Petrobras com payout de 40%? O que esperar dos dividendos da Petrobras com nova política de preços

Em 2023, os dividendos já devem ter redução, mas ainda continuam acima das empresas da Bolsa. Até quando ficar no papel?

Katherine Rivas

Photo by Wagner Meier/Getty Images

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A nova política de preços de combustíveis da Petrobras (PETR3;PETR4) foi bem recebida por uma parcela dos agentes do mercado – havia quem esperasse um cenário radical, de congelamento de preços ou subsídios para importação. Diante das mudanças mais “suaves” que o imaginado, as ações da petroleira chegaram a subir mais de 3% ao longo do pregão desta terça-feira (16), refletindo alívio do mercado.

Para os dividendos, contudo, a perspectiva não é animadora, na visão de alguns analistas.

Segundo analistas consultados pelo InfoMoney, há um consenso: embora a nova política de preços de combustíveis não seja tão ruim quanto a verificada durante o governo da presidente Dilma Rousseff, o abandono da paridade com os preços internacionais do petróleo deve provocar uma redução na lucratividade da companhia – o que vai respingar nos dividendos.

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Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, explica que os novos preços de gasolina e diesel serão formados levando em consideração o custo do cliente, valorizando a perspectiva dos compradores de longa data ou que adquirem um volume maior.

“Isso será positivo para distribuidores, como Ultrapar (UGPA3) e Vibra (VBBR3) , que podem ter acesso a valores mais competitivos”, destaca. Outro elemento da nova política é o custo marginal da Petrobras, que leva em consideração o custo de oportunidade e logística, segundo Arbetman.

O analista aponta que, com esse cálculo, a companhia pode considerar tanto o petróleo no mercado nacional quanto na exportação. Por isso, mesmo sem existir uma relação direta com o preço internacional do petróleo, é possível que os valores lá de fora exerçam alguma influência, afirma.

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Passamos de um cenário A para um cenário B, que é pior do que A. Mas existia a possibilidade de preços congelados ou de uma política que subsidiasse os valores de importação, e não houve nada disso

Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos

Para ele, mesmo se tratando de uma mudança negativa, o mercado responde bem porque não há extremos.

O analista afirma que no balanço do primeiro trimestre já foi possível perceber que o preço de transferência de exploração e produção para o refino deixou de ser apresentado. Segundo ele, o preço do barril de petróleo no mercado internacional integrava a receita e representava um custo para o refino.

Em sua visão, com os preços menores que a nova política da Petrobras pode favorecer, as receitas e as margens da empresa serão pressionadas. Atualmente, a margem Ebitda varia em torno de 65% e 70%, um patamar que deve recuar. “Com margem maior e preço competitivo, sobra mais dinheiro para pagar dividendos. Possivelmente, ao longo do tempo, vai sobrar menos”, pontua.

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Para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, há alguns pontos complexos na nova política de preços. Ele considera que o cálculo do custo marginal da Petrobras e o custo de oportunidade englobam uma série de fatores que podem não ser identificados com facilidade por quem não faz parte da companhia, dificultando a tarefa de analistas e associações.

Outro aspecto diz respeito ao diesel. O Brasil importa o equivalente a 15% a 30% do consumo do combustível por ano pela ausência de capacidade de refino.

Colocando a gasolina abaixo da paridade internacional, não haverá problemas de abastecimento. Mas o diesel tem um limite. Se ficar abaixo do mercado internacional, as importadoras podem parar de trazê-lo para o Brasil, gerando desabastecimento

Flávio Conde, da Levante Investimentos

Por outro lado, Conde considera que a ausência de uma periodicidade definida para o reajuste dos preços de gasolina e diesel – que vinha acontecendo praticamente toda semana – pode ser positiva para a economia, mas péssima para a Petrobras. “Se houver um evento inesperado e o petróleo disparar 20% no mercado, essa alta vai demorar para ser repassada, e a companhia pode ganhar menos no período”.

