ESPECIAL: As escolhas de Stuhlberger que fizeram o Fundo Verde render 15.180% em 21 anos

Uma das principais tacadas do gestor aconteceu na maxidesvalorização do real, no início de 1999 -  em janeiro daquele ano o fundo rendeu mais de 60% 

Diego Lazzaris Borges

SÃO PAULO – Criado em 1997 por Luis Stuhlberger – considerado um dos melhores gestores de fundos do Brasil – o Fundo Verde se consagrou como uma máquina de fazer milionários ao longo das últimas duas décadas. Não é para menos.

Aula Gratuita

Os Princípios da Riqueza

Thiago Godoy, o Papai Financeiro, desvenda os segredos dos maiores investidores do mundo nesta aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Nestes 21 anos de existência, o retorno acumulado do fundo é de 15.180%. Para você entender melhor o que isso quer dizer, quem aplicou R$ 10 mil no primeiro dia de funcionamento do Verde teria hoje R$ 1,5 milhão, ou seja, 150 vezes mais.

Como base de comparação, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) valorizou 1.991% no mesmo período. Portanto, uma pessoa que investiu os mesmos R$ 10 mil em algo que rende 100% do CDI teria acumulado R$ 210 mil neste período.

Stuhlberger iniciou a carreira como operador do mercado de ouro na década de 80 e passou a atuar com a gestão de ativos no começo dos anos 90. Em 1997, decidiu criar seu próprio fundo.

Avesso à exposição, o gestor raramente dá entrevistas e prefere se manter longe dos holofotes. Mas nas poucas vezes que fala ele costuma elencar alguns eventos que marcaram a história do Verde e foram fundamentais para que ele conseguisse multiplicar por 150 o valor da cota inicial.

O primeiro deles foi um trade certeiro durante a crise asiática em 1997, que ele detalhou durante uma entrevista ao Podcast da gestora Rio Bravo, em 2013 – e que você pode ler a transcrição na íntegra aqui.

Logo nos primeiros meses de funcionamento do Verde, o gestor já notava uma piora na economia brasileira e um aumento no déficit em conta corrente, que chegava perto dos US$ 40 bilhões. “O Brasil não tinha reservas e o câmbio era fixo. Eu pensei: ‘Ou o juro vai ter que subir para um patamar inimaginável ou o câmbio vai ser desvalorizado”.

Em outubro de 1997, o mercado de prefixados mais longos tinha um ágio enorme em função do risco – para se ter ideia, enquanto a taxa de juros estava em 19% ao ano, um prefixado com vencimento em 6 meses já pagava 24% a.a. – isso quer dizer que não tinha mais como ganhar dinheiro com esses vencimentos.

O que ninguém esperava era um aumento nos juros mais curtos, de 30 ou 60 dias. “O mercado não dava prêmio nisso”, lembra.

No dia 24 de outubro, data em que comemorava o aniversário de 42 anos, ele notou a piora da crise asiática e decidiu que era hora de apostar na alta dos juros curtos por aqui. “Eu estava almoçando com meus sócios no Charlô [um refinado bistrô da capital paulista] e liguei para meu escritório (…) revolvi tomar uma quantidade enorme do juro futuro com vencimento em dezembro”.

Poucos dias depois, na madrugada de 27 de outubro, o mercado financeiro entrava em pânico com a crise asiática. Uma queda gigantesca da cotação das moedas no continente e as incertezas provocadas pelo colapso obrigaram o então presidente do BC, Gustavo Franco, a subir a taxa de juros brasileira repentinamente de 19% para mais de 40% ao ano.

O Verde, que estava tomado em contratos curtos de juros futuros, encheu o carrinho de dinheiro. “Este foi meu primeiro grande acerto”, orgulha-se.

Mas a tacada que o gestor enxerga como um divisor de águas foi o trade com a maxidesvalorização do real, no início de 1999.  Desde a metade do segundo semestre de 1998 ele já vinha percebendo que o regime de câmbio fixo no Brasil estava se tornando insustentável. “Eu só estava esperando a gota d’água para apostar na desvalorização [do real]”, lembra.

O balde derramou quando o então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, decretou moratória da dívida do estado, logo nos primeiros dias de 1999. Foi então que o gestor decidiu montar uma posição grande em dólar, acreditando que a paridade do real com a moeda norte-americana estava mesmo com os dias contados.

Pouco depois de rechear a carteira do Verde com a divisa, Stuhlberger viajou em uma excursão para Foz do Iguaçu e Argentina com as duas filhas mais velhas –  Beatriz, a filha mais nova, era recém-nascida e ficou em São Paulo com a mãe.

O momento em que soube que tinha feito a escolha certa ele classifica como inesquecível. “Eu soube da notícia enquanto olhava o vertedouro da Usina de Itaipu. Alguém me ligou de São Paulo dizendo: ‘Você já soube? Mudou o presidente do Banco Central’”.  A data era 12 de janeiro de 1999, e o então chefe do BC, Gustavo Franco, dava lugar a Francisco Lopes, que antes era diretor do banco.

Era a deixa para que o regime de câmbio fixo deixasse de existir no Brasil e desse lugar à banda diagonal endógena, uma espécie de “meio termo” para o câmbio flutuante.

O real desvalorizou mais de 60% naquele mês e o fundo de Stuhlberger rendeu nada menos do que 63,5%, terminando 1999 com um retorno de 135% –  ante 25% do CDI. “Isso mudou de fato a minha vida. A partir daí começamos a ter uma captação significativa”.

Daí para frente, não foram poucos os trades certeiros do gestor, que lhe renderam fama cada vez maior em todo o mercado financeiro. Em 2002, quando o mercado estava em pânico com a eleição de Lula, ele foi um dos poucos a acreditar que o novo presidente não faria nenhuma besteira na economia assim que fosse eleito.

E acertou. No final daquele ano, os investidores do fundo viram seu patrimônio crescer mais 48% – enquanto o CDI rendia 19%. Em 2003, primeiro ano do petista na presidência, o fundo rendeu mais 42%.

O Verde, que começou com um patrimônio líquido de apenas R$ 1 milhão em 1997, chamava cada vez mais atenção pelos seus rendimentos e não parava de crescer.  10 anos depois da sua criação, no final de 2007, o gestor já administrava quase R$ 4,6 bilhões dos seus clientes. No ano seguinte, Stuhlberger decidiu fechar o fundo para captações – atualmente o Verde tem um patrimônio líquido de R$ 12,9 bilhões.

Em entrevista ao livro Fora da Curva, Stuhlberger explicou que a escolha do nome “Verde” deve-se a 3 motivos: era a cor referente ao mercado de commodities, aos dólares e ao uniforme do seu time de futebol de coração, o Palmeiras.

Fundo reaberto após 10 anos

Depois de permanecer durante 10 anos fechado, o Fundo Verde foi reaberto para investimentos por meio de um “fundo espelho” que está disponível para agendamento nas plataformas da XP Investimentos e da Rico Investimentos.

O Verde AM X60 Advisory FIC FIM – nome do “fundo espelho” – comprará as cotas do fundo master, portanto vai replicar integralmente a estratégia do original.

A taxa de administração é de 2% e taxa de performance de 20% do que exceder 100% do CDI, e a aplicação mínima é de R$ 50 mil, com carência de resgate de 60 dias. A XP não informou o tempo que o Verde X60 permanecerá aberto, mas ‘acredita que o fundo será fechado rapidamente”.

E você? Quer investir no lendário Fundo Verde? É fácil: abra uma conta gratuita na XP!

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip