Do zero aos R$ 8 bilhões: nascida em plena pandemia, Genoa Capital atrai investidores com apostas táticas na América Latina

No 41º episódio do podcast "Outliers", André Raduan explica por que investe em juros de Chile e Colômbia, enquanto espera queda de até 10% no Ibovespa

Equipe InfoMoney

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Como é a experiência de abrir um novo negócio em plena pandemia? No caso da Genoa Capital, gestora de fundos nascida em junho de 2020, não foi nada mal. Com uma captação feita em apenas dois meses, o primeiro fundo da Genoa Capital – que logo em seguida se fechou para novos depósitos – já contabiliza um patrimônio líquido de R$ 8,2 bilhões, aproximadamente.

Lançado em paralelo com a fundação em si da gestora, o fundo multimercado de estratégia macro em pouco tempo cresceu de forma acentuada. E, então, uma segunda estratégia foi colocada para rodar. Em abril deste ano, a Genoa apresentou ao mercado uma nova carteira, essa do tipo long biased, focada no mercado de ações, e ainda aberta para captação.

André Raduan, sócio e gestor da Genoa Capital, é o convidado do 41º episódio do podcast “Outliers”, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, acompanhado de Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP, e Lucas Collazo, analista de fundos e estrategista de alocação da Rico Investimentos.

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A escolha da gestora é por mirar suas alocações no Brasil e na América Latina, onde se consideram de fato especialistas. Para Raduan, esse DNA ajuda a diferenciar a Genoa do perfil de outras gestoras.

Além disso, outro diferencial é fazer uma gestão mais tática e ativa dos fundos, bem como operações cruzadas. Ele cita estar tomado em juros, o que individualmente reflete uma postura mais otimista – mas, ao mesmo tempo, os fundos estão comprados em câmbio, que individualmente é pessimista.

Assim, o book todo funciona em um cenário de atividade econômica fraca, que é a previsão de Raduan para os próximos anos no Brasil. “Muitas casas ficam com posições durante meses, anos. Nosso horizonte é um pouco mais curto, é o que o próprio mercado emergente nos impõe”, explica.

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No que investem os fundos

Lembrando que as apostas podem mudar, pois não são estruturais, a Genoa tem definido suas alocações tendo como cenário base o desaquecimento da economia brasileira e a elevação de juros em diversos países.

Como exemplo, ele cita o Brasil. “Tudo leva a crer que a gente vai chegar em taxa de juros perto de 12%, talvez até mais alta, que vai fazer a economia desaquecer. O PIB do ano que vem tá entre meio e -1%. É um dos poucos países no mundo, dos relevantes, que vai ter queda de PIB em 2022”, acredita.

Há países que, segundo o gestor, ainda estão “atrasados” no ciclo de alta de juros. E é neles em que estão posicionados. “A gente é tomado em juros no Chile e na Colômbia, porque os Bancos Centrais lá ainda têm que levar mais para o restritivo”, diz.

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Por outro lado, Raduan aposta numa queda dos juros futuros no Brasil, uma vez que o Banco Central já está tomando posições restritivas, e está previsto um PIB negativo para ano que vem. “Não tem motivo para ficar com esses juros restritivos por tanto tempo. Então a gente tem uma posição pequena aplicada em vencimentos entre 2025 e 2027”, conta.

Câmbio

Além disso, a escolha da Genoa é por posições que refletem um dólar forte, seguindo o racional de que os Estados Unidos devem retirar estímulos globais, o que é prejudicial para as economias emergentes.

Raduan pontua que, enquanto os EUA têm a possibilidade de dar um auxílio emergencial maior e de acomodar parte da inflação decorrente desse movimento, será necessário elevar as taxas de juros para conter uma alta dos preços mais persistente.

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“A China tem dado sinais de desaceleração econômica sem grandes reações do governo, junto com provável aperto monetário nos Estados Unidos. É um ambiente mais adverso para mercados emergentes”, esclarece.

Pior momento para renda variável

O risco fiscal, a desaceleração econômica, as altas taxas de desemprego e de juros, junto com a queda do PIB no Brasil, além do risco externo, tornam o ambiente “bem ruim” para a renda variável, de acordo com Raduan. “Você tem a taxa de juros, o custo de oportunidade, bastante elevada. Com lucros piorando, vai ver uma migração de renda variável para renda fixa”, prevê.

Por isso, a Genoa aposta na queda do Ibovespa. “A gente tem algo em torno de 5% a 10% ainda para a Bolsa cair e corrigir os preços. Essa é a maior posição do fundo”, expõe.

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E o gestor também antevê a continuidade de um risco fiscal desafiador para 2022. “O pano de fundo do país é uma perda de apoio político para o teto de gastos, e o Brasil saiu da pandemia com uma dívida PIB alta, a segunda maior dos emergentes. Então a gente tem que cortar gastos. O Brasil flerta com a beirada do precipício, depois volta um pouco”, completa.

Estratégia

“A gente é meio nerd, vai a fundo no processo longo de coleta de dados. Temos quatro caras nessa parte de dados e modelagem”, conta Raduan, sobre os diferenciais da Genoa em relação a outros multimercados.

Na prática, isso significa olhar no detalhe a parte macro, coletar dados bem específicos sobre inflação e atividades econômicas, como informações de cartões de créditos, por exemplo, para fazer projeções econômicas.

Para isso, contratam empresas que apuram as referências in loco – e quando possível, pela internet –, para ter em paralelo aos comunicados dos governos. Isso já significou colher dados nos portos da China, por exemplo, e olhar emissões de calor do país via satélite, para ver se a atividade econômica estava se acelerando. “Onde a gente consegue ter presencial, a gente faz”.

A entrevista completa e os episódios anteriores podem ser conferidos pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcasts.