Dois terços dos investidores mantiveram menor alocação em renda variável em agosto, mostra levantamento

Cautela pode estar ligada ao fato de que clientes acreditam que o maior risco para a Bolsa neste ano está nas eleições presidenciais, indica estudo da XP

Bruna Furlani

B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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O otimismo que ajudou o Ibovespa a subir 7% em agosto não parece ter se refletido em ajustes de posição direcionados a ativos de risco por parte de investidores. Pesquisa da XP Investimentos mostrou que dois terços (66%) dos clientes de assessores de investimento da corretora optaram por deter uma alocação baixa – entre 0% e 25% – em renda variável no mês de agosto.

Por outro lado, 26% dos investidores detinham entre 25% e 50% em renda variável no mesmo período. Já 7% possuíam uma exposição entre 50% e 75% e apenas 2% eram mais agressivos e detinham posições acima de 75% em renda variável.

O estudo também mostrou que somente 17% dos investidores pretendiam aumentar a alocação nessa classe de ativos, na avaliação de assessores.

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A cautela entre os investidores se assemelha à visão adotada por gestores de fundos multimercados do tipo macro. A alocação de fundos multimercados do tipo macro em Bolsa brasileira era de apenas 4,8%, abaixo da média de 12% registrada nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Guide Investimentos.

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Posições em renda variável externa também estavam abaixo da média. Segundo o mesmo estudo, a alocação atual dos portfólios no Ibovespa e no S&P 500 é menor do que 10% (4,8% para o Ibovespa e 2,3% para o S&P500), ante uma média de quase 25% nos últimos três anos. O levantamento levou em conta dados dos últimos 30 dias até 19 de agosto.

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Renda fixa e diversificação

Diante de um cenário mais conturbado e de juros elevados por mais tempo, assessores disseram que a maior parcela dos investidores seguiu mais interessada em aplicar no Tesouro Direto e em renda fixa (72%), seguida por fundos imobiliários (65%), fundos de renda fixa (63%) e fundos multimercados (56%).

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Investimentos internacionais, fundos de renda variável, criptoativos e ouro vieram na sequência, elencados com 20%, 18%, 12% e 3%, respectivamente, nas preferências dos investidores.

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Na comparação com os dados de julho, o estudo mostra que cresceu o interesse por fundos imobiliários (+10 p.p), fundos de renda fixa (+5 p.p), multimercados (+8 p.p), além de fundos de renda variável (+7 p.p). Por outro lado, caiu o interesse por Tesouro Direto e renda fixa (-9 p.p), investimentos internacionais (-8 p.p) e ouro (-4 p.p). Não houve variação significativa na procura por criptoativos.

Entre os destaques da pesquisa, chama a atenção a queda na procura por aplicações em ativos de outros países. De acordo com Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, do time da XP, a diversificação regional, de ativos e de moedas nas carteiras tende a ser uma estratégia vencedora. Por isso, não deve ser deixada de lado.

“Continuamos a acreditar na importância estrutural de ter exposição ao mercado fora do Brasil”, destacam os especialistas da corretora. “Em termos de tamanho, o Brasil representa menos de 1% do mercado de ações global, e investir só em ações brasileiras é ignorar de 99% das oportunidades oferecidas por diversas empresas globais”, acrescentam.

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Eleições e economia brasileira no radar

Um dos motivos que pode ajudar a explicar a cautela em adotar uma posição maior em renda variável é a eleição. Cresceu o número de investidores que acreditam que o maior risco para a Bolsa neste ano está na corrida à Presidência, passando de 19%, no levantamento anterior, para 32% agora, segundo estudo da XP.

Pesquisas eleitorais apresentadas nesta quarta-feira (31) mostraram a manutenção da liderança na disputa pelo Palácio do Planalto. Levantamento do Ipespe, encomendado pela XP Investimentos, por exemplo, mostrou hoje que Lula detém 43% das intenções de voto – oscilação negativa de 1 ponto percentual em relação ao último estudo, feito em julho. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, tem os mesmos 35% da pesquisa anterior.

Já a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (31), indicou que a disputa pelo Palácio do Planalto segue estável. Ambos os líderes na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), aparecem com variação percentual negativa de 1 ponto percentual, na pesquisa estimulada (aquela em que o entrevistador oferece opções para a escolha do entrevistado).

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Lula tem 44% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro soma 32%. Na pesquisa divulgada em 17 de agosto, o petista tinha 45% e o atual presidente registrava 33%. O placar da nova sondagem repete o resultado do levantamento divulgado em 3 de agosto.

Além de eleições, outros riscos monitorados na sequência pelos investidores são a desaceleração econômica para 25% dos investidores (recuo de 7 p.p em relação à pesquisa passada), seguido pelos riscos fiscais (19%, queda de 3 p.p na comparação com julho).