Dividendos ou Selic? Ações para obter renda de R$ 10 mil investindo R$ 1 mil todo mês

Em 13 anos, seria possível alcançar renda equivalente a R$ 10 mil por mês com os dividendos da Petrobras; para a Taesa, prazo seria de 20 anos

Katherine Rivas

Com a taxa básica de juros estacionada em 13,75% ao ano há seis meses, poucas ações conseguem oferecer dividendos superiores aos rendimentos da renda fixa. Na lista, estão empresas dos setores de commodities, indústria, agronegócio, energia, mineração e construção civil – e figurinhas carimbadas como Petrobras (PETR4), Taesa (TAEE11) e Unipar (UNIP6).

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Companhias como essas reúnem os fundamentos necessários para que o investidor conquiste a liberdade financeira? Levantamentos realizados pelo InfoMoney indicam como obter uma renda mensal de R$ 10 mil com as ações que ainda conseguem oferecer dividendos acima da Selic.

Um levantamento da plataforma TradeMap mostra quais papéis ofereceram os maiores dividend yields (taxas de retorno em dividendos) nos últimos 12 meses e quais são os projetado para os próximos 12. Foram consideradas as ações que integram o Ibovespa e algumas small caps com volume médio diário de negociação na B3 superior a R$ 1 milhão nos últimos 12 meses.

Confira as ações com dividend yield acima do patamar atual da Selic, de 13,75% ao ano:

Ação  Dividend yield nos últimos 12 meses Dividend yield projetado para os próximos 12 meses 
Petrobras (PETR4) 52,94% 71,75%
Petrobras  (PETR3) 49,16% 64,18%
Metal Leve  (LEVE3) 17,67% 15,67%
Kepler Weber  (KEPL3) 16,24% 16,75%
Lavvi  (LAVV3) 16,10% 15,47%
Brasilagro (AGRO3) 15,69% 21,63%
CSN Mineração  (CMIN3) 14,79% 20,38%
Taesa  (TAEE11) 14,48% 17,84%
Unipar  (UNIP6) 14,32% 18,84%

Fonte: TradeMap. Obs: O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 22/03/23. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP do mesmo período.

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Como receber dividendos mensais de R$ 10 mil com essas ações?

Uma simulação realizada Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, indica que é possível começar com investimentos de R$ 1.000 por mês nas ações que pagam bons dividendos para, no futuro, ter uma renda recorrente e elevada. Mas sem ilusões: é preciso reinvestir os rendimentos e ter paciência, deixando o longo prazo agir.

Por exemplo: considerando um cenário em que as ações não valorizem ao longo do tempo e o dividend yield permaneça semelhante às médias históricas, seriam necessários 20 anos e 11 meses para obter o equivalente a uma renda mensal de R$  10.010,14 com os dividendos da Taesa, uma das companhias mais tradicionais entre os “dividendeiros” da Bolsa.

A simulação considera que o investidor aplicou R$ 1.000 todo mês nas ações da companhia e reinvestiu todos os proventos recebidos no período.

Dentre as ações que ainda têm dividend yield superior à taxa Selic, as da Petrobras (PETR4) são as que permitiriam alcançar a renda mensal almejada em menos tempo: 13 anos e dez meses para obter R$ 10.082,04 por mês com dividendos. Já o prazo mais longo é o da Kepler Weber (KEPL3): 52 anos para chegar a dividendos mensais de R$ 10.024,14.

O estudo considerou como premissas o dividend yield médio das ações nos últimos cinco anos até dezembro de 2022. O objetivo é oferecer uma visão mais realista dos rendimentos das empresas, dado que as do setor de commodities pagaram acima do normal nos últimos dois anos. No caso de CSN Mineração e Lavvi, que não possuem cinco anos de histórico, foi calculado o dividend yield médio desde que foram listadas na B3.

O levantamento considerou a situação hipotética de distribuições mensais para todos os papéis (embora a periodicidade de pagamentos variem entre eles), além do reinvestimento dos dividendos somado a aportes de R$ 1.000 todo mês. A maioria das companhias da lista faz pagamentos trimestrais.

