Gestora Verde diz que foi “vítima” no caso Americanas: “Maior fraude da história corporativa do Brasil”

Maiores perdas do fundo em janeiro vieram da posição em Bolsa Brasil e de crédito local, com destaque para a alocação em debêntures da varejista

Bruna Furlani

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O rombo contábil e as diversas dívidas da Americanas (AMER3) pegaram o mercado de surpresa e afetaram até mesmo os “tubarões”, como a Verde Asset, comandada por Luis Stuhlberger.

Em carta divulgada nesta segunda-feira (6) pela gestora, a casa destacou que foi “vítima” de fraude, surpreendida com todo o imbróglio e com o efeito negativo de uma marcação de 13% do valor de face de debêntures da empresa na carteira do fundo. Nos cálculos da casa, a posição causou uma perda de aproximadamente 14 pontos-base (0,14 ponto percentual) nas cotas.

No documento, a gestora detalhou que tinha 15 pontos-base (0,15 ponto percentual) do capital do fundo alocado nas debêntures. Hoje, a exposição total de crédito do Verde representa cerca de 10% da estratégia do fundo atualmente.

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Após o ocorrido, a gestora defendeu que vai exercer seu “dever fiduciário” no sentido de preservar o melhor interesse dos cotistas.

“Quem investe em crédito sabe que este tipo de risco existe. O processo de diligência bem-feito deveria mitigá-lo, mas nunca é possível escapar totalmente do risco da fraude”, alertou a casa.

“Estávamos falando de uma companhia com longo histórico, controlado por três acionistas considerados (até então) os melhores gestores de negócios do país, e com balanços auditados por uma das principais empresas do setor”, completou.

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Em tom duro, a gestora ressaltou que é “inacreditável” que somente 23 dias depois da publicação do fato relevante os dirigentes da companha tenham sido afastados.

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Na última sexta-feira (3), a Americanas informou que o conselho de administração da empresa decidiu afastar três diretores durante as apurações do rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões revelado pela companhia no mês passado.

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A empresa afastou Anna Saicali, que comandava a Ame Digital; Timotheo Barros, diretor de lojas físicas, logística e tecnologia; e Marcio Cruz, diretor de digital, consumo e marketing.

“Temos a maior fraude da história corporativa do Brasil, um buraco de mais de vinte bilhões de reais, e a gestão financeira da companhia (com exceção da recém-empossada CFO) continuou sendo feita pelas mesmas pessoas durante todo o período seguinte”, afirmou a gestora.

Investimentos em Americanas

A carta também detalhou que o primeiro investimento da Verde nos ativos da Americana foi feito em maio de 2020, no auge da volatilidade dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) por causa da pandemia.

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Na época, a casa adquiriu os papéis numa emissão primária, com remuneração de taxa do CDI (referência para papéis de renda fixa) mais 3% ao ano, com vencimento em três anos. Na sequência, cerca de cinco meses depois, realizou a venda do papel. Após isso, a casa ainda fez outro investimento na companhia, que foi encerrado meses depois.

A última posição montada, em junho de 2022, porém, foi a que gerou perdas para o fundo agora. A Verde disse que comprou debêntures a CDI mais 2,75% ao ano, com vencimento em 11 anos. “Decidimos investir por considerar que havia um excesso de spread em relação a empresas comparáveis e ao próprio histórico da companhia”, destacaram.

Ao justificar a alocação, a casa conta que analisou o balanço da companhia, que mostrava que a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (geração operacional de caixa) estava abaixo de três vezes. Além disso, a gestora avaliou que o histórico da companhia, os acionistas controladores e as perspectivas de negócio e de gestão eram favoráveis para a alocação.

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Desempenho do fundo

Além das perdas com as debêntures, o Verde também registrou desempenho negativo na posição em Bolsa brasileira. Mesmo com toda a deterioração recente vista no mercado de crédito no Brasil, a gestora destacou que preferiu manter a exposição a crédito local.

Por outro lado, a casa obteve ganhos com alocações compradas (que apostam na alta) em commodities, especialmente ouro, além de posições que se beneficiam da alta do real e dos juros globais e inflação implícita no Brasil. Em janeiro, o Verde encerrou com uma alta de 2,74%, contra 1,12% do CDI.

No documento, a gestora destacou ainda que manteve exposição à Bolsa brasileira. Na visão da casa, há muito “ruído” e algum “sinal” nas últimas declarações de políticos.

“Dado o pessimismo prevalente no mercado brasileiro junto ao contexto global muito favorável, períodos de silêncio brasiliense tendem a ser taticamente positivos”, ressaltou a Verde.

Em entrevista ao Stock Pickers no início de janeiro, Stuhlberger destacou que ficou “surpreso” com o comportamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Isso porque, para o gestor, as expectativas eram de que houvesse um governo semelhante ao esboçado no discurso de vitória, no dia 31 de outubro de 2022, na Avenida Paulista — focado em governar para todos.

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Já sobre mudanças na carteira, a gestora informou que zerou os hedges (proteções) na Bolsa americana. Com isso, voltou a ter uma pequena posição comprada em ações globais.

Da mesma, a casa destaca que reduziu “substancialmente” a exposição a crédito high yield (que garante maiores retornos e possui maior risco), diante da boa performance.

Por outro lado, optou por manter a posição comprada em inflação implícita no Brasil e o risco tomado (que se beneficia da alta) dos juros na Europa. Alocações compradas em ouro e petróleo também seguiram na carteira, juntamente com posições vendidas (que se beneficiam da queda) contra compra de real.