Gestores dos melhores fundos de dividendos do semestre listam suas ações “queridinhas”

Estratégias focam na análise fundamentalista para buscar empresas com desempenhos mais previsíveis e maior potencial de distribuição de lucros

Mariana Zonta d'Ávila

SÃO PAULO – Em meio a um ambiente de baixas taxas de juros no Brasil, de tendência de alta da Bolsa e também de maiores preocupações de uma parte do mercado que já vê os múltiplos mais esticados, leia-se, ações caras, gestores de fundos de dividendos têm conseguido manter um bom desempenho de suas carteiras, diante do perfil mais defensivo de um grupo seleto de ações.

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De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), no ano até junho, a categoria de fundos de ações de dividendos acumula retorno de 16% e, em 12 meses, de 43%. O Índice Dividendos (Idiv) acumulou ganho de 18,67% no primeiro semestre, ante alta da ordem de 15% do Ibovespa.

O fundo XP Dividendos, da XP Asset Management, que ocupa o primeiro lugar no ranking semestral, teve valorização de 24% no ano até o fim de junho. Em 12 meses, o retorno foi de 56,12%.

Marcos Peixoto, co-gestor do fundo, credita a performance às altas de Qualicorp (QUAL3) e Sanepar (SAPR4), duas das maiores posições do fundo e que sobem 78,20% e 36,39%, respectivamente, no ano. E Peixoto segue otimista com o mercado: “Com a queda de juros projetada e a Bolsa andando relativamente pouco, empresas com esse perfil [boas pagadoras de dividendos] ainda têm espaço para subir.”

Dentre os papéis preferidos da Western Asset, cujo fundo de dividendos apresentou ganhos de 18,45% no semestre, estão Engie Brasil (EGIE3) e CCR (CCRO3), bem como Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3), empresas do setor imobiliário que tendem a se beneficiar do cenário de queda dos juros.

Marcelo Guterman, especialista de investimentos na Western Asset, conta que gosta também dos “culpados de sempre”, ou seja, papéis que ele julga serem essenciais em toda carteira de dividendos. São eles: Bradesco (BBDC4), Iochpe-Maxion (MYPK3) e Petrobras (PETR4) que, por conta de sua desalavancagem, pode gerar bons dividendos no futuro.

Guterman destaca, contudo, a importância de se analisar os fundamentos das empresas caso a caso, e afirma que gosta de deixar entre 10% e 15% do portfólio alocado em “pimentinhas”, papéis um pouco mais arriscados que, embora não estejam pagando bons dividendos hoje, mostram potencial. “Às vezes não é nem pelo dividendo, mas pela apreciação do capital”, diz.

Foco em Mid Caps

Também entre os destaques de fundos no ano está o BB Ações Dividendos Midcaps, com valorização de 22%. Com alocação em empresas de pequeno e médio porte, o fundo conta com um total entre 35 e 40 papéis e uma representatividade de 14 setores, com destaque para os de energia (transmissoras) e de instituições financeiras (excluídos os grandes bancos).

“O objetivo é tentar identificar empresas em processo de maturação do negócio que tenham valor de mercado e não sejam consideradas large caps, ou seja, tenham uma média capitalização de mercado, crescimento de lucro, boa geração de caixa, baixa alavancagem e que se transformem em boas pagadoras de dividendos”, afirma Jorge Ricca, executivo de fundos de ações, multimercados e offshore na BB DTVM.

Posições relevantes do fundo também podem ser encontradas nos setores de saneamento, que inclui empresas maduras, com fluxo de caixa estável e que podem se beneficiar dos processos de privatização, bem como no setor imobiliário.

Otimista, Ricca destaca o momento de baixas taxas de juros como benéfico para o mercado de ações em geral e para empresas pagadoras de dividendos. “Com a redução das taxas de juros e com as projeções do mercado caminhando para 5,5% ao ano até o final de 2019, cria-se um incentivo por parte dos investidores de buscar ativos de maior risco para compor o portfólio e ter um retorno maior”, diz.

Confira a seguir o desempenho dos melhores fundos de dividendos no primeiro semestre de 2019, bem como sua trajetória nos últimos 12 e 36 meses. Para o levantamento, foram excluídos fundos exclusivos e com menos de 100 cotistas.

Os melhores fundos de dividendos do 1º semestre
Fundo Retorno em 2019 Retorno em 12 meses Retorno em 3 anos
XP Dividendos FIA 23,94% 56,12% 96,13%
XP Dividendos 30 FC FIA 23,30% 54,43%
BB Ações Divid. Midcaps Private FC FI 21,99% 33,79% 66,69%
Icatu Vanguarda Dividendos FIA 21,65% 55,45% 100,79%
BB Ações Divid. Midcaps FC FI 21,47% 32,57% 62,12%
Vinci Gas Seleção Dividendos FIA 21,12% 49,53% 85,47%
Caixa FIC Ações Valor Dividendos 21,05% 50,36% 72,86%
Vinci Gas Dividendos FIA 20,96% 46,07% 68,80%
JMalucelli Marlim Dividendos FIA 20,48% 30,68% 79,92%
Western Asset Ações Dividendos FIC 18,45% 43,16% 76,02%
Ibovespa 14,88% 40,69% 101,91%
Idiv 18,67% 49,63% 128,14%

Fonte: Economatica

Rentabilidade com caráter defensivo

Nos fundos de dividendos, o objetivo dos gestores é fazer com que o retorno dos papéis, o que inclui a valorização em Bolsa e o pagamento de proventos, fique acima da média do mercado. Para isso, se utilizam da análise fundamentalista, baseada no balanço e nos fundamentos da empresa, para escolher nomes com desempenhos de certa forma previsíveis e que estejam em um mercado mais maduro.

Tradicionalmente, boas pagadoras de dividendos podem ser encontradas no setor de energia, visto que no Brasil há pouca competição e alta demanda. Tal preferência é vista nas carteiras para julho, por exemplo, que incluem entre as ações mais recomendadas as de AES Tietê (TIET11), Taesa (TAEE11) e Transmissão Paulista (TRPL4), de acordo com levantamento feito pelo InfoMoney com dez casas de análise.

Muitas vezes comparados com os fundos imobiliários, por conta do foco nos proventos, os papéis dos fundos de dividendos podem não oferecer grande espaço para valorização, mas compensam com lucros “garantidos” e maior estabilidade.

Mesmo assim, esse tipo de investimento responde por uma participação ainda pequena na indústria: cerca de R$ 10 bilhões, menos de 3% dos fundos de ações e 0,2% da indústria como um todo. Para referência, a indústria de fundos de investimentos concentra R$ 5 trilhões. Desse total, a maior parte, 43%, está em ativos de renda fixa.

Com juros baixos e uma Bolsa que começa a oferecer oportunidades menos óbvias aos olhos dos gestores, a expectativa é que o investidor se esforce cada vez mais para encontrar melhores rentabilidades — e, com as pagadoras de dividendos, este pode ser o primeiro passo.

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