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“Efeito Barbie”: Warner vira top pick de gestores, que miram alta de 60% mesmo com greve em Hollywood

Para analistas, empresas estão preparadas para entregar conteúdo no curto prazo e podem até ter ganhos financeiros em meio à paralisação do setor

Monique Lima

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A tempestade perfeita se formou na indústria de entretenimento: a TV tradicional está em decadência, a publicidade mudou de foco e o streaming enfrenta dificuldades de monetização. Toda essa turbulência ganhou um novo capítulo com a greve de roteiristas e atores de Hollywood que interrompeu as produções de séries, filmes e programas de TV por tempo indeterminado.

Pela primeira vez desde 1960, os sindicatos de ambas as categorias se juntaram para reivindicar melhores condições trabalhistas. Os roteiristas iniciaram essa greve em maio. Os atores começaram sua paralisação na quinta-feira (13). Segundo os sindicatos, há um impasse entre os representantes da indústria e os grevistas, sem sinalização de uma resolução no curto prazo.

Entretanto, para os analistas, no curto prazo não haverá impacto para as ações ou os lucros das empresas. Pelo contrário: as paralisações podem resultar em ganhos financeiros.

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Segundo os analistas, a maior parte dessas empresas ainda estão adaptando os seus negócios para fechar as contas, mas algumas apresentam cenários mais promissores do que outras. Para o Goldman Sachs, por exemplo, a top pick do setor é a Warner Bros. Discovery (DISCB).

Segundo o GS, as ações da Warner têm um potencial de valorização de 60% nos próximos 12 meses. Dos atuais US$ 13, os papéis chegariam ao preço-alvo de US$ 20.

Entre os catalisadores estão o pagamento de US$ 1 bilhão em dívidas que irá desalavancar a empresa, o lançamento do streaming Max (com a união da HBO com a Discovery), forte bilheteria com o filme “Barbie” e possível venda de parte do catálogo de filmes e músicas.

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Já para o Bank of America, a Netflix (NFLX) está à frente de seus concorrentes, caindo no gosto dos analistas após a sua política de repressão ao compartilhamento de senhas.

Segundo o relatório do BofA, a empresa teve quatro dias seguidos de recorde de assinaturas em quatro anos após anunciar o programa. Os analistas calculam que a receita anualizada poderá aumentar em US$ 2 bilhões nos EUA e US$ 1,2 bilhão nos demais países.

Além disso, eles veem a empresa melhor posicionada para as greves de roteiristas. “A Netflix pode utilizar cláusulas de força maior em contratos existentes, especialmente os grandes que não estão gerando o retorno esperado, para interromper a produção e reduzir os gastos com conteúdo”, diz o relatório.

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O preço-alvo estipulado pelo BofA para 12 meses é de US$ 490, frente aos US$ 475 atuais.

Blindagem da greve

André Kim, sócio e analista de investimentos da GeoCapital, diz que o impacto nas ações e no lucro das empresas de mídia depende muito de quanto tempo irá durar a greve.

“Um prazo de três meses é facilmente gerenciado pelas empresas. Elas podem trabalhar os conteúdos que estão em fase de pós-produção e adiantar alguns títulos. A questão é o prolongamento dessa paralisação por muitos meses”, diz.

Em relatório, os analistas do Goldman Sachs destacam que a última greve (exclusivamente) de roteiristas aconteceu em 2007 e durou cerca de três meses. Para eles, a paralisação será considerada prolongada se durar mais de 100 dias.

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Para o curto prazo, as companhias afirmam estarem preparadas. Segundo o Goldman Sachs, a administração da Paramount (PGRE) afirmou ter uma ampla gama de conteúdos como reality show e programação de esportes – ambos não afetados pela greve – para usar.

A Netflix teria se preparado previamente com um acúmulo de roteiros antes da greve, conforme o Bank of America, para seguir com novos conteúdos durante a paralisação. Além disso, eles destacam a produção internacional da empresa, que é mais barata e segue funcionando com boas entregas. “Se a greve fosse temporária, poderia ser um ponto positivo modesto para a Netflix”, diz relatório do BofA.

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Questão de tempo

No entanto, a linha é tênue entre os ganhos financeiros com menos custos de produção no curto prazo e os prejuízos com a escassez de conteúdo que poderá afugentar assinantes.

“É imprevisível o impacto para os números das empresas. Pode acontecer de ter uma variável impactando negativamente, mas outra coisa positiva puxar de um outro lado”, diz Alberto Amparo, head de análise internacional na Suno Research.

Para ele, o cenário pode ser dividido entre as empresas que devem sair mais prejudicadas e outras que podem ganhar com a greve. As empresas de TV a cabo devem ter um impacto mais negativo, segundo Amparo, enquanto os streamings devem ter menos perdas.

“TV por assinatura não tem gravações com tanta antecedência como acontece com os streamings. Isso pode prejudicar a programação e a permanência do assinante, que já está em declínio”, diz Amparo.

Para a rede de TV a cabo dos EUA AMC Networks (AMCX), o Goldman Sachs tem uma recomendação neutra, com preço-alvo para 12 meses de US$ 20 – equivalente a uma valorização de 42,8% frente aos atuais US$ 13,97.

A Fox Corporation (FOXA) tem uma recomendação de venda pelo banco americano. Os analistas esperam uma desvalorização de 15% no prazo de 12 meses para as ações da empresa. O preço cairia dos atuais US$ 33,19 para US$ 28.

Conta em aberto

André Kim, da GeoCapital, acredita que as chances dos estúdios conseguirem um acordo mais vantajoso para eles é maior do que a dos roteiristas e atores alcançarem as suas demandas.

“Aqui, é importante entender que esses atores não são os astros de Hollywood com salários milionários. São atores novatos, figurantes, coadjuvantes. E o mesmo se aplica aos roteiristas”, diz Kim. “Essas pessoas não conseguem segurar uma greve por meses porque precisam de salários. Então, no momento que o bolso apertar, as chances de aceitar um acordo que hoje não é aceito é maior. Essa é a expectativa das empresas.”

O CEO da Disney, Bob Iger, deu declarações em que se mostrou pouco favorável a negociações. Segundo ele, as exigências dos grevistas não são realistas e o momento é o pior possível.

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Alberto Amparo, da Suno Research, afirma que, embora no balanço o lucro dessas empresas seja de milhões, as despesas e custos de produção também são de milhões.

“Empresas de streaming estão com problemas de geração de caixa livre há algum tempo. O investimento em produção de conteúdo é gigantesco, não é como se elas estivessem nadando em dinheiro e pagando pouco para ter mais retorno. O cenário não é esse”, diz Amparo.

Para o sócio da GeoCapital, a indústria mudou em níveis muito profundos que exigem uma adaptação grande por parte da área. “Produções para a TV nos moldes antigos não existem mais. O orçamento era maior, o período de produção também, assim como a quantidade de equipe contratada. Mas, hoje, estamos falando do streaming, que funciona de outra forma”, diz.

As séries passaram de 22 capítulos para cerca de 8 a 10 capítulos. De poucas dezenas de produções anuais, atualmente são centenas de produções para ter lançamentos mensais. Produções autorais não são mais vendidas para outras emissoras ou outros países, tudo entra no catálogo próprio de distribuição mundial. A receita vem de assinaturas e poucas publicidades.

“Os orçamentos são menores, porque não existe uma certeza de retorno. Produções como ‘Last of Us’ ou ‘Anéis do Poder’ não são a regra. São pontuais”, diz Kim. “A audiência também não é algo claro, porque as empresas de streaming não abrem esses números, são estratégicos para o negócio e elas não querem que a concorrência tenha conhecimento.”

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