Veja no quadro abaixo como obter renda de R$ 10.000 por mês com dividendos fazendo investimentos mensais de R$ 1.000:

Ação  Dividend yield médio anual nos últimos cinco anos Patrimônio necessário para ter renda mensal de R$ 10 mil (considera reinvestimento) Número de ações necessárias Tempo necessário para obter renda mensal de R$ 10 mil (considera reinvestimento) Valor dos dividendos mensais recebidos a partir de então
Petrobras (PETR4) 17,7% R$ 683.420,40 29.206 13 anos e 10 meses R$ 10.082,04
Petrobras  (PETR3) 15,66% R$ 768.936,06 29.226 15 anos e 7 meses R$  10.035,46
Metal Leve  (LEVE3) 6,95% R$ 1.732.348,95 60.891 34 anos e 11 meses R$  10.032,06
Kepler Weber  (KEPL3) 4,65% R$ 2.588.528,25 154.539 52 anos R$  10.024,14
Lavvi (LAVV3) 9,51% R$ 1.261.971,84 253.408 25 anos e 5 meses R$  10.004,87
Brasilagro (AGRO3) 8,9% R$ 1.358.974,76 54.164 27 anos e 4 meses R$  10.078,77
CSN Mineração  (CMIN3) 13,67% R$ 878.854,50 195.301 17 anos e 9 meses R$  10.009,03
Taesa  (TAEE11) 11,65% R$ 1.031.420,60 29.596 20 anos e 11 meses R$  10.010,14
Unipar  (UNIP6) 13,22% R$ 917.175,00 12.229 18 anos e 8 meses R$  10.105,11

Fonte: Niels Tahara, da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a cotação das ações no fechamento de 21/03/2023. Não foi levada em conta a variação dos preços ao longo dos anos. 

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Esperar mais de uma década para ver o fruto dos investimentos é um teste de paciência. No entanto, a evolução dos dividendos ocorre ano a ano, conforme novos aportes e o reinvestimento dos proventos acontecem.

Na simulação, em cinco anos um investidor da Taesa já teria conquistado uma renda mensal de R$ 755,26. Já em dez anos, chegaria a R$ 2.119,33 (quase o dobro de um salário mínimo atual), e em 20 anos seria de R$ 8.902,45 por mês, conforme indica a tabela abaixo:

Ação  Valor dos dividendos mensais recebidos depois de cinco anos Valor dos dividendos mensais recebidos depois de dez anos Valor dos dividendos mensais recebidos depois de vinte anos
Petrobras (PETR4) R$ 1357 R$ 4656,12 R$ 31731,19
Petrobras  (PETR3) R$ 1136,57 R$ 3636,34 R$ 20928,67
Metal Leve  (LEVE3) R$ 399,86 R$ 973,86 R$ 2932,63
Kepler Weber  (KEPL3) R$ 253,95 R$ 578,98 R$ 1505,71
Lavvi  (LAVV3) R$ 591,94 R$ 1555,53 R$ 5587,63
Brasilagro (AGRO3) R$ 539,44 R$ 1392,05 R$ 4787,62
CSN Mineração  (CMIN3) R$ 948,62 R$ 2841,92 R$ 13945,58
Taesa  (TAEE11) R$ 755,26 R$ 2119,33 R$ 8902,45
Unipar  (UNIP6) R$ 873,42 R$ 2580,61 R$ 12226,28

Fonte: Niels Tahara, da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a cotação das ações no fechamento de 21/03/2023. Não foi levada em conta a variação dos preços ao longo dos anos. 

As queridinhas dos analistas

Embora companhias como a Petrobras tenham dividendos projetados de até 71% nos próximos 12 meses, se mantiverem o padrão de lucro e remuneração do último ano, especialistas destacam que rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro. Desta forma, nem todas seriam ideais para uma estratégia de aportes mensais para viver de renda.

Entre as alternativas mais “seguras” no momento, os analistas citam Taesa (TAEE11), Brasil Agro (AGRO3) e Lavvi (LAVV3).

A transmissora de energia Taesa é reconhecida pela previsibilidade de receitas nos contratos, corrigidos pela inflação. Por este motivo, variações bruscas no valor repassado aos acionistas são pouco prováveis de acontecer, afirma Renato Reis, analista da DVInvest. “Devido ao setor, a companhia prefere pagar dividendos a investir na própria operação, que possui mais limitações”, afirma.

Há, contudo, pontos de alerta. Um deles é que o lucro da Taesa vem recuando desde 2021. Segundo Reis, isso ocorre pelos impactos do fim de algumas obras que inflaram temporariamente os balanços. “A Taesa ganha dinheiro com transmissão. Mas quando expande as linhas de transmissão, precisa construí-las, o que lançado como receita e custo”, explica. Reis aponta que, no fim das obras, tanto a receita como o custo recuam e os dividendos podem ser menores em 2024.

Apesar disso, a visão é otimista. Reis projeta um dividend yield de 9,8% para 2023 e 2024. Para quem busca dividendos, é recomendada a compra de TAEE11 abaixo dos R$ 28.

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Daniel Nigri, fundador da Dica de Hoje Research, cita que o endividamento da Taesa também demanda atenção. Contudo, o analista argumenta que a empresa tem entregado projetos com menos investimento e prazo do que projetado, o que é positivo para a geração de caixa. Ele estima dividendos de R$ 3,80 a R$ 4 neste ano, equivalentes a uma taxa de 10,5% a 11%.

Embora o agronegócio seja um setor cíclico, alguns analistas acreditam que os fundamentos da Brasilagro são capazes de proporcionar segurança ao investidor de dividendos no longo prazo.

Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, explica que a companhia trabalha com compra, desenvolvimento e maturação de terras – esta última feita com o cultivo e venda de commodities, principalmente milho, algodão e soja.

Por conta dessas duas receitas, a Brasilagro acaba se beneficiando tanto com a valorização das terras quanto com o aumento de produtividade, destaca Tahara, da Benndorf.  O analista aponta que a companhia tem poucas dívidas, o que também contribui com o retorno dos acionistas. “A empresa tem a vantagem de vender terrenos férteis, um forte diferencial dela”, diz.

Tahara reconhece que as commodities agrícolas são cíclicas, o que nem sempre combina com dividendos, mas enxerga a Brasilagro como uma boa oportunidade dado o crescimento do agronegócio no Brasil, o plano de expansão da empresa e suas vantagens competitivas.

Já o risco é uma queda acentuada no preço das commodities agrícolas, que afetaria o lucro e os dividendos. “Eles estão reciclando terras e devem vender algumas em 2023, o que pode aumentar a distribuição. Mas a Brasilagro deve entregar pelo menos 5% de dividend yield”, diz.

Paletta acredita que a Brasilagro tenha capacidade de pagar pelo menos 8% de dividend yield neste ano. O preço-alvo para AGRO3 é de R$ 31 nos próximos 12 meses. Mesmo com dividendos menores, Paletta afirma que isso se traduziria no maior crescimento e valorização das ações, o que resultaria em dividendos maiores no futuro.

“O ano de 2023 tende a ser um ano de menores dividendos, mas surpresas podem vir da venda de novas terras, que ainda operam em níveis recordes”, diz Paletta.

A construtora Lavvi também tem atraído a atenção dos analistas, apesar de estar em um setor que enfrenta altos e baixos. Reis, da DVInvest, explica que a companhia trabalha no segmento imobiliário de alta renda, que sofre no cenário de juros elevados. Apesar disso, a Lavvi vem entregando bons dividendos, mesmo com o mercado de construção fraco.

“Quando o ciclo da construção virar, ela deve pagar mais. Mas caso o mercado siga igual, os dividendos elevados devem se manter”, aponta Reis.

Segundo ele, a Lavvi tem fundamentos para entregar bons resultados a partir de 2024. O dividend yield projetado para 2023 é de 8%, ainda com os juros e inflação elevados. Para 2024, a expectativa é de juros menores e dividendos de 27%. “Recomendamos a entrada na ação até o patamar de R$ 5,40, com preço-alvo de R$ 7,20”, diz.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.