Conteúdo editorial apoiado por

Dividendos: empresas antecipam pagamentos antes da reforma do IR; vale a pena investir?

Outra forma de "driblar" a possível tributação, segundo especialistas, são as recompra de ações, que devem crescer daqui para frente

Mariana Zonta d'Ávila

Publicidade

SÃO PAULO – O anúncio de dividendos extraordinários da Vale (VALE3) na última semana, no valor total de R$ 40,2 bilhões, veio acima do esperado por analistas e surpreendeu o mercado financeiro. E, segundo especialistas consultados pelo InfoMoney, esse movimento deve ser ampliado para outras empresas da Bolsa diante da reforma do Imposto de Renda – abrindo oportunidade para investidores com foco em dividendos.

Isso porque o projeto de lei aprovado na Câmara prevê taxar os dividendos – hoje isentos – em 15%, além de acabar com os Juros Sobre Capital Próprio (JCP). O texto ainda precisa passar pelo Senado.

Segundo Milton Cabral, gestor de renda variável na Bradesco Asset Management (BRAM), o timing da aprovação da reforma do IR será importante, principalmente por conta da anuidade – caso a tramitação termine até 31 de dezembro, as mudanças poderão valer a partir de janeiro de 2022. “Mais que isso, é fundamental que as empresas se adiantem e já sinalizem isso para o mercado”, afirma.

Ebook Gratuito

Como declarar investimentos no Imposto de Renda

Cadastre-se e receba um manual com as informações necessárias para declarar cada tipo de investimento

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Veja Também: Chegou a hora de se preparar para investir em 2022. Veja como

Ainda sem uma definição, mas com a proximidade do fim do ano, algumas empresas têm anunciado o pagamento de dividendos extraordinários e até adiantado a distribuição de proventos.

Além da Vale, outros nomes incluem Banco do Brasil (BBAS3), Movida Locação de Veículos, Copel (CPLE6), Marcopolo (POMO4) e Rede D’Or (RDOR3).

Na segunda-feira (20), a Copel (CPLE6) também anunciou dividendos, no montante de R$ 1,4 bilhão, a serem pagos em 30 de novembro, totalizando um dividend yield (taxa de retorno com dividendo) de 8,1%. A notícia fez as ações da companhia destoarem do sentimento negativo do mercado, em meio à crise da incorporadora Evergrande, encerrando o pregão com alta de 4,7%, a R$ 6,94, enquanto o Ibovespa teve queda de 2,33%.

Na avaliação de Werner Roger, CIO da Trígono Capital, mais companhias devem anunciar o pagamento de dividendos no fim do mês. “Com o trimestre fechado, a empresa vai poder, junto com a contabilidade, ter uma noção do lucro para descarregar todo o JCP que conseguir”, diz.

Janela de oportunidade

Para Jennie Li, estrategista de renda variável da XP, o momento abre oportunidade para o investidor que busca dividendos, com nomes que podem ter corrigido nos últimos meses diante do cenário mais volátil e em meio às discussões sobre a reforma do IR.

“É uma oportunidade, lembrando que, além de o investidor poder ter renda, está investindo na valorização potencial da ação”, diz.

Nesse sentido, a estrategista da XP diz gostar de empresas que já são mais consolidadas e não têm hoje tantas avenidas de crescimento – fazendo sentido recompensar o investidor via dividendos. É o caso de grandes bancos, grandes empresas de commodities e elétricas, que tipicamente pagam mais dividendos e sofreram mais na Bolsa com a notícia da reforma tributária, diz.

A carteira recomendada de dividendos da XP contém cinco nomes. Para setembro, as ações preferidas são Copel (CPLE6), Banco do Brasil (BBAS3), Engie (EGIE3), AES Brasil (AESB3) e Taesa (TAEE11).

“No cenário macro atual, de incerteza fiscal e política, o stock picking [seleção a dedo das ações] é a forma mais favorável de investir, porque todas as preocupações macro puxaram a Bolsa para baixo, mas os bons fundamentos das empresas permaneceram”, diz Jennie.

Enrico Cozzolino, analista da casa de análise Levante, defende que o pagamento de dividendos ao acionista é sempre positivo e que o cenário atual oferece uma janela de oportunidade para quem tem essa estratégia de investimento.

