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Disparada de juros nos EUA faz soar sinal preocupante em mercados emergentes

Efeito externo reduz pela primeira vez desde a Covid os prêmios de ações em relação aos retornos da renda fixa; entenda

Bloomberg

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Uma anomalia rara observada em tempos de extremo estresse voltou a aparecer nos mercados emergentes.

A queda de preço dos títulos do Tesouro dos EUA na esteira da disparada dos retornos nesta semana acelerou também a liquidação de títulos de dívida dos países em desenvolvimento, fazendo com que o rendimento dos títulos rastreados pelo índice Bloomberg EM Aggregate Sovereign Index atingisse o maior patamar em um ano, de 8,93%, na terça-feira (4).

O valor excedeu o ganho sobre dividendos de 8,63% sobre as ações acompanhadas pelo índice MSCI Emerging Markets Index, alterando a relação esperada entre os rendimentos de títulos e ações, que normalmente oferecerem uma taxa mais elevada de retorno, dado o risco da renda variável.

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Nos mercados emergentes, este prêmio tem oscilado normalmente na faixa dos 2 a 6 pontos percentuais ao longo das últimas duas décadas, mas entrou em terreno negativo duas vezes: durante a crise financeira global em 2008 e durante o “crash da Covid”, em 2020. Em ambas as ocasiões, as perdas nos mercados emergentes não diminuíram até que os rendimentos dos títulos americanos começaram a cair.

“É da liquidação dos títulos dos EUA que vem o risco – para as ações dos EUA, para créditos de mercados emergentes de baixa classificação e, indiretamente, um risco para as ações globais”, disse Charles Robertson, chefe de estratégia macro da FIM Partners. “A história não nos diz que devemos presumir uma grande reversão nos rendimentos dos títulos dos EUA.”

A anomalia normalmente dura apenas alguns dias. No início deste ano, foi observada brevemente no crédito privado, quando o rendimento de títulos denominados em dólares emitidos por empresas de mercados emergentes excedeu o retorno esperado dos lucros das suas ações, calculado utilizando estimativas de lucro como percentagem dos preços dos papéis.

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Dessa vez, pode novamente desaparecer rapidamente, à medida que os retornos dos treasuries de dez anos recuaram quatro pontos-base nesta quarta-feira (4), para menos de 4,8% – mas, na semana, subiram 30 pontos-base.

Prêmios de risco

Para os investidores na dívida soberana dos mercados em desenvolvimento, os sinais de um mercado de trabalho forte nos EUA (antes dos dados de emprego no setor privado, que vieram abaixo do esperado) alimentaram a preocupação de que as taxas de juros nos EUA permaneceriam elevadas.

A liquidação que se seguiu elevou as chamadas taxas livres de risco dos títulos dos EUA e da Europa para os níveis mais elevados em mais de uma década. Os rendimentos dos títulos de mercados emergentes refletiram esse movimento, bem como a subida conjunta dos prêmios de risco soberano para a máxima dos últimos três meses.

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“Os preços não são nem de longe tão extremos como em 2008-09, mas as dívidas de mercados emergentes tornam-se mais atrativas à medida que aumentam os rendimentos dos EUA”, disse Robertson.

Entretanto, as ações dos mercados emergentes perderam quase US$ 100 bilhões em valor de mercado na terça-feira (3), elevando o prejuízo dos acionistas desde julho para US$ 1,5 bilhão. No entanto, uma recuperação modesta nas estimativas de lucros ajudou a manter as avaliações sob controle, com o indicador MSCI passando a ser negociado a 11,6 vezes os lucros projetados, em comparação com a média de cinco anos, de 12,3 vezes.

© 2023 Bloomberg L.P.

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