Chegou a virada? Fundos de crédito caminham para 1º mês com mais depósitos que saques no ano; entenda

Estudo da JGP mostra que média de resgates nos produtos vem reduzindo mês a mês; gestoras aproveitam momento para comprar ativos e reciclar carteiras

Bruna Furlani

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Os abalos provocados pela descoberta de uma fraude no balanço de Americanas (AMER3) e problemas envolvendo a Light (LIGT3) reverberaram no mercado de crédito privado durante meses. A turbulência teve reflexo também nos valores investidos em fundos, que viram o volume de saídas superar o de novos depósitos.

Após um começo de ano delicado, a indústria de fundos que alocam em crédito privado parece finalmente respirar mais aliviada: as captações líquidas de gestoras independentes (não vinculadas a bancos de varejo) caminham para voltar para o positivo em agosto. É isso o que mostra um estudo feito pela JGP enviado com exclusividade ao InfoMoney.

Segundo o levantamento, os depósitos líquidos (descontados os resgates) em fundos de crédito somam R$ 1,67 bilhão em agosto, no acumulado até segunda-feira (21). Os números levam em conta fundos de gestoras independentes de todas as classes, mas que possuem 50% ou mais da carteira em ativos de crédito.

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O valor é bastante superior ao resgate líquido de R$ 676,27 milhões visto em julho. Um mês antes, em junho, o montante de saídas líquidas chegou a R$ 2,90 bilhões.

Ainda que o mês de agosto não tenha terminado, a melhora considerável nas captações pode ser percebida também nos dados diários. Segundo o estudo, o volume médio captado a cada dia de agosto pelos fundos de gestoras independentes está em R$ 111,33 milhões, enquanto no mês anterior ficou negativo em R$ 32,20 milhões.

Em março, mês considerado o auge dos resgates, as saídas líquidas bateram uma média de R$ 489,28 milhões por dia, conforme mostram os dados da gestora.

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É fato que os números vinham em queda mês a mês após o pico de março, quando os resgates líquidos em todo o mês alcançaram os R$ 11,25 bilhões.

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Embora a indústria de fundos que investem em crédito privado tenha sofrido como um todo, chama atenção que a recuperação dos fundos de gestoras independentes foi um pouco mais tardia.

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Ao levar em conta uma amostra ampliada de fundos, que inclui também carteiras de bancos de varejo, o estudo mostra que agosto caminha para ser o segundo mês consecutivo em que houve mais depósitos do que resgates nesses tipos de produtos, com depósitos líquidos de R$ 3,74 bilhões, acima dos R$ 206,43 milhões vistos em julho.

Assim como nos fundos de gestoras independentes, o maior volume sacado em toda a amostra de fundos que alocam em crédito privado ocorreu em março, quando as saídas líquidas chegaram a R$ 1 bilhão por dia.

De volta às compras

Com as captações voltando para o campo positivo e diante de uma visão mais otimista com o mercado local impulsionada pela queda da Selic, a JGP tem aproveitado o momento para comprar.

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A casa lembra que, do fim de dezembro de 2022 até abril deste ano, houve uma elevação de cerca de 120 pontos-base (1,20 ponto percentual) nos spreads oferecidos por debêntures atreladas ao CDI, conforme mostra o Idex-CDI, índice desenvolvido pela casa para acompanhar as negociações de debêntures com retorno indexado ao CDI.

Já entre abril e agosto, Muller destaca que os spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos) das debêntures recuaram cerca de 60 pontos-base (0,60 ponto percentual).

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“Ou seja, metade da abertura [alta] que tivemos no começo do ano já foi corrigida. Mesmo assim, achamos que os spreads estão elevados para padrões históricos, em especial diante da queda dos juros na curva”, afirma Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP.

Ao olhar para o mercado, o executivo diz que tem aproveitado o momento para comprar títulos de empresas que realizam poucas emissões e que possuem valor de escassez, caso da AutoBAn e TIM. Companhias grandes com vantagens competitivas, que passaram por períodos difíceis e agora têm possibilidade de melhora, como Braskem, também estão na lista.

Reciclagem das carteiras

Diante do fechamento dos spreads no último mês, a Ibiuna Investimentos disse que tem aproveitado o momento para reciclar a carteira de papéis que já subiram muito, como explica Vivian Lee, sócia e CIO da área de crédito

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A casa defende que deve ocorrer um fechamento adicional dos spreads de títulos high grade (de maior retorno e risco), diante da oferta mais limitada no mercado primário e da menor demanda por necessidade de alocação e vencimento dos papéis.

“Há alguns nomes que estressaram um pouco, mas que já fecharam bem, como Sabesp e Taesa. Entendemos que não faz sentido carregar. Vemos pouco espaço para ganhos de capital”, destaca Lee.

Depois de alocar em ativos high grade, Lee diz que a Ibiuna começou a avaliar uma migração para high yield (de maior risco e retorno) e mid yield (de risco e retorno médios).

“Temos visto prêmio em ativos mid yield específicos, como Guararapes”, destaca. Embora seja do varejo, setor que sofreu neste ano, a companhia não tem necessidade de rolagem da dívida no curto prazo e seus papéis oferecem remuneração de CDI mais 8% ao ano, diz a gestora.