Prisão de Temer trouxe velhos fantasmas para assombrar a Bolsa?

A prisão do ex-presidente despertou a tensão de investidores no curto prazo, mas perspectivas para a Bolsa seguem positivas

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – O mercado financeiro segue uma lógica relativamente simples: qualquer evento inesperado, que, portanto, não tenha sido devidamente avaliado, provoca reações imediatas nos preços dos ativos.

Não foi diferente com a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco. Assim que a notícia foi divulgada, no fim da manhã de quinta-feira (21), a Bolsa passou a cair forte, encerrando o pregão com baixa de 1,33%, aos 96.729 pontos. Hoje a tensão continua e o Ibovespa desvaloriza perto de 3%. Efeito colateral da prisão, o que mais afeta o mercado agora é a tensão entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o Planalto, e suas consequências sobre a discussão em torno da reforma da Previdência.

O nervosismo gerado pela prisão e as incertezas despertadas no curto prazo são naturais ao processo, na visão da XP, mas é fundamental ter um horizonte maior para se analisar.

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“Foi uma surpresa. Ontem estávamos perto dos 100 mil pontos. Agora a impressão é de que velhos fantasmas voltam a assombrar a Bolsa (…) mas o nosso cenário para este ano não muda: continuamos construtivos e, na nossa avaliação, o investidor que tem uma carteira bem montada e diversificada consegue passar mais facilmente por momentos como esse”, disse Daniel Cunha, estrategista-chefe da XP Investimentos, durante live apresentada na noite de ontem. Assista aqui a live completa.

Para Cunha, os “velhos fantasmas”, que poderiam ser a falta de confiança e perspectiva dos investidores em relação ao futuro do país, não passam de um temor. Afinal, a opinião é de que a prisão de Temer por si só não muda a confiança na aprovação da reforma da Previdência, apesar de colocar algumas incertezas ao longo do caminho. No longo prazo, portanto, a perspectiva para a Bolsa continua positiva.

“O mercado vai focar principalmente em duas perguntas sobre a Previdência: de quanto vai ser a economia e quando a reforma será aprovada. Estes dois pontos são muito importantes”, afirmou o estrategista da XP.

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No ano passado, assim que a disputa presidencial foi definida, a XP fez uma análise sobre o potencial do mercado acionário brasileiro em 2019. A equipe liderada pelo analista-chefe Karel Luketic projetou o Ibovespa em até 125 mil pontos este ano, caso o cenário positivo se consolidasse.

“Continuamos achando que o ‘melhor cavalo’ é Bolsa. Se o país conseguir ajustar as contas públicas com a aprovação da reforma da Previdência, estaremos em um contexto transformacional no Brasil. E não tem uma classe melhor de ativos para aproveitar isso que a Bolsa”, defendeu Cunha.

Betina Roxo, analista de ações da XP, afirma que a equipe se concentra atualmente em alguns pontos principais para fazer a recomendação dos papéis: a retomada de crescimento da economia, a manutenção da taxa de juro baixa por mais tempo e em empresas cíclicas globais – que têm uma correlação menor com os dois primeiros pontos.

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Por isso, companhias dos setores de consumo  que são muito alavancadas pela retomada da atividade  e elétrico, as quais se beneficiam de uma taxa de juros mais baixa, estão no radar dos analistas pelo potencial de valorização.

A maior eficiência do atual governo, com uma agenda de privatizações, também pode beneficiar empresas do setor bancário e algumas estatais. “Gostamos de bancos como Itaú e Banco do Brasil. Começamos a cobrir recentemente Banrisul, papel que achamos interessante”, afirmou Betina. As ações da Petrobras também estão na lista de recomendação da XP.

Do lado das ações cíclicas globais, o foco está em empresas que se beneficiam de um câmbio depreciado e que estão com múltiplos descontados em relação a patamares históricos, como Vale, JBS e Suzano.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip