Crise não poupa “estratégia Ray Dalio” para minimizar riscos e fundos tombam com EUA imprevisível

Estratégia de paridade de riscos, pensada para navegar em qualquer cenário, também não foi poupada com movimento de fuga para segurança nesta semana

Bloomberg

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Investidores quantitativos que distribuem posições entre ativos de diferentes níveis de risco cambalearam na quinta-feira (21) assim que os mercados abriram em um forte sell-off, refletindo o tom hawkish (pró aumento de juros) do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell.

A queda sincronizada entre ações, títulos e muitas commodities após a reunião do Fed atingiu em cheio a estratégia de investimento conhecida como paridade de risco. Famosa pelas mãos do fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, ela divide um portfólio em ativos com base no risco percebido de cada um, e tende a compor com dívida pública como proteção — mas tende a sofrer muito em caso de liquidação generalizada.

As quedas de ativos cruzados deram ao ETF Rpar Risk Parity (RPAR), que tem US$ 926 milhões sob gestão, seu pior dia desde dezembro, levando o fundo ao seu nível mais baixo em 10 meses. Um indicador-chave da estratégia sofreu uma das maiores quedas este ano.

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O Fed manteve as taxas inalteradas na sua última reunião, mas as projeções trimestrais atualizadas mostraram que 12 dos 19 membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do banco central americano eram a favor de outro aumento em 2023. O aumento das taxas é um problema duplo nos mercados, uma vez que travam a atividade econômica e minam o valor atual de muitos ativos.

Após a reunião, as bolsas americanas tiveram a pior queda desde março. Já o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos, que sobe à medida que os títulos caem, teve o maior salto em três semanas. Já um indicador de commodities da Bloomberg contraiu no maior grau em mais de um mês.

“Durante o boom de 2021, tudo se recuperou – alguns chamaram de ‘bolha de tudo’, com taxas mais baixas (e preços mais elevados dos títulos) contribuindo para valores mais elevados dos preços das ações e dos ativos”, disse George Cipolloni, gestor de carteira da Penn Mutual Asset Management. “O que estamos vendo no lado negativo, na minha opinião, é simplesmente o desenrolar disso.”

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A liquidação em Wall Street também proporcionou ao fundo irmão mais novo do RPAR seu pior dia desde novembro. O ETF Rpar Ultra Risk Parity (UPAR) é uma versão ampliada que busca aumentar os retornos com maior alavancagem.

O RPAR fechou em queda de 2,1% na quinta-feira, enquanto o UPAR caiu 3,1%. No mesmo dia, índice S&P Multi-Asset Risk Parity caiu 1,5%. Os índices ensaiaram recuperação na sexta-feira (22), mas devolveram ganhos e fecharam em queda com o dólar ganhando força — em episódio suficiente para colocar sob holofotes os perigos envolvidos na estratégia de paridade de risco.

As estratégias de paridade de risco assumem diversas formas, mas como geralmente visam um certo nível de volatilidade, são propensas a desfazer posições em momentos de turbulência. Isso lhes dá o potencial de exacerbar os movimentos de preços.

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O Índice de Volatilidade Cboe, que mede as oscilações esperadas no S&P 500, teve na quinta-feira o maior salto desde março. Já o índice ICE BofA Move, que acompanha a volatilidade esperada dos títulos do Tesouro dos EUA, subiu no maior nível em um mês.

O tamanho das posições com paridade de risco em ações e títulos recuou nos últimos meses, de acordo com Parag Thatte, do Deutsche Bank Research. Segundo ele, “um aumento sustentado da volatilidade” faria com que estratégias sistemáticas, incluindo fundos de paridade de risco, reduzissem ainda mais a exposição a ambos os ativos.

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