Em depoimento, “Faraó do Bitcoin” nega operar pirâmide e é chamado de “Madoff tupiniquim”

Empresário prestou depoimento por videoconferência da penitenciária de Catanduvas (PR), onde está preso

Lucas Gabriel Marins

Glaidson dos Santos, o "Faraó do Bitcoin," presta depoimento à CPI (Vinicius Loures / Câmara dos Deputados)

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O empresário Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como “Faraó do Bitcoin”, prestou depoimento na quarta-feira (12) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga esquemas de pirâmides financeiras que usam criptomoedas como isca para fisgar vítimas.

Por videoconferência, diretamente da penitenciária de Catanduvas (PR), onde está preso acusado de operar um esquema fraudulento com criptoativos, Santos disse que seu negócio, a GAS Consultoria, nunca foi um esquema Ponzi. “Não sou pirâmide, não era pirâmide e não serei pirâmide”, afirmou.

Santos falou também que a Polícia Federal (PF) foi a culpada pela ruína da empresa, que prometia 10% de lucro ao mês em cima do patrimônio, algo que não é típico no mercado cripto. A PF desmantelou o negócio fraudulento e prendeu Santos em agosto de 2021, no âmbito da operação Kryptos.

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“Pessoas se suicidaram. Pararam de pagar tratamentos médicos. Tudo por conta da paralisação da PF que causou esse desastre. Deixou várias pessoas em situação de vulnerabilidade”, disse Santos.

Além de responder por crimes contra o sistema financeiro nacional, Santos também é investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por seu envolvimento como mandante de um homicídio.

Clientes na CVM

Na CPI, o empresário também falou que mantinha contato com membros da Comissão de Valores Mobiliários (CVM): “Conversei com diversos funcionários da CVM, e muitos eram clientes da GAS”. A autarquia responsável por regular o mercado de capitais foi questionada pela reportagem do InfoMoney sobre a suposta ligação, mas não respondeu até a publicação deste texto.

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A CVM recebeu denúncias sobre o esquema fraudulento em 2019, mas na época disse que o caso não era de sua responsabilidade porque não envolvia valores mobiliários. Após a queda da pirâmide financeira, no entanto, o regulador mudou de entendimento e passou a acusar Santos de operação fraudulenta com valores mobiliários e oferta sem registro e dispensa.

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“Bernard Madoff tupiniquim”

Em um momento da CPI, Santos e o deputado Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR) entraram em um embate. O político disse que o empresário é o típico estelionatário brasileiro, “sempre bem articulado” e com boa oratória. Falou ainda que ele é o “Bernard Madoff tupiniquim”.

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Bernard Madoff é o criador da maior fraude financeira da história dos Estados Unidos, que prejudicou dezenas de milhares de pessoas e deixou um rastro de prejuízo de cerca de US$ 65 bilhões. Ele morreu em abril de 2021, aos 82 anos, em uma prisão no estado americano da Carolina do Norte, onde cumpria pena de 150 anos.

Santos, em resposta ao deputado, pediu respeito. Disse ainda que a GAS teria dinheiro para devolver aos clientes, mas não poderia fazer isso porque os recursos estão nas mãos do estado do Rio de Janeiro.

A Justiça do Rio decretou a falência da GAS Consultoria no início deste ano. Segundo documentos do processo, a empresa tem cerca de 127 mil credores e um passivo de mais de R$ 9 bilhões. A PF afirma que o negócio fraudulento movimentou, ilegalmente, quase R$ 40 bilhões em 10 anos.