Com quedas de 30% no ano, fundos de dividendos começam a se recuperar em abril

Apesar de revisões na política de remuneração de empresas, gestores mantêm as principais posições das carteiras, com predominância de elétricas e bancos

Lucas Bombana

SÃO PAULO – A crise do coronavírus tem levado diversas empresas a rever sua política de remuneração aos acionistas. Petrobras, Localiza e Fleury postergaram a data de pagamento dos dividendos, enquanto Lojas Renner, Energias do Brasil e Wilson Sons reduziram o montante a ser pago. Há ainda casos como do IRB Brasil, que está reavaliando a distribuição a ser feita.

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Já no setor financeiro, os bancos sofreram uma imposição do Conselho Monetário Nacional (CMN), que limitou o pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio neste ano ao mínimo de 25% estabelecido por estatuto.

As medidas, contudo, não foram relevantes o suficiente para fazer com que gestores de recursos alterassem de maneira estrutural o portfólio de fundos de dividendos. Setores tradicionalmente com grande representatividade nesses veículos, como utilities (serviços públicos) e bancos seguem presentes nas carteiras.

Segundo especialistas de casas como Vinci, XP Asset, Western e 4UM Investimentos, no médio e longo prazo, a tendência é que as empresas desses segmentos retomem sua política de remuneração aos acionistas normalmente, devendo voltar aos níveis pré-crise ao longo dos próximos anos. Por isso, não haveria por que trocar as principais posições por uma questão conjuntural.

As mudanças marginais realizadas foram mais por uma questão de preço do que por modificações nas premissas das teses de investimento. “Não necessariamente vamos atrás de empresas que pagam dividendos recorrentes. Não nos importamos tanto se o dividendo de um ano for de 10% ou de 2%”, afirma Marcos Peixoto, gestor da XP Asset.

“Quando montamos o portfólio de dividendos, nos preocupamos com a capacidade da empresa de pagar proventos no longo prazo”, diz o gestor, acrescentando ver com bons olhos a decisão das companhias de reter o pagamento no momento. “A prioridade agora realmente tem de ser a liquidez.”

Defensivas na crise

As pagadoras de dividendos têm em comum o fato de serem grandes geradoras de caixa, característica que as torna uma opção mais conservadora dentro da Bolsa quando a volatilidade aumenta. Por conta desse seu perfil intrínseco, elas tendem a cair menos que a média do mercado em ondas vendedoras, e também a subir menos na hora da retomada.

Em um contexto excepcional como o atual, por conta da crise do coronavírus, nem essas carteiras têm sido poupadas.

Em 2020, até o dia 24 de abril, enquanto o Ibovespa caía 35%, o Idiv, o índice de dividendos da Bolsa, recuava 32%. Considerando o início da fase mais aguda da crise no mercado local, a partir de 21 de fevereiro, o índice de dividendos perde 31,40%, contra uma desvalorização de 34,36% do Ibovespa.

Entre os dez maiores fundos de dividendos da indústria (veja tabela abaixo), nenhum perde para o Idiv ou para o Ibovespa no acumulado do ano até 24 de abril, ainda que as perdas cheguem a 30%. Chama mais atenção, contudo, o desempenho em abril, quando os fundos selecionados mostram uma retomada expressiva, com retornos que superam os 11% no acumulado do mês.

A chacoalhada sofrida pelas ações serviu para que os gestores comprassem empresas de qualidade que ficaram atraentes, e reduzissem o peso em papéis cujo preço já não condizia mais com o risco.

“Diminuímos as posições em elétricas, como Transmissão Paulista, Engie e CPFL”, diz Gleidson Leite, gestor de renda variável da Western Asset. “Por outro lado, entramos em Copasa, que tem um papel que carrega um desconto histórico por ser estatal em um setor com uma regulação menos desenvolvida.”

Gerdau foi outra aquisição recente do fundo da Western, tanto pela magnitude da queda das ações (de 44% entre os dias 21 de fevereiro a 24 de abril) como também pelo fato de a empresa estar bem posicionada para tirar proveito da esperada retomada chinesa à frente dos demais países. Ainda no campo das commodities, a gestora aumentou o posicionamento em Vale.

Apesar das trocas no portfólio, Leite afirma que o movimento foi mais conjuntural, em função da mudança de cenário. “Seguimos com posições relevantes no setor elétrico e em bancos.”

Na XP Asset, uma ação que entrou recentemente na carteira do fundo de dividendos foi da Eletrobras. “Hoje a empresa só opera praticamente com transmissão e geração, a distribuição foi privatizada, o que faz com que ela seja pouco impactada pelos efeitos do coronavírus”, afirma Peixoto.

