Petrobras agrada com dividendos, mas analistas já buscam substitutas – e uma “junior oil” leva a melhor

Acionistas da estatal aprovaram pagamento integral de dividendos pelo 4º trimestre de 2022; receio era de que valores fossem retidos em reserva estatutária

Katherine Rivas

(Shutterstock)

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A Petrobras (PETR4) está no paredão dos analistas de dividendos. Embora ainda não tenha sido eliminada de todas as carteiras recomendadas, começa a parecer um consenso a percepção de que o volume de dividendos de 2022 – quando a estatal distribuiu mais proventos do que a soma das outras empresas da B3, sagrando-se uma das maiores pagadoras do mundo – não se repetirá.

Nem todas as notícias são negativas no quesito remuneração aos investidores, é bem verdade. Os acionistas aprovaram em assembleia geral nesta quinta-feira (27) o pagamento integral dos proventos relativos ao quarto trimestre de 2022, de R$ 2,86 por ação, depositados em três parcelas – uma em maio, outra em junho e a terceira em dezembro. No mercado, o receio era de que a decisão fosse por reter um valor de até R$ 6,5 bilhões para a formação de uma reserva estatutária, como o conselho havia sugerido, o que não aconteceu.

Preocupa, contudo, a eleição de três membros para o Conselho de Administração que haviam sido rejeitados pelo Comitê de Elegibilidade e a governança corporativa da companhia.

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Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o sinal é claro: com o novo Conselho, a política de dividendos da companhia deve mudar, provavelmente no sentido do padrão de distribuição de 25% do lucro líquido.

“Mesmo sem a criação da reserva estatutária, o espaçamento maior na distribuição de dividendos em três parcelas já mostra que, caso haja novas distribuições de proventos em 2023, elas serão muito menores”, afirma.

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Outros analistas enxergaram com desconfiança o depósito dos dividendos em três vezes. “O adiamento da distribuição de uma parcela para dezembro segue sendo uma intervenção clara da União quanto aos seus interesses. Eles ganhariam tempo para criar a reserva estatutária na próxima assembleia”, avalia Sidney Lima, analista da Top Gain.

Lima pondera que as ações já precificam a nova gestão e a expectativa de redução dos dividendos no futuro. Por isso, quedas fortes não são esperadas por enquanto. Os proventos, no entanto, devem ficar pressionados.

Os mais otimistas enxergam que movimentos da gestão que afetem os investidores minoritários não devem ser vistos no curto prazo. Para Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, alteração no payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) e na política de distribuição só devem se concretizar em 2024.

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Os analistas acreditam que a empresa manterá a lucratividade enquanto durar a atual política de paridade internacional para os preços dos combustíveis, mesmo com as projeções de preço para o petróleo do tipo Brent estarem entre US$ 70 e US$ 90 o barril neste ano, abaixo do ano passado.

“Existe uma demanda mais fraca por conta da desaceleração da economia global, dados os juros elevados, e da reabertura tímida da China. No lado da oferta, tem a Opep+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados] fazendo de tudo para que os preços sigam elevados, o que deve ajudar a manter a cotação do petróleo”, aponta Arbetman, lembrando que o custo de produção da Petrobras varia de US$ 40 a US$ 50 o barril, em média.

Para o analista, a dúvida é a destinação do lucro da companhia. “Se antes tínhamos uma visão mais clara sobre a remuneração, hoje prevalecem os investimentos”, destaca. Um indício dessa preferência é a criação de uma diretoria de transição energética e energias renováveis.

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Hora de vender?

De modo geral, para quem tinha Petrobras na carteira com foco nos dividendos, a recomendação de vários analistas é garantir os proventos de R$ 2,86 mantendo a ação até a “data ex” – que é nesta sexta-feira (28) – e vendê-la nas próximas sessões, enquanto ainda apresenta valorização.

“Para quem quiser vender, o preço dos papéis ainda está atrativo”, destaca Erick Sala, especialista em investimentos da DV Invest. Ele não enxerga mais a Petrobras como uma alternativa de renda passiva, mas aponta que poderia ser uma boa oportunidade para valorização, desde que o investidor esteja ciente dos riscos e tenha uma posição pequena na carteira.

“A Petrobras é uma das maiores do setor a nível mundial, responsável por toda a dinâmica de preços derivados atrelados ao petróleo no Brasil. Isso traz uma atratividade muito grande ao negócio”, aponta Lima, da Top Gain, reforçando a oportunidade para quem busca valorização ou diversificação no setor de commodities – mas não para quem quer dividendos.

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Outros, como Arbetman, permanecem neutros na ação e esperam ver os resultados da companhia no primeiro trimestre deste ano. Na Ticker, a expectativa é de que a Petrobras ainda pague dividendos elevados em 2023, com uma taxa de retorno de 15% a 30%. Mas variáveis como cotação do dólar, preço do petróleo e retenção de lucros devem ser observados com atenção, segundo Sanches.

“Acredito que para 2024 haverá mudanças, com queda no payout e alta no capex [investimentos] conforme projetos de expansão sejam aprovados. Apesar disso, o nível das ações me parece atrativo e não recomendamos a venda no horizonte de médio prazo”, diz Sanches.

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, espera que a Petrobras alcance um dividend yield de 8% a 10% neste ano, mesmo com uma parte do caixa sendo direcionada para investimentos. Contudo, ele acredita que “o risco não compensa”, e aproveitar a valorização para sair do papel pode ser uma alternativa – antes que novos ruídos acabem afetando o preço das ações.

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Candidatas a substitutas?

Será difícil alguma companhia do setor de petróleo, ou mesmo de toda a Bolsa, replicar o volume de dividendos da Petrobras no último ano, concordam os analistas. Para os interessados em investir no segmento, no entanto, há alternativas entre as chamadas “junior oils“.

3R Petroleum (RRRP3), Petrorecôncavo (RECV3), Prio (PRIO3), que é a antiga PetroRio, e Enauta (ENAT3) poderiam se encaixar em uma estratégia de valorização. No quesito dividendos, no entanto, três delas possuem uma posição mais robusta a ponto de poderem começar a remunerar melhor os acionistas.

A que reúne mais indicações é a Petrorecôncavo. Sanches, da Ticker, explica que a companhia tem um modelo de negócios semelhante ao da Prio, investindo na recuperação de campos de petróleo maduros, mas opera apenas onshore – ou seja, em áreas em terra, como refinarias, terminais de petróleo e gás, usinas de geração de energia.

Entre as vantagens, o analista cita que a empresa se encontra em um estágio mais avançado do que a 3R, com geração de caixa e potencial distribuição de dividendos, além de negociar a múltiplos menores do que os da Prio. Entre as desvantagens, Sanches aponta que a companhia não tem uma potencial melhora adicional de resultados, como suas pares.

Para Lima, da Top Gain, o destaque da Petrorecôncavo é a previsibilidade e o histórico de execução, além da atuação anterior na prestação de serviços para a Petrobras desde 2000. Por essas características, ele calcula que RECV3 teria capacidade de entregar um dividend yield de cerca de 10% em 2023. A projeção de Sanches é de 6% a 9% de dividend yield neste ano. “No curto prazo, a única que teria esse potencial é a RECV3, que teve dividendos razoáveis no ano passado”, destaca.

Em 2022, a RECV3 pagou R$ 0,61 em juros sobre capital próprio (JCP) e R$ 0,16 por ação em dividendos aos acionistas. Recentemente, anunciou proventos de R$ 0,44 por ação, que serão depositados no dia 5 de maio.

O Bank of American (BofA) afirmou em relatório, em março, que a Petrorecôncavo poderia se tornar uma opção atrativa para dividendos e recompras de ações em 2023. Na visão da Genial Investimentos, recursos captados pela empresa poderiam ser utilizados para distribuir dividendos ou fazer aquisições. Os analistas esperam um dividendo potencial de até 20% do valor de mercado da empresa.

Para Queiroz, da L4 Capital, é exagero o otimismo do mercado com os dividendos da Petrorecôncavo. “A empresa ainda tem muito investimento para entregar na curva de produtividade e crescimento. Não vislumbro RECV3 como uma boa pagadora de dividendos neste período”, aponta.

A candidata preferida de Queiroz é a Prio, a maior entre as “junior oils”, que compra campos maduros offshore (no mar), reduz custos e faz investimentos para aumentar sua produção e vida útil.

Ele destaca que a companhia tem uma estrutura de capital “leve”. Desta forma, consegue distribuir dividendos e usar o capital de terceiros para fazer novos investimentos. “PRIO3 é uma ação que, no curto prazo, poderia chegar a 8% ou 10% de dividendos”, diz.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.