“Vai faltar dinheiro no meio bancário, e é pelas empresas do middle market [médio porte], que normalmente não conseguem acessar o mercado de capitais, que surge a necessidade do fundo de direct lending.

Carlos Maggioli, CEO da Quasar Asset Management

Por ser fechado por um prazo determinado, a Quasar realizou uma oferta CVM 476, restrita ao investidor profissional, e captou cerca de R$ 500 milhões majoritariamente com o público do segmento private.

O fundo tem, no entanto, uma política de amortização que estabelece que, a partir do sexto mês de vida do produto, qualquer pagamento de juros das dívidas efetuado pelos devedores volta direto para o bolso dos investidores.

Por isso, a previsão é que, até fevereiro de 2021, metade do patrimônio já tenha sido devolvido aos cotistas.

A carteira do fundo de direct lending da Quasar tem 25 ativos de crédito, de empresas de setores diversos, como construção civil e agronegócio, e faturamento anual entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão.

“Não tivemos sequer um atraso de pagamento na pandemia”, diz Maggioli, acrescentando que as operações só são aprovadas mediante a apresentação de garantias. “O modelo se mostrou eficaz na maior crise dos últimos anos.”

Desde o início, em dezembro de 2018, o rendimento do fundo Quasar Direct Lending FI Multimercado Crédito Privado é de 12,5%, ou cerca de 150% do CDI.

A Quasar se prepara agora para captar outros R$ 500 milhões para o segundo fundo de direct lending, que Maggioli espera ter um mix entre investidores pessoa física de alta renda e institucionais. O tíquete inicial, que no primeiro foi de R$ 250 mil, será de R$ 100 mil.

A amortização será a partir do terceiro mês. E como a taxa Selic caiu bastante desde 2018, a meta de retorno, que era de 150% do CDI, será de 4% ao ano mais a variação do benchmark.

Dispersão de retorno

A Riza Asset, por sua vez, lançou no fim de março o fundo Meyenii, carro-chefe da casa classificado como um multimercado de crédito privado pelo gestor Gustavo Campos.

Pouco usual no mercado local, a carteira do Meyenii é dividida em cinco subcategorias da renda fixa privada – high yield, ou alto rendimento, direct lending, securitização, agronegócio e venture debt.

Após passar os últimos anos à frente da área de originação de crédito no Banco BBM, Campos se juntou em fevereiro ao time da Riza para ser o gestor responsável pela área de direct lending. No médio prazo, a expectativa é que a estratégia responda por cerca de 25% do risco global do portfólio do Meyenii.

Do fim de março até 30 de outubro, o fundo sobe 7,02%, com um retorno-alvo de CDI mais 4,5% a 5,5% ao ano. As operações de direct lending, contudo, têm uma dispersão de retorno bem maior do que isso, diz o gestor da Riza.

A depender da robustez financeira da empresa e das garantias, os prêmios podem se aproximar daqueles pagos por grandes companhias com selo grau de investimento.

No entanto, há casos em que as taxas facilmente ultrapassam os dois dígitos ao ano, diz o gestor, acrescentando que nem sempre as operações são feitas com garantias, o que exige um prêmio maior.

A área de direct lending da Riza já realizou 14 operações, com prazos que variam de seis meses a seis anos, sendo boa parte delas estruturadas por meio de CCBs.

As Cédulas de Crédito Bancário, instrumento financeiro normalmente utilizado pelas instituições financeiras na concessão de empréstimos a pessoas jurídicas, se beneficiaram da isenção do IOF às operações de crédito anunciada pelo governo em abril nos esforços de combate à pandemia.

Esse tipo de ativo, afirma Campos, não tem liquidez no mercado secundário. “Quem compra são os bancos, mas com muito desconto, diz o gestor da Riza, ao justificar a necessidade do prazo de resgate em 180 dias.

“Entre o namoro até vir o filho demora”, brinca o especialista, que enxerga uma “avenida de crescimento” para a desintermediação financeira do atacado por meio dos fundos de investimento. “Os bancos digitais que nasceram nos últimos anos estão muito mais voltados para o varejo.”

Crédito para PJs e PFs

Segundo a CEO da Captalys, para mitigar o risco de iliquidez, e também de mercado, já que se trata de um ativo com maior nível de risco em comparação aos títulos grau de investimento, a carteira do fundo é extremamente pulverizada, em cerca de dois milhões de dívidas.

“Temos 74 setores econômicos representados no portfólio”, afirma Margot, que reconhece que a pandemia foi o maior teste de estresse pelo qual já passou.

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A estratégia se mostrou acertada na crise. Em 2020, até outubro, o fundo Captalys Panorama FIC FIM Crédito Privado tem valorização de 5,13%, contra variação de 2,44% do CDI, segundo dados da Economatica. Desde o início, há cerca de quatro anos, o fundo sobe 52,5%, ante 31,3% do benchmark.

Um diferencial da Captalys em relação às demais é que ela oferece crédito para PMEs e também para pessoas físicas.

Para as empresas, o contato é feito pelos canais digitais próprios da gestora, e a análise dos créditos fica a cargo da fintech do grupo batizada de Tomatico, abreviação para “tomador de dinheiro automático”.

Já para as pessoas físicas, a Captalys fechou parcerias com empresas como Paypal e Easynvest, que oferecem crédito para os clientes utilizarem por meio de suas plataformas, oriundo dos fundos da gestora.

“Vamos desde o tomador até o investidor. É como se fosse um banco, mas, em vez de usar o balanço como fonte de capital para as operações de crédito, é o investidor que tem acesso a essas carteiras”, explica Margot.

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