Em Wall Street, assessores de investimento já se preparam para recomendar ETF de Bitcoin

Com aprovação iminente de produto inédito nos EUA, mercado projeta captação de até US$ 100 bilhões

Bloomberg

Sinal de néon indicando que o Bitcoin está disponível em uma loja de Praga, na República Tcheca (Milan Jaros/Bloomberg)

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Assessores de investimento de Wall Street veem a chegada iminente dos ETFs (fundos de índices) com exposição direta ao Bitcoin (BTC) como um grande avanço no mercado de criptomoedas, pois vão atrair tanto capital institucional como do varejo.

O otimismo com os produtos está impulsionando o mais recente ciclo de alta da maior criptomoeda do mundo porque há expectativa de que gestores de patrimônio e consultores financeiros começarão a gastar uma pequena parte de seus portfólios de trilhões de dólares na promessa dos ativos digitais.

Graças ao cenário de iminente guinada regulatória. Espera-se que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, dê luz verde aos fundos possivelmente até meados de janeiro ou antes, após uma década rejeitando os pedidos.

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À primeira vista, a aprovação oferece um caminho de redenção para os defensores dos ativos digitais, um ano depois que a implosão da exchange FTX desencadeou a maior crise existencial do setor e encorajou os críticos da indústria, que há muito dominam as finanças tradicionais.

Com o envolvimento de pesos pesados respeitáveis como BlackRock, Fidelity e Invesco, o mercado de ETF spot (à vista) de Bitcoin tem potencial para se transformar em um rolo compressor de US$ 100 bilhões com o tempo, de acordo com estimativas da Bloomberg Intelligence.

À medida que a estreia do primeiro ETF de Bitcoin nos EUA se aproxima, a Galaxy Digital Holdings, que trabalha com a Invesco em uma proposta de fundo, realizou conferência no início deste mês com cerca de 300 profissionais de investimento sobre a alocação em Bitcoin, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

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Assessores à espera

Jeff Janson é uma das pessoas que se prepara para a estreia. O assessor de investimentos da Summit Wealth, com sede na Flórida, já recebeu ligações de investidores, de jovens a idosos.

“Sinto que agora finalmente estamos diante de uma aprovação por parte da SEC”, disse Janson, cuja empresa administra cerca de US$ 550 milhões, em entrevista. “E minha crença é que, uma vez que você tenha acesso a isso nesse tipo de pacote, acho que haverá interesse significativo em nível institucional.”

Esse é o caso de quem está comprado na criptomoeda, pelo menos. Para muitos, as turbulências pós-FTX continuam a repercutir, esfriando o interesse em tudo o que é cripto, na comparação com os dias de euforia especulativa há dois anos.

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Após o colapso do império de Sam Bankman-Fried (fundador da FTX), os investidores comuns têm estado em grande parte ausentes do mercado. E apesar da recente alta, o Bitcoin não está nem perto de seu preço máximo registrado no final de 2021.

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Enquanto isso, gestores de fundos de hedge como Paul Tudor Jones, que anteriormente elogiava as virtudes dos ativos digitais, têm ficado calados ultimamente. Notícias falsas sobre a aprovação de ETFs de Bitcoin e de um ETF inexistente de XRP da BlackRock – que inicialmente impulsionaram os preços – prejudicaram alegações de que o passado de crises do setor já ficou para trás.

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No entanto, uma grande razão para o novo otimismo tem a ver com os novos incentivos da indústria e com o apelo das moedas digitais de rompimento do sistema financeiro.

No momento, apenas ETFs de Bitcoin baseados em futuros estão disponíveis para os investidores, e eles podem ter custos adicionais que prejudicam os retornos. Os investidores que desejam “Bitcoin puro” estão obtendo acesso por meio de plataformas como Coinbase ou aplicativos como Robinhood – o que significa que os assessores de investimento não conseguem acompanhar as movimentações.

Um ETF é, portanto, um divisor de águas, de acordo com Chuck Cumello, que está recebendo perguntas de investidores da geração Y e de indivíduos com alto patrimônio líquido sobre o potencial disruptivo de um ETF de Bitcoin.

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Seria simples e fácil fazer uma negociação [com um ativo] na conta de investimentos do cliente”, disse o presidente e CEO da Essex Financial Services em Essex, em Connecticut.

Foco em quem recomenda investimentos

Outra evidência de que as instituições podem ser o alvo dos emissores de ETF é a seguinte: tickers aparentemente “sem graça”, como IBTC e BTCO, sugerem que os produtos serão direcionados ao mercado de assessoria de investimentos.

“Quando os tickers são mais divertidos, geralmente quer dizer que o objetivo será atrair investidores de varejo mais jovens, que neste caso provavelmente não serão um grande público para esses fundos”, escreveram Eric Balchunas e James Seyffart, da Bloomberg Intelligence, em nota.

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Na empresa Compass Financial Advisors, em Indiana, Chris Swanson e James Weber constroem portfólios-modelo, um tipo de estratégia de investimento personalizado. Eles frequentemente aconselham seus clientes sobre como alocar uma certa porcentagem para ativos alternativos, como criptomoedas.

Por exemplo, uma carteira pode ter 55% voltada para ações, outros 25% para títulos e 20% para cash, ativos alternativos e criptoativos. Após o lançamento dos fundos à vista, as apostas em cripto – por meio do ETF Crypto Industry Innovators (BITQ), da Bitwise, por exemplo – provavelmente fluiriam para os ETFs de Bitcoin, uma vez disponíveis.

Queremos ter certeza de que teremos um bom desempenho para nossos clientes e acreditamos que isso será um diferencial em relação a outros assessores.

Chris Swanson, assessor da Compass Financial Advisors

A palavra de cautela vem de Laila Pence, fundadora da consultora de investimentos registrada Pence Wealth Management, que tem US$ 2 bilhões sob gestão. O interesse por moedas digitais entre os clientes mais jovens diminuiu drasticamente desde os dias inebriantes da pandemia, quando todos os tipos de criptomoedas dispararam, disse ela. Além disso, o mercado de ações também está indo bem neste ano, lembrou.

“Por que correr riscos quando o S&P e o Nasdaq tiveram um desempenho tão bom neste ano e isso é mais seguro e confiável?”,  disse, diretamente da Califórnia.

No entanto, para aqueles que acreditam no bull market do setor cripto, há um ponto mais importante a ser destacado: o ETF normalizará uma classe de ativos desacreditada. Maiores transparência e liquidez aproximam a cripto do do compliance exigido por investidores, potencialmente desencadeando operações de crédito e negociações de derivativos, argumenta a Coinbase.

“Assim, o que um ETF representa para a adoção do Bitcoin vai além dos fluxos imediatos para esses produtos, potencialmente remodelando o mercado de maneiras totalmente sem precedentes”, afirmou a exchange em relatório. “No entanto, achamos que isso levará tempo para se desenrolar.”

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