Pagamento de dividendos “cheios”, mas eleição de inelegíveis: como foi a AGO da Petrobras (PETR4) e as questões daqui para frente

Eleição do Conselho deve abrir caminho para a "nova era" da estatal, com destaque para mudanças nas políticas de preços de combustíveis e de dividendos

Lara Rizério

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A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Petrobras (PETR3;PETR4) da última quinta-feira (27) contou com diversas deliberações importantes e que podem abrir caminho para as estratégias prometidas em campanha pelo presidente Lula e defendidas pelo CEO Jean Paul Prates.

Os acionistas elegeram oito membros do conselho de administração, dois indicados pelos minoritários e seis indicados pelo acionista controlador, incluindo três candidatos que o Comitê de Elegibilidade (Celeg) rejeitou por não cumprir os requisitos da Lei das Estatais (Pietro Mendes, Sergio Rezende e Efrain Cruz).

Ao todo foram aprovadas seis indicações do governo: Bruno Moretti, Pietro Mendes, Jean Paul Prates, Efrain Cruz, Sergio Rezende, Vitor Saback. Mendes também foi eleito presidente do colegiado com 53,49% dos votos, pouco mais do total dos votos da União (50,26%), ante 27,78% votos contrários. Destes conselheiros majoritários, só Prates, atual presidente da empresa, se declarou não-independente da União.

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Também foram eleitos, com votos de acionistas minoritários, o empresário Juca Abdalla e o advogado Marcelo Gasparino, reconduzidos ao colegiado. Ambos foram eleitos com o maior número de votos, relativos a mais de 7 bilhões de ações ordinárias cada um.

Adicionalmente, o conselho aprovou a distribuição de dividendos do 4T22, incluindo o valor retido pagamento de R$ 0,50 por ação a ser pago em dezembro de 2023.

Os acionistas também aprovaram um ajuste na remuneração fixa dos administradores da companhia em 13,6%, proposta pela Secretaria de Coordenação e Governança de Estado Empresas (SEST), em vez  da primeira proposta de reajuste do valor da Índice de Preços ao Consumidor (INPC) para o período de 2013 a 2022 (43,9%).

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Para o Credit Suisse, a aprovação dos dividendos foi o evento principal – e bem-vindo. No entanto, a eleição de três membros do Conselho que foram anteriormente rejeitadas pelo Comitê de Elegibilidade podem levantar uma bandeira amarela sobre a governança corporativa da estatal.

O Citi vê o saldo final da AGO como negativo para a tese de investimento na companhia, com a nova diretoria tendo os três nomes não aprovados pelos comitês internos. “Adicionalmente, o dividendo foi aprovado pelos acionistas, mas não será pago integralmente em duas parcelas. O valor da atual fórmula de dividendos será pago apenas em dezembro, o que não é o melhor cenário para os acionistas da Petrobras”, aponta.

O Itaú BBA também aponta que a eleição de conselheiros que receberam recomendações negativas dos comitês internos da Petrobras já era esperada. O Goldman Sachs, por sua vez, observa que a eleição de membros não aprovados pelo comitê de pessoas da empresa pode ser um vento contrário para as ações, também levantando questões sobre a futura alocação de capital da estatal e quaisquer possíveis ajustes na política de preços de combustível.

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“Por outro lado, vemos o pagamento integral dos dividendos como positivo, o que pode indicar a disposição do governo de potencialmente anunciar um novo provento junto com os resultados do 1T23, esperados para 11 de maio (possivelmente atingindo cerca de US$ 4,5 bilhões, de acordo com as projeções do banco)”, avalia o Goldman.

O Bradesco BBI também destaca que, como esperado e feito pelo governo anterior, nomes rejeitados pelos comitês da Petrobras foram para o Conselho. “A boa notícia foi a aprovação dos dividendos do 4T22, o que mostra uma abordagem pragmática deste governo para arrecadar recursos. A questão-chave agora é qual será a nova política de pagamento da PBR e para qual dividendo justo as ações irão convergir”, aponta.