Ele destaca, contudo, que é importante que o investidor entenda o porquê de a empresa distribuir proventos no momento atual: se é para adiantar o pagamento por conta da taxação de proventos; se a empresa não tem mais onde investir – terá lucro hoje, mas um crescimento menor no futuro; ou se a empresa possui muito caixa e por isso está distribuindo dividendos.

Que empresas estão na fila?

Dentre as empresas que podem adiantar o pagamento de dividendos em meio à reforma tributária, Roger, da Trígono, cita Mahle Metal Leve (LEVE3) e Tronox Pigmentos (CRPG5).

“Metal Leve pagava 100% do lucro em 2019, mas aí veio a Covid-19 e não pagaram mais. A qualquer momento podem distribuir, porque têm caixa livre e não têm dívida. Calculamos hoje um yield acima de 10% para a companhia”, diz.

Já com relação à Tronox Pigmentos, Roger lembra que a empresa distribuiu R$ 50 milhões em julho. “É uma empresa que tem muito caixa, sem dívida e, com a tributação dos dividendos no Brasil, deve aproveitar para descarregar todos os proventos possíveis”, avalia.

Leia mais:
Ações de crescimento ganhando, bancos e utilities perdendo: como o fim do JCP e os dividendos taxados podem afetar a Bolsa

Em relatório divulgado no começo de setembro, o Bradesco BBI avalia que o pagamento de dividendos especiais no segundo semestre deste ano deve vir principalmente do setor de bens de capital.

Segundo os analistas do banco, há potencial para aumento de 1,6 ponto percentual na média de dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) direcionados pela WEG (WEGE3), Mahle Metal Leve (LEVE3), Tupy (TUPY3) e Iochpe Maxion (MYPK3).

Além disso, durante o “Gerdau Investor Day”, em setembro, executivos da siderúrgica afirmaram que poderão antecipar para este ano o pagamento de dividendos a acionistas referentes a 2021, inicialmente previstos para serem pagos em março.

Como escolher

Para Cabral, da BRAM, o que vai determinar se uma empresa é boa pagadora de dividendos é a capacidade dela de gerar caixa e investir menos em manutenção.

O executivo reforça que costumam ser empresas geradoras de caixa, robustas, com pouca dívida. Isso acontece porque são companhias grandes, melhores que concorrentes em vários aspectos e que conseguem captar dívida a preços menores.

Rodrigo Geraldes, head de ações na BRAM, vê o movimento de antecipação do pagamento de dividendos como uma sinalização de uma estrutural de capital mais positiva. “As empresas estão hoje ficando mais alavancadas com uma estrutura de capital maior – o que pode gerar valor para os acionistas”, diz.

Ainda que o mercado tenha uma percepção positiva com relação ao pagamento de dividendos e isso possa contribuir para o desempenho dos papéis na Bolsa, Cabral reforça que o negócio principal da empresa é sempre mais importante.

Ele cita como exemplo o setor bancário, que historicamente possui um dividend yield acima da média do mercado. Hoje, contudo, o mais relevante para as ações é o ciclo de aperto monetário em curso promovido pelo Banco Central. Isso porque o aumento da Selic implica em spreads maiores na distribuição de crédito, argumenta.

Na carteira do fundo de dividendos da casa, as maiores posições hoje são Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4). Já os bancos respondem por 16% da carteira e ocupam a terceira posição do portfólio.

Outras formas de recompensar os acionistas

Ainda que a taxação dos dividendos possa inibir a distribuição no próximo ano, especialistas consultados pelo InfoMoney destacam que há outras formas de as empresas recompensarem investidores.

Uma delas é a recompra de ações que, segundo Geraldes, da BRAM, deve aumentar em 2022. “O acionista, em geral, recebe bem esse comportamento da empresa. Ao recomprar, ela dá mais liquidez aos papéis, e oferecer liquidez é sempre positivo”.

Outra forma de minimizar a tributação, de acordo com Roger, da Trígono, é antecipar o lucro deste ano. “Empresas que têm caixa ou que conseguem tomar dívida de longo prazo para descarregar o caixa em dividendos podem fazer isso para escapar da tributação do próximo ano”, diz.

Empresas com reserva de lucro ou lucros acumulados também podem aproveitar o momento para distribuir os proventos este ano, segundo Roger.

“O acionista pessoa física recebendo o provento antecipadamente compra mais ações da empresa, com o dinheiro recebido, e aumenta sua participação, o que é positivo para companhia”, avalia.