Multiplan, Iguatemi e BR Malls também foram nomes recentemente adquiridos para o fundo da gestora da XP. “Elas sofreram bastante pelo fechamento dos shoppings, mas olhando para o médio prazo, por mais que os comércios fiquem alguns meses fechados, achamos que o mercado exagerou.”

Convicções reforçadas

Já no fundo de dividendos da Vinci, Iguatemi e CVC foram posições desfeitas nas últimas semanas, muito mais por uma questão macro do que micro, afirma Olavo Tortelli, responsável pela área de ações da gestora.

“Não fizemos novas posições relevantes por conta da queda nos preços durante a crise, mas aumentamos a exposição em papéis que já estavam na carteira”, diz o gestor, citando como exemplos Vale e Eletrobras.

Mineração e energia representam, junto com bancos e tecnologia (Totvs), os maiores setores no portfólio de dividendos da Vinci, com aproximadamente 60% do total.

Aumentar a concentração da carteira, bem como do nível de caixa, que estava perto de zero em fevereiro e subiu para 13% em abril, foram estratégias adotadas pela Vinci em meio à pandemia.

Segundo o chefe de ações da gestora, apesar das incertezas no caminho, as perspectivas para os fundos de dividendos não se alteraram substancialmente e seguem positivas. Cálculos preliminares da gestora apontam que o dividend yield (retorno com dividendos) médio do fundo deve ficar próximo de 5,5% em 2020. Antes do coronavírus, o percentual era de 4,8%.

O aumento esperado se explica pela queda no preço das ações, já que para se chegar ao dividend yield projetado a equação considera o dividendo pago por ação (que irá cair) como numerador, e o valor unitário da ação como denominador (que deve sofrer uma queda ainda maior).

Contra-ataque

Na 4UM Investimentos, (ex-JMalucelli Investimentos), os bancos, com cerca de 30%, representam a maior parte da carteira do fundo de dividendos da casa. Para Giuliano Dedini, diretor de gestão da asset, as instituições financeiras vão aproveitar a obrigação de represar recursos em caixa para ir às compras.

“Os bancos estão em uma posição muito favorável, bastante líquidos, e devem tirar proveito disso para comprar fintechs que estavam comendo pelas beiradas alguns de seus nichos de atuação”, afirma Dedini.

As fintechs, lembra o diretor da 4UM, geralmente queimam muito caixa em seus primeiros anos até se tornarem rentáveis. “O funding que costuma entrar nessas operações caiu drasticamente, o que vai obrigar as empresas a buscar novos parceiros para não quebrar.”

Dada a expectativa de crescimento inorgânico nos próximos meses, Dedini aproveitou a queda recente dos preços para aumentar o posicionamento do setor bancário no fundo de dividendos da 4UM.

Tributação e competição

Segundo Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, pelo perfil mais conservador em comparação com as demais alternativas de renda variável, os fundos de dividendos são uma boa opção à disposição dos alocadores de recursos em períodos de volatilidade.

No entanto, um ponto que merece ser acompanhando com atenção dentro desse mercado se refere à questão tributária, já que, antes da crise, o governo vinha discutindo uma eventual tributação dos dividendos. “Se essa medida for adotada, e se vier sem uma compensação como a redução na alíquota do Imposto de Renda das empresas, poderemos ter mudanças importantes, seja por parte das companhias ou dos fundos.”

Na avaliação do estrategista da gestora de patrimônio, além do risco tributário, a concorrência dos fundos imobiliários pode dificultar o aumento da demanda dos investidores pelos fundos de dividendos. “São dois produtos que estão posicionados no espaço de investidores em busca de renda”, diz o especialista. Para ele, pesa a favor dos FIIs a isenção tributária, enquanto fundos de dividendos têm a seu favor a expectativa de maior retorno no longo prazo.

Marco Bismarchi, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos, entende que os produtos acabam se complementando. “O fundo imobiliário tem suas operações voltadas ao setor específico da construção, enquanto os de dividendos são compostos em boa parte por bancos e elétricas”, afirma.

Para investidores migrando da renda fixa para a Bolsa, os fundos de dividendos podem ser um bom passo inicial por representar uma opção mais conservadora, diz Bismarchi. Na TAG, contudo, a preferência no momento tem sido pelos fundos de valor, nos quais os gestores fazem o stock picking (seleção de ações), gozando de maior liberdade para concentrar os investimentos nos nomes de maior convicção.

“Temos aproveitado a reabertura de fundos de valor de gestores experientes com muitos anos de mercado”, afirma o especialista, que cita Atmos, Velt, Bogari, Absoluto Partners e Equitas como exemplos de casas que receberam aportes da TAG recentemente.

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