Para o Itaú BBA, a aprovação também da parcela retida de dividendos era em grande parte esperada e, na visão dos analistas, impulsionou as ações nas últimas semanas. No entanto, também tinha a visão (já destacada pelo Citi) de que os investidores esperavam que o provento fosse pago antes da data anunciada de dezembro.

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“De agora em diante, esperamos que as discussões sobre políticas de dividendos e de preços se aqueçam. Devemos esperar mais luz sobre as possíveis mudanças na política de proventos a serem dadas no release de resultados do 1T23 e acreditamos que é mais provável que a empresa opte por suspender a atual política de dividendos e siga a política estatutária até que a nova administração possa ter mais clareza sobre o próximo Plano Estratégico e decidir sobre uma nova política”, avalia o BBA.

O Credit Suisse apontou a decisão de pagar o dividendo “integralmente” como positiva e destacou também o que esperar para o 1T23. “Apesar do barulho político em torno da distribuição do dividendo anunciado nos resultados do 4T22, os acionistas da Petrobras aprovaram o valor integral  de R$ 2,86 por ação  (ou US$ 1,15 por ADR) – o equivalente ao original R$ 2,75 por ação  ajustado para a Selic .

As ações negociam ex-dividendos nesta sexta-feira (28). Os R$ 37,3 bilhões (ou US$ 7,5 bilhões) representam um dividend yield (dividendo em relação ao valor da ação) de 11% para as ações PN e 10% para ações ON. Os pagamentos serão feitos em três parcelas, corrigidas pela Selic até as datas de pagamento: (i) R$ 1,43 por ação em 19 de maio, (ii) R$ 0,91 por ação em 16 de junho, (iii) R$ 0,52 por ação em 27 de dezembro.

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Para o banco, os altos rendimentos de dividendos refletem sua forte capacidade de geração de fluxo de caixa livre.
“De fato, prevemos um forte fluxo de caixa livre para o acionista (FCFE) de US$ 6,5 bilhões no 1T23, ou seja, um rendimento de 9% em um único trimestre na atual cotação. Além disso, se a PBR mantiver sua atual política de dividendos, o dividendo provavelmente será muito substancial, em US$ 4,3 bilhões, ou 6% de rendimento no trimestre”, apontam os analistas.

Assim, o próximo evento para ficar de olho é a divulgação dos resultados, no dia 11 de maio e as novidades em termos de política de proventos . O Morgan Stanley aponta que, entre as petroleiras, a Petrobras deve sofrer com a queda dos preços do petróleo, embora os fluxos de caixa sigam saudáveis. Assim como os outros bancos, o Morgan destaca que os dividendos devem seguir como o grande foco do trimestre.

“Vemos o desempenho mais próximo dos preços do petróleo [com as quedas das cotações da commodity], embora fluxos de caixa ainda muito saudáveis, com os dividendos novamente sendo o principal impulsionador do trimestre”, apontam os analistas.

Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2023 da Bolsa brasileira

Para a Genial Investimentos, a Petrobras deve apresentar resultados que não mostram grandes contratempos em suas operações e surfando bem os preços do petróleo ao longo do trimestre.

“Vale lembrar que especificamente no caso da Petrobras, o resultado deve apresentar queda nas comparações ano a ano muito devido à queda no brent à medida que os preços ao longo do 1T22 chegaram a alcançar US$ 120 o barril no pico de preços versus US$80/barril no 1T23”, avaliam. Os analistas da casa também reforçam que o foco desse trimestre não deverá ser o seu resultado operacional (que deverá ser muito bom), mas o direcionamento do que diz respeito a política de preços, foco do fluxo de investimento.

Com muitas incertezas no radar, analistas mantêm a cautela com os ativos da Petrobras, com Goldman Sachs e Itaú BBA mantendo recomendação neutra para os ativos, Genial Investimentos recomendando venda; o Citi, por sua vez, segue com recomendação de compra para os ativos.

De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 13 casas de análise que cobrem o ADR (recibo de ações negociado nos EUA) PBR (equivalente ao ordinário) da Petrobras, três possuem recomendação de compra, nove de manutenção e um de venda, o que sinaliza a cautela geral do mercado com os ativos. O preço-alvo é de US$ 13,62 por papel, ou um potencial de alta de 18,6% frente o fechamento da véspera.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.