Caso de amor abalado? Poupança tem saques recordes em janeiro, com resgates de R$ 33,6 bilhões

Trata-se do maior volume de retirada líquida mensal desde janeiro de 1995

Neide Martingo

(Feverpitched/GettyImages)

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O caso de amor do brasileiro com a poupança anda estremecido. A caderneta apresentou uma fuga recorde, com resgates líquidos (descontados os depósitos) de R$ 33,63 bilhões em janeiro, de acordo com informações do Banco Central.

Trata-se do maior volume de retirada líquida mensal desde janeiro de 1995, quando começou o levantamento feito pelo BC. O recorde anterior foi registrado em agosto de 2022, um total de R$ 22 bilhões a mais do que os investidores depositaram.

No mês passado, os depósitos somaram R$ 300,78 bilhões, enquanto as retiradas foram de R$ 334,41 bilhões.

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A caderneta de poupança teve o pior resultado da história em 2022, em um cenário de endividamento recorde, juros em dois dígitos, inflação alta e renda comprimida. A retirada líquida foi de R$ 103,237 bilhões durante o ano, quase o dobro do saque registrado em todo ano de 2015 (-R$ 53,567 bilhões), que até então havia sido o ano mais negativo da série histórica do Banco Central, iniciada em 1995.

Em 2020, por sua vez, havia acontecido o recorde positivo, em meio ao auxílio emergencial e à maior tendência das famílias de guardarem dinheiro no início da pandemia de Covid-19.

Após bater recorde de captação em 2020 (R$ 166,3 bilhões), os saques na caderneta de poupança voltaram a superar os depósitos em 2021. Segundo o Banco Central, o saldo na caderneta ficou negativo em R$ 35,497 bilhões em 2020.

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O resultado foi fruto de aportes de R$ 3,410 trilhões e saques de R$ 3,445 trilhões. Como a rentabilidade somou R$ 30,472 bilhões no período, os brasileiros encerraram 2021 com um volume de R$ 1,031 trilhão na aplicação.

Apesar de a poupança mostrar alguns dias de glória, quando os rendimentos bateram a inflação, por conta da alta da Selic, há que se levar em conta que outras opções na renda fixa podem valer mais a pena para o investidor.

Entender o motivo pelo qual tantas pessoas insistem em manter os recursos na caderneta passa por lembrar que se trata de uma aplicação de renda fixa simples e acessível para todo mundo. Até menores de idade podem ter uma conta em seu nome, desde que sejam representados ou assistidos pelo pai, mãe ou responsável legal.

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A poupança é isenta de custos e não há incidência de tributos – os rendimentos não pagam Imposto de Renda. A liquidez é outro ponto positivo. Ao solicitar um resgate, os recursos caem na conta corrente no mesmo momento.

Além disso, os investimentos contam com a proteção do FGC – o Fundo Garantidor de Crédito, mantido pelas instituições financeiras. O FGC assegura que, em caso de calote ou quebra do banco, quem tem dinheiro aplicado na caderneta receberá de volta até R$ 250 mil.

A contrapartida é a rentabilidade baixa. No mês passado, a poupança rendeu 0,71%, enquanto que o CDI ofereceu retorno de 1,12%. Já em doze meses, a rentabilidade, respectivamente, foi de 8,06% e 12,83%.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney