Bradesco entra, Itaúsa sai: 5 ações que pagam bons dividendos para investir em novembro

Analistas ajustam recomendações ao cenário de alta de juros, mirando em ações que podem se beneficiar – ou, ao menos, ser pouco prejudicadas – com ele

Mariana Segala

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A realidade se impôs ao mercado em outubro: a taxa básica de juros da economia brasileira subiu, e persistirá em alta pelo menos durante o primeiro trimestre de 2022. Com a Selic já em 7,75% ao ano e a previsão de que ultrapasse dois dígitos, os analistas precisaram ajustar o rumo das recomendações, mirando em ações que podem se beneficiar – ou, pelo menos, ser pouco prejudicadas – com esse cenário. Não foi diferente nas carteiras sugeridas para os investidores com foco na renda proporcionada pela distribuição de proventos.

As carteiras recomendadas de dividendos costumam ser mais estáveis de um mês para o seguinte, já que as empresas que conquistam o status de “boas pagadoras” normalmente não o perdem no curto prazo. Levantamento do InfoMoney, no entanto, mostra que de outubro para novembro algumas casas fizeram ajustes, considerando o cenário macroeconômico.

Neste mês, as ações preferenciais do Bradesco, por exemplo, ficaram entre os papéis mais recomendados pelas corretoras consultadas pelo InfoMoney, ocupando o lugar de Itaúsa – que estava na lista em outubro.

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A liderança permaneceu com os papéis da transmissora Taesa, mas o segundo lugar – que havia ficado com as ações da Vale – agora está com as da Telefônica Brasil. Ainda que prossigam entre as mais recomendadas, as ações da mineradora perderam parte do apelo neste mês.

Completam a lista os papéis de outra transmissora, a ISA CTEEP, confirmando a preferência dos analistas pelo setor quando o assunto são as companhias que remuneram os acionistas acima da média do mercado recorrentemente.

O InfoMoney divulga uma compilação das recomendações para a estratégia focada em dividendos todo início de mês, selecionando os cinco nomes mais citados pelas corretoras consultadas. O número de indicações pode ser maior, se houver empate. Confira as sugestões para novembro:

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Empresa Ticker Nº de recomendações Dividend Yield em 12 meses (%) Retorno em outubro de 2021 (%) Retorno em 2021 (%) Retorno em 12 meses (%)
Taesa TAEE11 8 12,29 2,29 18,37 46,75
Telefônica Brasil VIVT3 6 7,01 7,07 2,71 14,70
Isa CTEEP TRPL4 5 14,24 0,00 -5,04 18,14
Vale VALE3 5 20,44 -6,07 -3,68 39,11
Bradesco BBDC4 4 5,80 -4,38 -16,92 13,71

Fontes: Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Elite, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora, Itaú, XP Investimentos e Economatica.

Obs: Dados até 31/10/21

Veja abaixo a visão dos analistas para cada ação mencionada:

Taesa (TAEE11)

As ações da Taesa – um dos maiores grupos privados de transmissão de energia elétrica do Brasil, com presença nas cinco regiões do país e quase 13 mil km de linhas de transmissão – voltaram a figurar no topo das recomendações para investidores focados em boas pagadoras de dividendos.

De acordo com o Estatuto Social da Taesa, o dividendo anual mínimo é 50% do lucro líquido ajustado do exercício. Entretanto, os analistas da XP ressaltam que o histórico da companhia é de pagamentos bem acima disso. “Continuamos a ver posição de caixa da Taesa como confortável para manter a distribuição de 100% do lucro”, dizem, em relatório.

Uma das vantagens das empresas de transmissão de energia é o fato de seus resultados não dependerem diretamente da demanda pelo insumo, “uma vez que suas receitas são pré-estabelecidas, com reajustes pela inflação”, conforme destacam os analistas da Ágora.

Assim, a Taesa poderia seguir investindo em novos projetos mantendo a distribuição de uma parcela relevante do lucro. A Ágora calcula que a taxa de retorno com dividendos (dividend yield) da empresa fique em 8,5% ao ano em 2021 e 2022. Já o BTG estima uma taxa maior, de 11,6% ao ano em 2021, e a XP, de 9,8% ao ano em 2022.

Os analistas do BTG ressaltam que a companhia apresenta forte disciplina financeira, com rígido controle de custos e alta diligência na alocação de capital, “buscando sempre bons projetos com alta rentabilidade”. Fora isso, ostenta a mais alta nota de crédito nas três principais agências de classificação de risco (Fitch, Standard & Poor’s e Moody’s).

Telefônica Brasil (VIVT3)

Os últimos resultados e a expansão dos negócios, aliados ao nível de desconto com que suas ações estão sendo negociadas no mercado atualmente, fazem da Telefônica Brasil a segunda principal recomendação para investidores focados em boas pagadoras de dividendos.

“Acreditamos que a Telefônica Brasil apresenta um excelente perfil risco-retorno e, nos preços atuais, uma oportunidade bastante atrativa de investimento, devido à sua sólida geração de caixa e pagamento de dividendos aos acionistas”, destaca relatório do Santander.

Pelos cálculos dos analistas da Ágora, os papéis da empresa têm sido negociados com um desconto de cerca de 20%, se comparados os múltiplos atuais da empresa com a média dos últimos cinco anos. “Estamos mais otimistas com o caso de investimento”, dizem em relatório.

