Crítico da alcunha de ‘cisne negro’ para o coronavírus, Taleb diz que empresas com receitas estáveis podem esconder maior risco em crises

Economista defendeu ainda que espírito empreendedor é algo que já nasce com as pessoas e que não há como o governo induzi-lo na população

Lucas Bombana

Nassim Taleb (Divulgação/Leo Albertino)

SÃO PAULO – O economista e professor emérito da Universidade de Nova York, Nassim Taleb, ganhou fama no mercado financeiro por ser o autor do popular conceito conhecido como “cisne negro”, em referência a eventos completamente inesperados, que geralmente causam abalos estruturais em toda a sociedade.

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Para ele, contudo, a pandemia do coronavírus não pode ser considerada um “cisne negro”.

Já tivemos diversos exemplos de pandemias ao longo da história que levaram a população a períodos de quarentena, disse Taleb, que participou nesta sexta-feira de painel na Expert XP, em que abordou sua visão sobre a crise da Covid-19 e suas consequências para a sociedade.

Uma pandemia, na avaliação do especialista, era uma probabilidade no radar, mesmo antes do surgimento do coronavírus. Não se sabia ao certo quando ou onde ela teria início, mas não se tratava de um evento totalmente inesperado, disse Taleb.

Estabilidade nem sempre é algo bom

Durante sua apresentação, o economista afirmou ainda que uma empresa com receita estável, por um período relativamente prolongado, pode parecer, a princípio, um negócio menos arriscado e mais resiliente, na comparação com outra companhia com maior volatilidade nos resultados.

Contudo, a empresa que não tem previsibilidade quanto à sua geração de caixa, observou Taleb, está sempre em busca de melhorias.

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Por isso, prosseguiu o especialista, ela está mais preparada para se adaptar às mudanças repentinas de cenário, do que aquela que está confortável por ter uma entrada constante de fluxo. “Sem volatilidade, mas sem adaptação.”

Segundo Taleb, na crise de 2008 do “subprime” nos Estados Unidos, muitas empresas que vieram a pedir falência foram justamente aquelas que tinham uma receita estável no período anterior ao estouro da bolha.

E embora o governo americano, e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em particular, venham recebendo elogio dos investidores pela forma como agiram para combater a pandemia, Taleb avalia que houve bastante incompetência no combate à pandemia, o que custou muito dinheiro que poderia ter sido economizado.

Assista a alguns trechos da entrevista:

O economista disse ainda que a bolsa de valores dos EUA, apesar de ter atraído diversos interessados nos últimos meses, é altamente concentrada.

O mercado de renda variável americano tem ao menos 10 mil empresas listadas, mas 100 ou 200 concentram quase metade do valor de mercado, assinalou.

“Toda situação em que há concentração deve ser tratada com muita disciplina”, disse o economista.

Perder faz parte do jogo

Em um cenário em que milhares de negócios fecharam ou terão de fechar as portas por conta da pandemia, Taleb falou também sobre a importância do empreendedorismo na economia.

Na avaliação do especialista, o espírito empreendedor é algo que já nasce com as pessoas e que não há como o governo induzi-lo na população. “Pessoas como eu são incapazes de ter um chefe”, brincou.

Um governo pode, contudo, guiar como essas pessoas empreendedoras vão agir, acrescentou Taleb. “O trabalho do governo não é iniciar empresas. É encorajá-las para que tenham coragem de empreender e oferecer proteção no caso de elas falharem.”

O economista disse ainda que o fracasso faz parte do jogo, e ninguém deve se envergonhar de abrir um negócio e precisar fechá-lo.

Ao fim de sua apresentação, Taleb arrematou com uma simpática declaração aos investidores que o acompanhavam pela Expert XP: “Eu amo o Brasil”.

(Colaborou Gabriela Terenzi)

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