6 milhões de investidores de fundos de renda fixa pagam mais de 1% de taxa de administração e podem perder para a inflação; entenda

Levantamento feito com base em dados da Anbima mostra que existem 232 desses fundos no mercado, com patrimônio líquido de R$ 303,2 bilhões

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Os investidores brasileiros estão se sofisticando, mas esse é um movimento lento. Mesmo com o surgimento de novas opções de aplicação, a maior parte dos cotistas de fundos de renda fixa ainda paga caro para investir em produtos pouco (ou nada) rentáveis.

Um levantamento feito pelo InfoMoney com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que 6,1 milhões dos 10,2 milhões de investidores em fundos de renda fixa (ou cerca de 60% do total) pagam taxa de administração superior a 1% ao ano.

Entre esses fundos com altas taxas, estão dez produtos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Bradesco, que, ao todo, têm 4,7 milhões de cotistas (veja a lista abaixo).

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Segundo o levantamento, 232 fundos de renda fixa cobram mais de 1% ao ano de taxa de administração, com patrimônio líquido de R$ 303,2 bilhões. Entre eles, estão fundos DI, produtos com aplicação automática e outros com estratégias passivas pós-fixadas, que não exigem grandes movimentações por parte do gestor.

Como o rendimento desses produtos passivos é aproximadamente o CDI, que está em cerca de 2% ao ano, quando são descontados inflação, impostos e a taxa de administração, o retorno real é negativo. Ou seja, os investidores desses fundos estão perdendo dinheiro em termos reais.

O estudo inclui todos os fundos da categoria de renda fixa, mas considerando apenas aqueles com a taxa de administração em percentual, ou seja, excluindo os que cobram em reais ou taxa mista (reais mais um valor em percentual).

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0,25% e só

Segundo Alexandre Hishi, responsável pela gestão de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, no caso dos fundos DI, não faz sentido para o investidor pagar mais que 0,25% ao ano, que é a taxa de custódia no Tesouro Direto. “Só vale pagar um excedente do Tesouro se a gestão ativa agregar um valor para a rentabilidade, o que não é o caso”, diz.

“Antes, o investidor não precisava tomar risco e, com a Selic a 14%, uma taxa de administração de 2% nem era sentida. Hoje, cobrar 0,5% em um fundo DI já é muito caro”, afirma Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos.

Vale lembrar que diversas plataformas de investimento oferecem fundos com taxa inferior a 0,25% – alguns têm taxa zero. É o caso do “Trend DI Simples“, da XP Investimentos, que não cobra taxa de administração e possui aplicação inicial mínima de R$ 100.

Hishi chama atenção para a cobrança de come-cotas, que reduz ainda mais a atratividade de produtos mais caros. “O mercado vai ter que fazer esse ajuste nos custos, se quiser continuar com produtos de forma competitiva”, avalia.

O gestor da Azimut cita também o mercado de ETFs de renda fixa, que entra como mais um concorrente na prateleira de produtos passivos da classe, com taxas bastante competitivas, na casa dos 0,20% ao ano.

Aplicação automática

Conhecidas como “raspa conta”, as aplicações automáticas têm esse nome por direcionarem o saldo disponível em conta corrente a produtos conservadores de renda fixa, com liquidez diária. A ideia é que o dinheiro parado sempre esteja rendendo, porém, permitindo ao correntista resgatar o recurso a qualquer momento.

Com altas taxas de administração, que custeiam a comodidade do investidor, contudo, o retorno costuma ser abaixo de 100% do CDI, destaca Byron, da Guelt Investimentos.

“[Esses produtos] costumam pagar cerca de 70% a 75% do CDI, então é melhor comprar uma LFT [Tesouro Selic] e pagar 0,25% de custódia no Tesouro Direto”, diz.

Hishi, da Azimut, defende, entretanto, que apesar do custo alto, é preferível autorizar uma “raspa conta” a deixar o dinheiro parado na conta corrente.

De toda forma, caso o investidor esteja buscando melhores retornos na renda fixa, Patrícia Palomo, sócia-diretora da Sonata Gestora de Patrimônio, recomenda evitar nomes como “Ágil”, “Max”, “Plus”, “Premium”, “Super” e “Extra”, normalmente usados para categorizar os produtos de aplicação automática.

Métrica de retorno

Vale lembrar que o levantamento feito com base nos dados da Anbima inclui não só fundos DI ou com estratégias passivas, mas também produtos de crédito privado.

No levantamento, cerca de 10% dos 232 produtos tinham “crédito privado” no nome, embora seja provável que outros também tenham esses ativos na carteira, mas em menor quantia e sem fazer a especificação.

Nesses fundos, o risco é maior e o retorno também pode ser e, portanto, pode valer a pena pagar taxas mais elevadas nesse caso, segundo os especialistas consultados.

Patrícia, da Sonata, usa uma métrica de retorno para avaliar se as taxas estão condizentes com a rentabilidade entregue.

Esse estudo é feito com base em dados no acumulado do ano e em 12 meses, de modo a fazer uma análise sobre a consistência dos retornos em diferentes janelas. “Se um fundo que cobra taxa de administração de 1% está entregando o mesmo retorno que um que cobra 0,75%, este último é mais eficiente”, observa.

A gestora alerta, contudo, que é importante analisar a carteira dos fundos para fazer a comparação, uma vez que os fundos precisam ter políticas de investimento semelhantes.

A avaliação é compartilhada por Hishi, da Azimut. Segundo ele, uma boa métrica para ajudar o investidor é calcular quanto o gestor ganha de remuneração, e quanto sobra para o investidor, isto é, se o excesso de retorno gerado em relação à média do mercado vai, em sua maioria, para o cliente.

“Uma boa proporção é ser dois terços para o investidor e um terço para o gestor, do excesso de retorno em relação ao índice de referência”, diz o especialista.

Byron, da Guelt, afirma também que o investidor de fundos de crédito privado deve buscar bons gestores, e com foco voltado sempre para o longo prazo. “É importante conhecer a equipe por trás do fundo e entender se o gestor que fez a performance passada continua [na asset]”, diz.

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