Na visão do Santander, o que sustenta a visão para a empresa é sua sólida rede de cobertura no Brasil, a predominância de público assinante de serviços pós-pagos (segmento de clientes considerado premium), os recentes investimentos em fibra ótica e as novas iniciativas digitais.

“Como esperado pelo mercado, o consórcio composto pela Telefônica Brasil, TIM Brasil e America Movil fez uma oferta vencedora para a divisão de wireless da Oi por R$ 16,5 bilhões. Vemos uma criação de valor significativa com esse movimento de consolidação no mercado”, afirmam os analistas em relatório.

A Guide acrescenta que a empresa teve crescimento nas suas principais unidades de negócio, segundo o balanço do segundo trimestre, impulsionado pelo número de clientes do segmento móvel e de fibra ótica, além de ter apresentado margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima do esperado pelo mercado.

ISA CTEEP (TRPL4)

Também entre as maiores distribuidoras de energia elétrica do Brasil, assim como a Taesa, a ação da CTEEP é a terceira mais recomendada aos investidores interessados em boas pagadoras de dividendos.

Em outubro, o desempenho dos papéis superou o do Ibovespa – um movimento que os analistas da XP atribuem “à percepção defensiva que o segmento de transmissão demonstra em meio a um cenário macro desafiador”.

Embora o Estatuto Social preveja que a distribuição de dividendo mínimo seja o maior valor entre R$ 359 milhões e 25% do lucro líquido do exercício, a CTEEP historicamente faz pagamentos bem superiores a isso. Além disso, está prevista a possibilidade de dividendos extraordinários.

Segundo os analistas da XP, não há no horizonte riscos iminentes pesando sobre o pagamento de dividendos em 75% do lucro líquido regulatório pela empresa, dada a sua posição de caixa confortável e a resiliência do segmento de transmissão de energia.

Nos cálculos da corretora, a taxa de retorno com dividendos (dividend yield) da CTEEP deve ficar em 7,6% em 2022.

Vale (VALE3)

O cenário mais incerto para o minério de ferro e a perspectiva de juros em alta, que eleva a atratividade de papéis como os do setor financeiro, levaram as ações da Vale a perderem algumas recomendações em novembro – em outubro, elas haviam ocupado a segunda posição entre as mais sugeridas para investidores focados em renda com dividendos.

Ainda assim, para alguns analistas a mineradora permanece sendo uma das principais apostas para esse tipo de estratégia de investimento. Na Guide, a avaliação é de que as ações da Vale são negociadas com desconto em relação aos seus concorrentes australianos, o que é motivo para considerar as cotações atuais como bons pontos de entrada na ação.

Na visão da equipe de análise do Santander, apesar dos efeitos adversos da pandemia de coronavírus, a Vale está bem posicionada na indústria global. “Esperamos que a demanda por minério de ferro de alta qualidade continue elevada no curto prazo, em decorrência de medidas de estímulos econômicos adotados na China, como a priorização de obras de infraestrutura, por exemplo, beneficiando a empresa”, ressalta em relatório.

Caso os preços do minério de ferro permaneçam acima de US$ 100 por tonelada no médio prazo, a expectativa do Santander é de que a Vale possa anunciar mais dividendos extraordinários ou um novo programa de recompra de ações. Em setembro, a Vale divulgou a distribuição de R$ 8,19 em dividendos por ação, surpreendendo o mercado.

Bradesco (BBDC4)

Novidade entre as recomendações dos analistas para investidores em busca de dividendos, o Bradesco é visto como uma empresa defensiva em um cenário de juros em alta no país – embora isso ainda precise se refletir nos preços.

“Temos recebido várias consultas ultimamente sobre o mau desempenho recentes das ações de bancos, uma vez que muitos investidores esperavam que o setor ficasse mais defensivo no atual cenário de inflação e juros mais elevados”, dizem os analistas do BTG – que, afirmam, têm uma visão construtiva para o setor.

Justamente por preferirem “exposição a setores com desempenho relativamente melhor em um ambiente de aumento das taxas de juros” que optaram por incluir Bradesco na carteira de dividendos. “A margem financeira com clientes pode crescer acima de 10% em 2022, com as inadimplências e as provisões sob controle”, escrevem os analistas do BTG, estimando uma taxa de retorno com dividendos (dividend yield) de 7,9% em 2022. A taxa Selic, muitas vezes utilizada como referência para avaliar a atratividade do indicador, é de 7,75% ao ano hoje.

Os analistas da Órama, que também incluiu os papéis do Bradesco na carteira, destacam que além da alta da Selic a relevância da concessão de crédito para os negócios do banco, especialmente para grandes empresas (segmento large corporate), é um ponto positivo. “Este será um dos últimos negócios a serem atacados pelas fintechs”, dizem em relatório.

Fora isso, há uma percepção de que bancos como o Bradesco adotaram uma postura conservadora nos provisionamentos pós-Covid, reservando valores elevados nos seus balanços para fazer frente à possível alta da inadimplência de clientes – o que, na prática, prejudica os resultados de imediato. “Esperamos uma reversão dessas provisões nos próximos resultados, o que é mais um fator conjuntural que deverá melhorar os números do banco”, diz a Órama.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney