Os melhores fundos de ações e multimercados de junho e do semestre

De um total de 142 fundos de ações, 74 superaram o desempenho do Ibovespa no semestre; dentre os multimercados, maioria bateu CDI, mas só 15 de 449 superaram o referencial da Bolsa 

Beatriz Cutait

Publicidade

SÃO PAULO – Depois de seis meses que mais pareceram alguns anos, o investidor brasileiro se despediu da primeira metade de 2019 com motivos para comemorar. Com o Ibovespa na casa dos 100 mil pontos e com ganhos da ordem de 15% no semestre, acompanhando o movimento das bolsas americanas, com valorizações entre 14% e 20% no período, a Bolsa brasileira continua como a bola da vez dos mercados.

Apesar da volatilidade acentuada, a Bolsa se beneficiou de um cenário de juros baixos (por aqui e no exterior) e com perspectiva de caírem ainda mais neste ano; de um otimismo político que se impõe, apesar das tensões com as relações entre governo e Congresso; de uma expectativa de aprovação da reforma da Previdência; e de uma confiança de que em breve os investimentos privados serão retomados.

As apostas estão nas boas empresas listadas, que estão conseguindo sustentar crescimento dos resultados, mesmo em meio a um ambiente de “paralisia econômica”, como mencionou o gestor Luiz Fernando Alves Junior, da Versa, com sucessivas revisões das perspectivas para o país.

Continua depois da publicidade

O Boletim Focus, do Banco Central, mais recente mostrou que o mercado financeiro espera uma expansão de apenas 0,85% do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano, com inflação de 3,80% e taxa Selic a 5,50% em dezembro, um ponto percentual abaixo do patamar atual.

Retrato dos fundos de investimento

No universo dos fundos de investimento, a tarefa de superar o CDI anda fácil, mas o mesmo não pode ser dito sobre o Ibovespa.

De um total de 142 fundos de ações, 79 superaram o desempenho do Ibovespa (+4,06%) no mês passado, segundo levantamento elaborado pela XP com base em dados da Economatica. No semestre, o número de fundos que batem o principal índice de ações da Bolsa brasileira cai para 74.

Continua depois da publicidade

Na categoria de multimercados, 385 de 449 fundos tiveram retornos maiores que o CDI, que costuma ser o referencial desse segmento e teve variação de 0,47% em junho, mas apenas 19 tiveram retornos mais expressivos que o Ibovespa no mês. Em termos semestrais, 369 fundos superaram o CDI e somente 15, o Ibovespa.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no fim de junho. No caso dos fundos de ações, foram ainda excluídos os setoriais e monoações.

Confira a seguir os dez melhores fundos de ações junho, observando ainda seu desempenho acumulado em até 36 meses. Retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Publicidade

Os melhores fundos de ações de junho
Fundos de ações Junho Semestre 12 meses 36 meses
Alaska Black FIC FIA BDR Nível I 8,77% 14,40% 51,11% 297,06%
Fator Sinergia FIA 8,09% 20,97% 50,97% 169,96%
FIA Maina 7,67% 17,89% 30,17% 104,66%
Itaú Ações Dunamis Fc 7,22% 18,16% 44,75%
Equitas Selection Fc FIA 7,17% 22,67% 61,49% 142,49%
Safra Small Cap Fc FIA 7,16% 10,37% 31,31% 64,85%
Itaú Ações Estratégia SP 500 FIC FI 7,05% 18,06% 10,65% 68,54%
Fama Fc FIA 6,92% 12,84% 41,04% 86,95%
Caixa FIA Small Caps Ativo 6,41% 17,36% 38,30% 109,16%
Hix Capital Fc FIA 6,22% 19,60% 33,75% 69,95%
Ibovespa 4,06% 14,88% 40,69% 101,91%

Fonte: XP Investimentos, com base em dados da Economatica.

Na lista dos melhores fundos de ações do semestre, destaque para Dynamo Cougar (24,72%), XP Dividendos (23,94%), BNP Paribas Action (23,70%), Real Investor (23,58%) e Atmos Ações FIC FI (23,48%).

O otimismo continua

Henrique Bredda, gestor responsável pelo fundo Alaska Black BDR Nível 1, liderou os ganhos dentre os fundos de ações em junho, com valorização de 8,8%. Apesar da volatilidade da Bolsa, sentida em grande peso pela estratégia, Bredda segue com visão otimista sobre o cenário, com foco principalmente sobre o desempenho das empresas.

Continua depois da publicidade

“O que está impulsionando a Bolsa para cima é o lucro das companhias”, observa o gestor, para quem o “bull market” vai continuar nos próximos anos, apesar das incertezas no caminho.

A virada de página com a reforma da Previdência poderá ser o diferencial do segundo semestre, com potencial para reduzir a volatilidade vista até este momento, diz Bredda.

Na avaliação do gestor, mesmo o PIB enfraquecido pode estar contribuindo para o desempenho das grandes empresas da Bolsa, ao gerar a mortalidade de companhias de menor estrutura, beneficiando as líderes no quesito concorrência.

Publicidade

E os juros baixos exercem alívio, ao contribuir para o custo da dívida, com efeito sobre o resultado final das companhias. “É um bom cenário para essas empresas que vivem uma realidade paralela”, ressalta Bredda.

O fundo tem aproveitado os últimos meses para aumentar a posição em ações já detidas no portfólio, com destaque para Braskem, Kroton e Klabin. As maiores posições contemplam ainda os papéis da Rumo, Petrobras, Suzano e Vale.

Confira a seguir os dez melhores fundos multimercados de junho, observando ainda seu desempenho no semestre, nos últimos 12 meses e em 36 meses.

Os melhores fundos multimercados de junho
Fundos multimercados Junho Semestre 12 meses 36 meses
Versa Long Biased FI Mult 15,49% 13,87% 25,59% 638,56%
Itaú Private Mult S&P 500 BRL FIC FI 7,16% 18,99% 12,30%
Bradesco H FI Mult Bolsa Americana 7,14% 18,85% 12,09% 73,89%
WA US Index 500 FI Multi 7,12% 18,92% 12,61% 76,41%
Bradesco FI Mult SP 500 Mais 7,06% 18,06% 11,09% 62,54%
Safra SP Reais Fc FI Mult 7,01% 18,33% 11,33% 72,94%
WM American Equities FICFI Mult 6,79% 17,88% 11,63% 72,28%
Ibiuna Long Biased Fc de FI Mult 5,84% 12,50% 27,95% 78,53%
CSHG Portfolio Fut Trends Fcfi Mult Ie 4,95% 17,71% 9,23%
Ibiuna Hedge Sth Fc de FI Mult 4,67% 8,04% 8,37% 47,4%
CDI 0,47% 3,07% 6,35% 28,94%

Fonte: XP Investimentos, com base em dados da Economatica.

Na lista dos melhores fundos multimercados do semestre, destaque para Tavola Absoluto (20,72%), Itaú Private Mult S&P 500 BRL (18,99%), WA US Index 500 FI Multi (18,92%), Bradesco H FI Mult Bolsa Americana (18,85%) e M Square Global Equity Managers Inst Fc FI Mult Ie (18,62%).

Um dos destaques de junho, o fundo Versa Long Biased teve retorno de 15,5%, com ganho de 13,9% no semestre. O fundo se propõe a superar o CDI no longo prazo, por meio de uma estratégia long & short.

Na visão do gestor do fundo, Luiz Fernando Alves Junior, o cenário segue benéfico para ações, em meio à expectativa de aceleração da economia, com impacto na receita e nas margens das empresas.

“Ainda enxergamos o segundo semestre com otimismo, com um programa agressivo de licitações e outros estímulos a investimentos privados. E boa parte desse dinheiro vai vir de fora, por isso que temos posição em real vendida em dólar”, diz.

“Não é necessariamente investimento em fábrica, mas em infraestrutura, através de licitações”, explica o gestor, que vê oportunidades nos setores de óleo e gás e no pré-sal.

A expectativa é de que a aprovação da reforma previdenciária destrave esses investimentos. Em relação ao risco externo, vinculado à desaceleração global, Alves ressalta que, embora seja uma fonte de incerteza para a economia brasileira, não se configura em uma crise.

“Acreditamos que seja uma desaceleração na margem, e não uma crise, porque não tem inflação. Os bancos centrais ainda têm como recurso baixar juros, o que dá algum folego para a economia.”

Sem mudanças na alocação, o fundo Versa tem como principal posição a compra de moeda brasileira. As ações da Hering e da Brasil Properties também respondem por parte relevante da exposição, assim como as da Vale, que exercem, inclusive, um certo hedge à posição cambial, já que a empresa é beneficiada por um dólar mais valorizado.

Na ponta contrária, Natura lidera as posições vendidas do fundo, reforçadas depois do anúncio de fusão com a Avon –, ao lado dos papéis do Banco Inter e de Raia Drogasil.

Mais valorização nos EUA?

O fundo Western Asset US Index 500 FI Multimercado também tem se destacado em 2019, com ganho de 18,9% no semestre e da ordem de 7% apenas em junho. Com desempenho atrelado ao mercado acionário americano, mesmo com a maior volatilidade também experimentada por lá, a estratégia tem conseguido se sustentar no campo positivo.

Mauricio Lima, gestor de portfólio da Western Asset no Brasil, ressalta que as oscilações estão vinculadas basicamente à percepção do mercado em relação ao desempenho da economia americana, vis a vis a inflação e a atitude do banco central do país.

“A partir de junho, vimos uma mudança da postura do Fed, que se tornou mais claro ao dizer que está preocupado o com nível de inflação e que possivelmente agirá cortando juros, se a inflação se mantiver nesse patamar”, diz, ressaltando que a diferença de indicação já faz com o que mercado se anime.

Animação nesse caso pode ser lida como um fechamento da curva de juros futuros, com maior inclinação para ativos de risco, beneficiando as bolsas americanas. Embora a guerra comercial travada entre EUA e China pese, Lima vê o episódio mais como um ponto de retórica que de prática. Da mesma forma, o risco de recessão está descartado, pelo menos por ora, com uma percepção “apenas” de desaceleração.

De toda forma, com uma sequência tão expressiva de alta, inclusive com o índice S&P 500 com novo recorde na abertura deste mês, o mercado americano já não ficou caro? Não para a Western.

“Os resultados das empresas têm vindo fortes, os níveis de dívidas estão mais baixos com juros menores e a liquidez também está em níveis recordes. Portanto, juntando com o nosso cenário fundamentalista de sustentação do crescimento econômico, nos parece haver espaço para a melhora de resultados corporativas continuar”, afirma o gestor. O movimento pode perder intensidade, mas não tem dado sinais de reversão, reforça Lima. 

Invista nos melhores fundos com a ajuda da melhor assessoria: abra uma conta gratuita na XP!

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.