Atmos vê “combinação poderosa” em ações Brasil: “Pode não dar para absorver demanda”

Para a Atmos, o desconforto generalizado com o mercado de ações é compreensível após um ciclo desfavorável prolongado, mas exatamente por isso representa uma oportunidade

Paulo Barros

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Há quem aposte que a alta recente na Bolsa brasileira já embute um trade de eleições e que, por isso, o preço não está mais atrativo. Não é o caso da Atmos. Em carta divulgada nesta semana, a renomada gestora de fundos de ações voltou a apostar com firmeza na atratividade dos papeis brasileiros, argumentando que o atual momento representa uma oportunidade singular para alocação em bolsa.

A análise sugere que, após anos de desvalorização, os ativos locais oferecem uma combinação rara de valuations deprimidos e perspectivas de melhora no cenário macroeconômico, o que pode impulsionar significativamente os retornos.

“Ao analisarmos as empresas nas quais investimos, notamos um prêmio de equity consideravelmente mais alto do que o observado historicamente”, afirma a gestora, citando a saída de investidores estrangeiros e os resgates forçados de fundos como fatores que pressionaram os preços para níveis excessivamente baixos.

Não perca a oportunidade!

O que motiva o otimismo

A Atmos vê agora a possibilidade de uma reprecificação acelerada dos ativos, apoiada em dois movimentos simultâneos: o fechamento da curva de juros longos e uma redução no prêmio de risco. “Uma combinação poderosa que pode alavancar os preços das ações quando a percepção de melhora finalmente se consolidar”, diz a carta.

A gestora afirma que boa parte das empresas reguladas em seu portfólio tem uma taxa interna de retorno acima de 12% real, e que, entre líderes de mercado, múltiplos superiores a 10 vezes lucro “são exceção, não regra”.

Para a Atmos, o desconforto generalizado com o mercado de ações é compreensível após um ciclo desfavorável prolongado, mas exatamente por isso representa uma oportunidade. “É quase inevitável um certo constrangimento em afirmar em voz alta que os ativos nunca estiveram tão atraentes.”

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Fiscal vai mal, mas houve evolução

Um dos motivos de pessimismo de alguns agentes se ancora na trajetória das contas públicas. A Atmos critica o populismo de lideranças recentes e o “pensamento econômico primitivo” do atual governo, que, segundo a gestora, continua a apostar em aumento de receitas sem enfrentar o problema estrutural dos gastos obrigatórios.

Ainda assim, a gestora reconhece avanços institucionais relevantes nos últimos anos – como reformas microeconômicas e o fortalecimento do mercado de capitais – e acredita que esses fundamentos criam uma base sólida para retomada do crescimento, caso haja reversão nos fluxos de capital e estabilização da política fiscal.

“Hoje, o Brasil já acumula anos de investimentos substanciais em infraestrutura, e empresas da nossa carteira têm obtido bons retornos sobre o capital investido”, diz a carta, mencionando nomes como Equatorial (EQTL3), Energisa (ENGI11), Compass (PASS3), Rumo (RAIL3), Motiva (MOTV3) e Eneva (ENEV3).

A casa observa que tanto investidores locais quanto estrangeiros seguem subalocados em ações brasileiras, o que pode levar a uma reprecificação acelerada caso haja uma inflexão positiva no fluxo de investimentos: “O mercado acionário local pode não ter oferta suficiente para absorver a demanda.”

O fundo Atmos Ações FIC FIA fechou maio com ganhos de 4,04%, acima do 1,5% do Ibovespa. No ano, acumula retorno de 29,07%, ante 13,92% do índice. Desde a abertura, em 2009, o fundo entrega rentabilidade de 938,88%.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)