Ethena: novo “dólar digital” promete 3% ao mês e acende alerta do mercado; entenda

Criptomoeda que guarda semelhanças com projeto Terra/Luna, que evaporou em 2022, foi lançada em fevereiro e já alcançou mais de US$ 4,3 bi em valor de mercado entre dois tokens

Lucas Gabriel Marins

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O mercado cripto ganhou recentemente uma nova stablecoin (criptomoeda estável) chamada Ethena (USDe). Em menos de dois meses, dois tokens do mesmo projeto já acumulam, somados, US$ 4,3 bilhões de valor de mercado, chamando atenção dos investidores.

Na esteira do sucesso, porém, o projeto começou a gerar sinais de alerta no mercado. Um dos motivos é a oferta de rendimento fora do comum: 37% ao ano (equivalente a cerca de 3% ao mês). Além disso, alguns especialistas começaram a apontar semelhanças com a Terra/Luna, cripto que colapsou em 2022 e abalou a indústria de ativos digitais.

A Ethena foi criada em fevereiro pela startup Ethena Labs, do empresário Guy Young. A stablecoin é pareada na proporção de 1 para 1 com a moeda americana e se identifica como um “dólar sintético garantido por criptoativos e posições short (que apostam contra) correspondentes no mercado de futuros”.

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Ela é diferente de outras stablecoins “tradicionais”, como USD Coin (USDC) e Tether (USDT), que são indexadas ao dólar por meio de depósitos bancários. Se um USDC ou USDT é colocado no mercado, um dólar precisa ser comprado e guardado em caixa.

A Ethena, no entanto, tem como lastro uma operação chamada de delta hedging, uma estratégia complexa de negociação de opções que explora diferenças de preços entre os mercados à vista e de futuros de um determinado ativo – no caso, a criptomoeda Ethereum (ETH).

“Um usuário deposita Ethereum na Ethena (como colateral) e a Ethena, contra esse Ethereum depositado, emite USDe. Em paralelo, no momento do depósito, a Ethena vai em algum mercado, geralmente centralizado, de futuros e abre uma posição short no Ethereum”, explica João Zecchin, sócio fundador da Fuse Capital.

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“Portanto, se o Ethereum subir, a plataforma ganha dinheiro no Ethereum que está depositado lá e perde dinheiro no futuro. Já se o Ethereum cair, ela perde dinheiro no Ethereum que está depositado lá e ganha dinheiro no futuro, mantendo o delta neutro (ou seja, é uma operação que fica no zero a zero)”, completa o especialista.

Qual é a diferença para a Terra/Luna?

A Terra/Luna usava um mecanismo diferente chamado mint and burn (queimar e cunhar, na tradução para o português). Em resumo, a stablecoin estava vinculada a um token irmão (o LUNA), que era destruído para criar um token da stablecoin ao preço de US$ 1. “É diferente da proposta da Ethena”, disse Zecchin.

Mas nem todo mundo concorda. Sem mencionar o nome do novo projeto, o CEO da Fantom, Andre Cronje, disse recentemente no X (antigo Twitter) que tem receio de o projeto ser a nova TerraUSD. “Embora as coisas estejam indo muito bem agora, eventualmente isso muda, as taxas tornam-se negativas, a margem/garantia é liquidada e você tem um ativo sem garantia”, disse.

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E os 3% ao mês?

Em seu site, o dólar sintético diz que paga atualmente um rendimento percentual anual de 37% para os usuários. O protocolo alega que consegue oferecer essa porcentagem – maior até do que a oferecida pela Terra/Luna – antes do colapso, por dois motivos:

Portanto, é como se 5% do percentual anual viesse do staking e os 32% restantes da arbitragem, prática considerada de alto risco em qualquer mercado, em especial no de criptomoedas.

“O pior cenário é que o fundo de hedge não tenha um desempenho alinhado com a taxa de financiamento em todas essas diferentes exchanges de criptomoedas por uma série de razões”, disse Robert Leshner, sócio do fundo de risco fintech Robot Ventures, em participação recente um podcast, segundo a Bloomberg.

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Riscos

Além da conhecida volatilidade do mercado de criptomoedas, a Ethena oferece pelo menos outros três riscos, segundo Zecchin, da Fuse:

1) O mecanismo é experimental e ainda não foi testado;

2) É um protocolo de finanças descentralizadas (DeFi) que, conforme cresce, entra cada vez mais nas miras de criminosos virtuais. Só em 2023, hackers embolsaram recorde de US$ 1 bilhão em criptos com ataques de ransomware;

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3) Trabalha com mercados centralizados, como corretoras. “Então se ocorre alguma quebra, como o caso da FTX, o colateral depositado vai embora junto”, conclui o profissional.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney