Brasil está bem posicionado, mas eleição obriga a reduzir exposição, diz Guerra, da Legacy

Para o sócio-fundador da casa, o País pode ter uma oportunidade única de se diferenciar neste momento, mas é preciso ter cautela com a volatilidade

Bruna Furlani

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Ainda que o Brasil tenha saído na frente de países desenvolvidos em termos de aperto monetário, o segundo turno das eleições deixam o cenário mais volátil no País. Na avaliação de Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy, o Brasil está bem posicionado no cenário internacional, mas é preciso ter cautela.

“A eleição está mais para 50%/50% do que para um favoritismo”, afirma Guerra. “Eu não ficaria short [apostando na queda] em Brasil. Mas acredito que está num momento de reduzir as posições porque há uma volatilidade enorme”, completa.

O sócio-fundador da Legacy participou de painel organizado pela Bloomberg nesta quinta-feira (6), em São Paulo, juntamente com André Laport, sócio-fundador da Vinland Capital, e Paula Moreira, diretora administrativa de renda fixa, moedas e commodities do Goldman Sachs.

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Na visão de Guerra, o mercado é uma distribuição de probabilidades e há muita insegurança em torno do que será anunciado pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ainda não apresentou detalhes sobre o plano econômico de um futuro governo. “Se tivermos uma visibilidade de continuidade da política econômica, teremos uma oportunidade única de nos diferenciarmos nesse momento”, afirma o gestor, que está otimista, mas prefere manter a cautela.

Laport, da Vinland, também afirma que baixou recentemente o risco do fundo. Segundo ele, em cenários binários como agora, não faz “sentido ter risco”. “Acho que o ponto é a incerteza do plano de governo. É difícil traduzir isso para os ativos”, alerta.

Para o gestor, o Ibovespa tem capacidade para alcançar até 135 mil pontos após as eleições, com a ajuda também de estrangeiros que devem voltar a alocar com mais força no País. Segundo ele, o investidor de fora está atrás de empresas consideradas de crescimento, mas não parece encontrar boas oportunidades em outros emergentes. Tais empresas foram muito penalizadas em um cenário de aperto monetário, porque os preços das companhias tendem a recuar, diante de taxas de desconto mais altas.

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“O Brasil é a bola da vez. Estamos numa situação boa depois de muito tempo”, destaca. Na visão do gestor, o Ibovespa pode andar bem, especialmente se o Federal Reserve (Fed, banco central americano) fizer o que o mercado chama de pivô.

Nesse sentido, Laport acredita que o trabalho do Fed será difícil, já que ele terá que elevar o juro no País para uma taxa terminal entre 5% e 5,5%. Para o profissional, a inflação americana não irá ceder de imediato e os Estados Unidos precisarão entrar em recessão. Segundo ele, a autoridade monetária não será capaz de fazer o chamado pouso suave da economia (soft landing).

Guerra também acredita que o juro nos Estados Unidos terá que subir para acima de 5%. Na avaliação do gestor, o mercado de trabalho americano continua muito apertado, o número de vagas abertas segue em patamar alto e os salários estão elevados.

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Petróleo para cima

Além das preocupações em torno de um aperto das condições financeiras, o gestor da Legacy diz que está atento ao petróleo. Guerra afirma que “há um risco claro de petróleo mais alto”, com a commodity voltando a trabalhar acima de US$ 100.

O sócio-fundador da Legacy observa que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) deve cortar mais a produção, os Estados Unidos estão gastando as reservas adicionais de petróleo e a Rússia pode utilizar o petróleo como arma de negociação. Isso sem contar em uma possível volta de consumo por parte da China com a flexibilização da política de covid-19 zero. “Em algum momento, vai ficar claro que há um desbalanceamento enorme”, afirma o gestor.

Ele não está sozinho. Na visão do Goldman Sachs, o petróleo tem chance de subir acima de US$ 100, porque representa um mercado que sofreu bastante com a falta de investimento nos últimos anos, afirma Paula.