CDB hoje: taxas sobem para até 120% do CDI, mas analistas projetam reviravolta em breve

Títulos de inflação têm alta na taxa média enquanto rentabilidade de CDBs prefixados é penalizada antes do ciclo de cortes na Selic

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Após duas semanas marcadas por expectativas em torno do arcabouço fiscal e diminuição nas projeções de inflação, as taxas dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) atrelados ao CDI subiram, com destaque para títulos mais longos.

É o que mostra um levantamento quinzenal feito pela Quantum Finance, a pedido do InfoMoney, que considera títulos emitidos entre o dia 9 e a última segunda-feira (22).

O movimento acontece apesar das projeções de corte na Selic ainda em 2023. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, diz que “os bancos tinham muito spread para trabalhar”. De fato, as taxas recuaram no início de maio, o que pode ter contribuído com os ajustes para cima na última quinzena.

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O especialista, porém, alerta: “A tendência é que as taxas caiam consideravelmente para acompanhar a curva de juros”.

Os CDBs atrelados ao CDI com prazo de 12 meses tiveram o maior salto na taxa média na última quinzena, chegando a 102,65% do CDI, enquanto a média na quinzena anterior tinha sido de 101,93% do CDI. Esses foram justamente os títulos com maior contração na edição passada do levantamento.

O título com prazo de 12 meses e maior rentabilidade – de 116% do CDI – foi emitido pelo Banco Mercantil. Dentre todos os prazos, o CDB mais rentável entre os atrelados ao CDI emitidos na última quinzena também foi do Banco Mercantil e paga 120% ao ano, com vencimento em 24 meses.

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Confira os retornos brutos dos CDBs pós-fixados entre os dias 9 e 22 de maio:

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
3 % do CDI 97,50% 101,69% 106,50% 27 Paraná Banco
6 % do CDI 97,50% 101,24% 106,00% 56 ABC Brasil, BMG, Daycoval
12 % do CDI 90,00% 102,65% 116,00% 63 Mercantil do Brasil
24 % do CDI 98,00% 101,15% 120,00% 76 Mercantil do Brasil
36 % do CDI 100,00% 103,30% 118,00% 47 Agibank

Fonte: Quantum Finance. Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Os títulos atrelados ao CDI com vencimento a partir de 36 meses também passaram a pagar mais: 103,3% na média, ante 102,74% na leitura anterior. A taxa máxima para este prazo – encontrada em um título emitido pelo Agibank – foi de 118% do CDI.

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Entre os CDBs mais curtos, destaque para a alta da taxa média – de 101,41% do CDI para 101,69% do CDI – nos títulos com três meses de prazo. Nesse horizonte, o papel mais rentável –106,5% do CDI – foi emitido pelo Paraná Banco.

Felipe Albani, analista de investimentos do Sicredi, chama atenção para o fato de que as taxas médias para todos os prazos estão todas acima de 100% do CDI, o que garante uma taxa real elevada para o investidor. Papéis com retorno pós-fixado são justamente a preferência do especialista.

Entre os dias 9 e 22 de maio, foram registradas 269 ofertas de títulos atrelados ao CDI. Houve crescimento na comparação com a quinzena anterior; entre 25 de abril e 8 de maio quando foram emitidos 219 papéis com as mesmas características.

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CDBs atrelados à inflação

A emissão de CDBs atrelados ao IPCA também aumentou – de 64 na quinzena anterior para 92 na quinzena terminada na segunda (22).

Destaque para os títulos de curto prazo, com vencimento em 12 meses, que tiveram alta na taxa média, de 6,48% para 6,62% ao ano.

O último boletim Focus do Banco Central mostrou queda nas projeções para o IPCA de 2023. Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, classifica a queda como “significativa”, e destaca a previsão para 2024: “Já vimos revisões para baixo, tímidas, porém mais rápidas do que esperávamos”.

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O retorno médio dos CDBs atrelados ao IPCA com vencimento em 24 meses caiu: passou de 5,79% para 5,67% ao ano. A taxa máxima para esse período também caiu, de 6,40% para 6,25% anuais.

Nos títulos mais longos, com prazo a partir de 36 meses, houve alta na taxa média – de 6,36% para 6,42% – e na taxa máxima – de 6,65% para 6,75%. A taxa mínima caiu de 5,85% para 5,10%. A emissão de CDBs atrelados à inflação com vencimento em pelo menos 36 meses disparou de 47 na quinzena anterior para 76 na última leitura.

Confira os retornos brutos dos CDBs atrelados à inflação entre os dias 9 e 22 de maio:

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
12 IPCA 6,30% 6,62% 6,95% 3 ABC Brasil
24 IPCA 5,10% 5,67% 6,25% 13 Haitong
36 IPCA 5,10% 6,42% 6,75% 76 Haitong

Fonte: Quantum Finance. Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Albani, do Sicredi, avalia que os efeitos da expansão fiscal e como eles ainda afetarão as expectativas de inflação são um ponto de preocupação. Por isso, sugere que o mais adequado para quem quer investir em títulos atrelados ao IPCA é buscar durations (prazo médio ponderado de recebimento de fluxos de um título) de dois a dois ano e meio.

CDBs prefixados

Enquanto o Banco Central ainda não sinaliza com clareza quando o corte da Selic começa, alguns agentes financeiros começam a apostar com mais força nos prefixados. “Estamos recomendando cada vez mais prefixados”, comenta Cruz, da RB.

A remuneração desses títulos vem cedendo nas últimas semanas. A maior parte das taxas máximas recuou na última quinzena, sendo que a queda mais significativa foi de títulos com prazo de 12 meses, em que o retorno saiu de 13,95% para 13,82% ao ano.

Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, projeta corte da taxa básica de juros já em agosto: “Se a taxa permanecer em 13,75% ao ano, haverá aperto monetário, já que há continuidade do movimento de desinflação”.

O retorno médio para papéis de seis meses – prazo mais significativo em número de emissões – subiu de 13,83% para 13,93% ao ano. Foram emitidos 90 CDBs prefixados com vencimento em seis meses na última quinzena, contra 45 no período anterior.

Nos prefixados mais longos, de 36 meses, houve queda nas taxas mínimas (de 12,48% para 11,93%), médias (de 12,64% para 12,32%) e máximas (de 12,80% para 12,73%).

O total de emissões de CDBs prefixados subiu de 124 para 187.

Confira os retornos brutos dos CDBs prefixados entre os dias 9 e 22 de maio:

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos considerados Emissor do título com maior taxa
3 Prefixado 12,31% 13,73% 14,05% 29 Daycoval
6 Prefixado 13,05% 13,93% 14,35% 90 Daycoval
12 Prefixado 12,40% 13,25% 13,82% 58 Daycoval
24 Prefixado 12,05% 12,50% 13,70% 6 Banco XP
36 Prefixado 11,93% 12,32% 12,73% 4 Daycoval

Fonte: Quantum Finance. Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Albani, do Sicredi, também está no grupo dos que sugerem manter alguns papéis prefixados na carteira. Porém, lembra que, ao fazer essa escolha, o investidor está abrindo mão da liquidez. Por isso, sua visão é de que o ideal é combinar o título com algum objetivo financeiro específico e optar por papéis de prazo menor.

“Prazos mais longos são mais indicados para perfis mais moderados, porque as expectativas [de inflação] ainda estão um pouco desancoradas”, alerta.

IPCA-15, PIB e dívida dos EUA

Até o fim desta quinzena, em 5 de junho, a agenda de indicadores tem como foco os números do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos nesta quinta-feira (25), enquanto o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) para abril sairá na sexta-feira (26).

Já a taxa de desemprego no Brasil será divulgada na próxima quarta-feira (31) e o PIB do primeiro trimestre no dia seguinte (1), além do relatório de emprego dos Estados Unidos, no dia 2.

Os números são importantes para que investidores analisem como a economia está reagindo ao aperto monetário e ajustem expectativas para corte de juros no Brasil e pausa nas altas nos Estados Unidos.

Para o PIB do primeiro trimestre, a expectativa de Padovani é de “crescimento mais forte”.

Para balizar a expectativa de inflação, o dado mais importante da quinzena foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de maio, considerado a prévia do IPCA, que é usado pelo governo como referência para o cumprimento da meta de inflação. O indicador desacelerou para 0,51% em maio, abaixo da projeção de 0,64% do consenso Refinitiv.

AZ Quest e banco BV projetam corte da Selic já em agosto. Para Mirella Hirakawa, a projeção está condicionada a dois fatores: aprovação rápida do arcabouço fiscal, que agora tramita no Senado, e confirmação de que o método para definição da meta de inflação não será alterado. O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne em junho para definir a meta de 2026.

O impasse sobre a dívida dos EUA continua no radar dos investidores. O país atingiu o limite de endividamento de US$ 31,4 trilhões em janeiro. O Tesouro tomou medidas extraordinárias que permitiram o financiamento das atividades do governo, mas o país pode dar calote em 1º de junho se o Congresso não aumentar o limite da dívida nacional. Um calote teria implicações sérias para a economia dos EUA – e do restante do mundo.

Por mais que o tema gere preocupação, o mercado espera que republicanos e democratas cheguem a um acordo antes da data limite. “Não devemos ter grande estresse vindo desse evento e um acordo deve sair em breve”, acredita Mirella Hirakawa.