Fundo de crédito é boa opção após mudanças em LCIs e LCAs? Alocadores respondem

Especialistas se dividem sobre a eficácia de uma eventual troca e avaliam que é preciso entender o objetivo da aplicação; entenda

Bruna Furlani

Notas e moedas de reais (iStock / Getty Images Plus)

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Acostumados a alocar nas tradicionais Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliárias (LCIs), muitos investidores pessoa física se viram diante de uma série de perguntas e questionamentos após mudanças recentes nas emissões e nos prazos desses tipos de investimento.

As dúvidas têm como pano de fundo uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), do começo de fevereiro passado, que restringiu os lastros (garantias) das LCAs e LCIs, e alterou o prazo de vencimento — saltando de 90 dias, em ambos os casos, para 9 e 12 meses, respectivamente.

Com prazos mais longos, investidores começaram a buscar outras opções. Uma solução apresentada por alguns bancos ou por outros agentes de mercado é a aplicação do dinheiro agora em fundos de crédito privado, que costumam alocar em debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio, além de Letras Financeiras (LFs), por exemplo. A alternativa, porém, tem dividido alocadores.

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Especialistas divididos

Fabrício Voigt, analista sênior da Aware Investments, diz que não recomenda a troca se o foco do investidor for o curto prazo — ainda mais porque o investidor costumava resgatar suas LCIs e LCAs antes de 12 meses. “Os fundos de crédito existem há muito tempo. Esse tipo de substituição não foi feita antes, porque o mercado é muito diferente. LCI e LCAs tem a garantia do FGC”.

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) representa uma proteção adicional para investidores que alocam em alguns títulos bancários. Ele devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão que é renovado a quatro anos, em caso de problemas na instituição, como uma intervenção do Banco Central. Já os fundos não possuem esse tipo de segurança, mas contam com a gestão de um profissional.

Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos, vai na mesma linha e diz que fundos de crédito não são uma alternativa recomendada por ela. Segundo a executiva, os spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) dos papéis investidos pelos fundos caíram muito nos últimos meses e o investidor estaria entrando no produto num momento em que os prêmios estão baixos.

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“Se der algum estresse, os spreads poderiam voltar a abrir rápido e os fundos sofreriam com uma marcação negativa. Acho um prêmio baixo para correr risco de crédito”, diz. Para a especialista da Nord, a melhor opção agora é alocar no Tesouro Selic para investimentos com foco no curto prazo e deixar para correr risco com uma posição em ações brasileiras.

Retornos

Outro detalhe que os investidores precisam ter atenção está ligado ao retorno de fundos de crédito. Voigt lembra que o fechamento dos spreads dos títulos elevou os preços dos papéis que compõem a carteira dos fundos e impulsionou os ganhos dos produtos nos últimos meses.

O profissional da Aware ainda vê ganhos mais elevados por cerca de seis a oito meses para os fundos de crédito, mas lembra que a durabilidade do fechamento (recuo) dos spreads daqui para frente vai depender da velocidade de captura dos gestores. Nesse caso, diz, se os fundos captarem mais, eles terão que comprar títulos com taxas e spreads mais baixos, o que pode afetar os retornos mais pra frente. Para evitar problemas como esses, alguns especialistas avaliam que alguns fundos de crédito devem continuar a fechar para captação no curto prazo.

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Fundos podem ser alternativas? Sim, para esses especialistas

Clara Sodré, analista de fundos de investimentos da XP, por outro lado, acredita que fundos de crédito mais estruturados e fundos de debêntures incentivadas podem ser uma alternativa eficaz, diante das mudanças feitas pelo CMN no começo de fevereiro.

A preferência por fundos de crédito mais estruturado e high yield (maior risco e retorno) é que tais produtos costumam oferecer proteções creditícias contra as primeiras perdas, além do que a carteira tende a ser mais pulverizada e diversificada, como explica Sodré.

Fundos de debêntures incentivadas também surgem como opção, por oferecerem a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas e proteção contra a inflação, diz Sodré. “Tem que diversificar. Vou alocar um pouco em crédito, mas é importante ter algo em fundos de debêntures incentivadas”, acrescenta.

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Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também defende que os fundos de crédito podem ser uma opção, desde que ela esteja alinhada com o planejamento do investidor.

“Se for precisar nos próximos meses, ele precisa ver o prazo de resgate do fundo. Importante avaliar também quem está gerindo o produto, se a casa tem uma reputação. Temos visto gestoras sendo criadas sem profissionais com nome. É preciso cuidado”, diz Cruz.