Como os fundos de ações que mais renderam em 2018 se saíram em 2019

Levantamento mostra que nenhum dos 10 melhores fundos de 2018 repetiu colocação em 2019; destaques do ano passado tiveram desempenho muito acima de 2018

Pedro Ladislau Leite

SÃO PAULO – Fundos que encabeçam as listas de melhores do ano são tentadores. Atraídos por retornos bem acima da média, alguns investidores mergulham de cabeça nesses produtos, dando por certo que os ganhos irão se repetir e sem analisar nenhum outro critério.

O problema é que esse raciocínio não permite enxergar a volatilidade dos fundos que conseguem chegar ao topo em janelas tão curtas quanto 12 meses. A decepção é, portanto, quase inevitável quando as perdas acontecem, levando o investidor a resgatar a aplicação, em geral, no pior momento.

A comparação dos dez melhores fundos de ações de 2018 com os de 2019 ilustra o sobe e desce que marca essas listas. O comportamento dos top 10 de 2018 em 2019, e vice-versa, também mostra o grau de oscilação, que é frequente nesses produtos.

Ainda que o resultado seguinte tenha sido positivo, o levantamento mostra que nenhum dos dez melhores fundos de 2018 repetiu sua colocação em 2019. E os melhores do ano passado tiveram um desempenho muito melhor do que haviam registrado em 2018 – subiram, em média, 54 pontos percentuais em relação ao resultado anterior.

Líder em 2019, o fundo Guepardo Institucional havia fechado 2018 com resultado negativo da ordem de 11,6%. Naquele ano, o fundo chegou a perder mais de 13% apenas no mês de junho, quando as ações da Cosan, então sua principal posição, caíram 9,3%.

O mesmo vale para a HIX Capital, que saiu do vermelho, em 2018, para terminar o ano seguinte com alta de 63%.

Já no grupo dos melhores de 2018, os fundos seguiram com resultados positivos no ano seguinte, ainda que três tenham ficaram abaixo do forte desempenho do Ibovespa.

Com base em dados da Economatica, foram considerados para o levantamento somente fundos não exclusivos, com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas no fim de cada ano. Foram excluídos fundos setoriais e monoações, assim como foram eliminados do estudo fundos espelho.

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Guilherme Anversa, sócio e gestor da XP Advisory, explica que um fundo com melhor desempenho em determinado ano geralmente é mais arrojado, com uma carteira mais concentrada. Essa estratégia é mais dependente de casos específicos de sucesso, que turbinam os retornos. Desse modo, não é de se esperar que ele dispare ano após ano.

“Geralmente são gestores fundamentalistas que acertaram na veia”, conta, lembrando que, em geral, são produtos que olham dois ou três anos à frente. “Eventualmente não será no primeiro ano que a posição do gestor irá se materializar.”

Anversa aponta que o desempenho dos líderes de 2019 exemplifica como a tese de alguns fundos pode não se concretizar durante um ano, mas se consolidar em períodos seguintes.

No caso da HIX Capital, o ano de 2018 foi um dos mais desafiadores para o fundo, escreveram os gestores da casa, em carta publicada no início de 2019. “As variáveis macro dominaram os movimentos do mercado e tornaram os fundamentos das empresas temporariamente menos relevantes. Este não foi o primeiro teste de robustez que passamos como empresa, e temos certeza que não será o último. Seguimos fiéis aos nossos princípios e filosofia de investimento.”

Eles perderam quase 8% por conta de uma posição comprada em Biotoscana, pior investimento do fundo. O papel recuou quase 60% naquele ano.

A HIX destacava, na ocasião, que a volatilidade associada às eleições brasileiras e o ambiente externo incerto reduziram a liquidez de empresas de menor capitalização. Em meio à turbulência, contudo, os gestores indicavam que resultados melhores viriam adiante.

“Diversas oportunidades bastante interessantes vêm à tona neste ambiente onde algumas empresas perderam liquidez, e, por consequência, foram excluídas dos filtros de análises da maioria dos investidores”, afirmaram os gestores da casa. “Acreditamos que o nosso portfólio é composto de excelentes empresas, posicionadas em mercados interessantes, administradas por profissionais competentes e precificadas com margem de segurança significativa para os seus valores intrínsecos. Ao longo do tempo, estas deveriam ter evoluções de preços similares às evoluções de sua lucratividade.”

Desde sua criação, em 2012, o fundo da HIX subiu 276,5%, contra um Ibovespa de 103,3%.

Como escolher um fundo?

Embora o vaivém entre os melhores fundos de cada ano seja mais forte para o mercado de ações, diz Anversa, a escolha de fundos com base apenas nesse ranking é uma decisão ruim também para outras classes de ativos.

“É a pior forma para selecionar um gestor, você vê apenas uma fotografia do passado dele”, destaca. “Com certeza você vai cair em alguma armadilha.”

Do ponto de vista quantitativo, que é mais fácil para o investidor acompanhar, ele recomenda que se analise a rentabilidade em janelas mais longas, com pelo menos três anos. Segundo o gestor, isso ajuda a entender como o fundo se comportou ao longo do tempo, em diferentes cenários.

Outro ponto importante é avaliar as quedas, levar em conta o quanto um gestor perdeu ao longo do caminho. “Faz parte de um grande gestor passar por períodos difíceis. Você tem que entender se aguentaria passar pelo pior momento dele.”

Essa análise evita que o investidor escolha um fundo que esteja fora de seu perfil de risco, apesar de bem gerido. Anversa lembra que até mesmo os melhores fundos de ações da década, segundo classificação feita pelo InfoMoney em parceria com a escola de negócios Ibmec, passaram por oscilações ao longo de suas trajetórias.

“Os três fundos premiados tiveram uma janela de perdas de mais de 20%. São nesses momentos que o investidor se assusta, o fundo cai e ele sai no pior momento, deixando de pegar o retorno composto no tempo.”

Ele aconselha ainda que os investidores não limitem seus universos de observação aos rankings anuais. Isso porque gestoras com retornos menos explosivos, porém mais consistentes, não aparecem com frequência em levantamentos de curto prazo.

“Existem casas que olham mais o retorno composto ao longo do tempo. Não necessariamente vão aparecer no primeiro quartil de retorno, mas consistentemente vão estar no segundo quartil”, conta. “Há diferentes formas de se ganhar dinheiro, mas alguns gestores acabam prejudicados por não aparecerem nesses rankings.”

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Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.