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Na visão de Conde, a rentabilidade e os dividendos vistos na Petrobras no primeiro trimestre deste ano não devem se repetir. Para ele, a lucratividade da companhia no segundo trimestre já será menor, e o impacto mais forte virá na segunda metade do ano.

Apenas uma elevação do preço do petróleo, na faixa dos US$ 90 o barril, poderia amenizar a situação da empresa. Embora não seja seu cenário base, o analista trabalha com valores entre US$ 70 e US$ 80 o barril em 2023.

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Dividendos, até quando?

Uma mudança na política de dividendos da Petrobras já é esperada pelo mercado – embora a direção da empresa já tenha sinalizado que não limitará as distribuições aos clássicos 25% do lucro líquido.

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Para Conde, o que deve afetar o pagamento de proventos é a política de investimentos da Petrobras, com a perspectiva de que a empresa destine até R$ 270 bilhões para o segmento de energia eólica. Essa consolidação, segundo ele, deve ocorrer até 2024.

Atualmente, a política de dividendos da Petrobras estabelece uma remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões nos exercícios em que o preço médio do petróleo do tipo Brent for superior a US$ 40 o barril. Este valor pode ser distribuído independentemente do nível de endividamento da empresa.

Se a dívida bruta for igual ou inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobras precisa distribuir aos acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos – desde que isso não comprometa a sustentabilidade da companhia. Os pagamentos são trimestrais.

Um ponto de consenso entre os analistas é que isso deve mudar, com as novas distribuições atreladas a uma parcela do lucro líquido da Petrobras. É o famoso payout, métrica adotada comumente entre as companhias listadas na Bolsa.

Conde espera que o payout comece a ser reduzido gradualmente em 2023, para algo em torno a 50% do lucro no segundo trimestre, para depois recuar até os 40% na segunda metade do ano. É com esse patamar que ele acredita que a companhia trabalhará em 2024 também.

Mesmo com a nova política de preços de combustíveis, Conde ainda espera que a Petrobras pague entre R$ 5 e R$ 6 de dividendos por ação neste ano, equivalente a um dividend yield de 19% a 22,7%. “Ainda é superior a outras empresas da Bolsa e outras petroleiras”, avalia.

Contudo, Conde não tem recomendação de compra. Ele defende que o investidor mantenha o papel enquanto a companhia continuar sendo rentável e acompanhar os reajustes de preços da gasolina e diesel. “Permaneça, mas próximo da porta de saída”, completa.

Para Arbetman, da Ativa, os recursos para proventos ficarão mais escassos. O analista espera que o payout da Petrobras fique em 30% a 40% do lucro na nova política de dividendos. “Os dividendos vão secar? Não, mas possivelmente o dividend yield ficará abaixo de 10%”, defende o analista.

Segundo ele, com um retorno em dividendos abaixo de dois dígitos, o investidor precisará avaliar se vale a pena manter as ações, dado o risco político de uma empresa como a Petrobras. “Não temos Petrobras na carteira de dividendos, porque acreditamos que não vale a pena correr o risco”, destaca.

Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, também acredita que o risco não compensa. Para ele, mesmo que a companhia continue lucrativa, a rentabilidade dos acionistas vai ser menor, com dividendos mais baixos. “A empresa já está sinalizando que a política de dividendos vai ser modificada e vai fazer novos investimentos”, diz.

Sua expectativa é de que o payout da empresa seja de 25% a 35% do lucro, com um dividend yield de 12% a 14% em 2023 – dos quais 7% já foram representados pela distribuição de R$ 24,7 bilhões (R$ 1,89 por ação), a serem pagos em agosto e setembro.

Mesmo com dividendos acima de 10%, Nigri defende que a Petrobras nunca foi adequada para uma estratégia de dividendos, dada a falta de recorrência nos pagamentos. Para ele, uma empresa recorrente deve ter dez anos contínuos de distribuições, o que não aconteceu com a Petrobras – de 2014 a 2017, a empresa não fez pagamentos.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.