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Corte no rating dos EUA tira Treasuries da lista de bons ativos? Não para Buffett e mais investidores; entenda

Rebaixamento da classificação de risco pela Fitch pegou o mercado de surpresa, mas os riscos apontados já estavam precificados e não diminuem atratividade

Monique Lima

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Bateu a dúvida, nesta semana, em quem se animou com as taxas de juros mais altas das últimas duas décadas da renda fixa americana. Investir nas Treasuries – títulos de dívida do Tesouro dos Estados Unidos – estava parecendo o melhor negócio, já que são consideradas o investimento mais seguro e estável do mundo. Até a agência Fitch Ratings resolver rebaixar a avaliação de crédito do país.

Do seu nível mais alto (AAA), a Fitch realocou os EUA um degrau abaixo (AA+), dado que o já alto custo da dívida é crescente, há expectativa de deterioração fiscal nos próximos três anos e o país tem problemas de governança em função do aumento da polarização política no Congresso.

Isso quer dizer que as Treasuries dos Estados Unidos deixaram de ser um bom investimento?

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Para boa parte dos grandes investidores, não – inclusive para o maior deles. O bilionário americano Warren Buffett, afirmou que ele não está preocupado com o rebaixamento do rating dos EUA. “Há algumas coisas com as quais as pessoas não deveriam se preocupar, e esta é uma delas”, afirmou à CNBC nesta quinta-feira (4).

A empresa de Buffett, Berkshire Hathaway, é uma das maiores detentoras de títulos do Tesouro dos EUA porque o bilionário gosta da alta segurança e liquidez dos títulos. Ele afirmou que comprou US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro na segunda-feira passada (24) e mais US$ 10 bilhões nesta segunda-feira (31). Ao todo, a empresa detém US$ 104 bilhões em Treasuries.

Assim como Buffet, o banco suíço Julius Baer defende que a implicação imediata da mudança é limitada. “As notas do Tesouro dos EUA continuam sendo um dos ativos mais líquidos e seguros [do mundo], pelo menos em termos de risco da contraparte”, escreveu o analista de renda fixa Dario Messi em relatório.

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O corte na classificação de risco da maior potência mundial não é o primeiro, mas acontece após mais de uma década que a S&P Global tomou a mesma decisão.

Em 2011, a agência de crédito rebaixou a classificação dos EUA para o mesmo nível definido nesta semana pela Fitch: AA+. Pelo menos um dos motivos também foi similar: o risco político após um impasse em relação ao aumento do teto da dívida, como o visto neste ano.

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Embora seja um rebaixamento, Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos, afirma que alguns fatores tornam a mudança muito pequena para os investimentos.

O primeiro ponto é que o novo nível é o segundo maior dentro dos ratings. “Não é como se fosse o que aconteceu com o Brasil, por exemplo, que perdeu o seu grau de investimentos e se viu bloqueado pela política de investimentos de diversos fundos”, diz Rondelli.

A mudança de AAA para AA+ não causa uma saída em massa de capital. No máximo, acende um alerta para um prazo mais longo

Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos

De fato, embora o viés negativo da notícia tenha causado repercussões no mercado de ações e de títulos dos EUA, os efeitos foram limitados. Na quarta-feira (2), o S&P 500, principal índice de ações, caiu 1,38%, enquanto os retornos das Treasuries de 10 anos subiram 0,04 ponto percentual (de 4,030% para 4,074% ao ano).

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Em comparação, em 2011, a queda do S&P 500 foi de 6,7% no pregão seguinte à mudança de rating pela Standard & Poor’s.

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E isso está relacionado com os argumentos apresentados pela Fitch, segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. “Os fatores apresentados já foram percebidos e precificados pelo mercado”, diz Alves. A surpresa foi o rebaixamento acontecer meses depois da discussão sobre o teto da dívida, não as questões fiscais apresentadas.

“Bolsas na Ásia e na Europa reagiram de forma negativa pelo aumento da percepção de risco com a Fitch sinalizando uma possível recessão nos EUA”, diz Alves. “Porém, os investidores que saíram das ações foram procurar proteção onde? Nos títulos das dívidas americanas. O próprio dólar valorizou frente aos pares.”

AA+ é o novo AAA?

Richard Francis, principal analista da Fitch nos EUA, afirmou ao The Times que é improvável que os Estados Unidos recuperem a classificação de risco original tão cedo. Para Rondelli, da Valor Investimentos, é possível que a Moody’s – terceira e última das principais agências de crédito globais – também reveja a sua classificação Aaa para o país no curto prazo.

“Para que aconteça uma elevação para o nível mais alto novamente é necessário que os problemas apontados no relatório sejam resolvidos. Melhorias na governança política, na relação dívida/PIB e no custo de crédito”, diz Rondelli. “Nada disso parece possível de resolver no curto prazo.”

Longe disso. Pela primeira vez em mais de dois anos, o Tesouro dos EUA anunciou o aumento da sua venda de dívidas de longo prazo. Até então, as emissões estavam concentradas em títulos mais curtos. Na próxima semana, está prevista a venda de US$ 103 bilhões em títulos de três, dez e 30 anos.

Os leilões devem testar o apetite do mercado para as dívidas do país. Porém, os analistas não veem dificuldades para as vendas.

O investidor não tem muito para onde correr. Os Estados Unidos continuam sendo uma economia sólida. Está pior do que era antes? Sim. Mas está melhor do que várias nações desenvolvidas neste momento

Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos

Mas há quem literalmente esteja apostando contra – e não que isso seja algo ruim para os investidores. O bilionário Bill Ackman afirmou na rede social X (antigo Twitter) que está “vendido” nos títulos do Tesouro dos EUA de 30 anos.

Segundo ele, as taxas desses títulos estão baixas frente às mudanças estruturais que acontecem no mundo. Ackman acredita em uma inflação global persistente de 3% nos próximos anos, sem chances de chegar aos 2% que são a meta do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Se isso se concretizar, os juros de longo prazo terão que se atualizar.

A posição “vendida” do bilionário se dá devido à marcação a mercado dos títulos americanos. A correlação entre o preço e os rendimentos dos títulos é negativa. Quando os juros são corrigidos para cima, os preços caem. E o inverso também é verdadeiro.

Para Ackman, as taxas dos títulos de 30 anos devem chegar a 5,5%. Atualmente, esses papéis estão com rendimento de 4,2% – que é o maior desde o início de novembro passado. Caso chegue na projeção do bilionário, os preços das Treasuries devem cair, rendendo lucros com a posição “vendida”.

“Muitas vezes na história o mercado de títulos reprecificou o final da curva longa em questão de semanas, e esta parece ser uma dessas vezes”, escreveu o investidor.