1ª crise dos Fiagros: investidor precisará entender riscos, dizem especialistas

Para profissionais, processo pode elevar nível de governança exigido de devedores e aumentar entendimento sobre riscos do produto

Bruna Furlani

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Os atrasos nos pagamentos de alguns títulos investidos por uma pequena parcela de fundos de investimento nas cadeias agroindustriais (Fiagros), que caíram no gosto de investidores pessoa física, representam o primeiro momento de maior estresse dos produtos desde a sua criação, em 2021.

“Como é a primeira ‘crise’ dos Fiagros isso gera um impacto. Mas o agro não vai deixar de existir. O país tem vocação para isso”, avalia Guilherme Grahl, sócio da Valora Investimentos. “Agora, tem um estresse de preço e um problema climático em algumas regiões, com quebras de safra”, acrescenta o executivo.

Na visão do executivo da Valora, a situação atual dos Fiagros é “preocupante” em relação a anos anteriores, mas é “gerenciável”. Segundo ele, a expectativa é que os maiores problemas sejam atenuados já na próxima safra, quando o produtor precisar replanejar e gerenciar os custos de produção com os novos preços da commodity, mesmo que as cotações sigam baixas.

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O estresse maior do mercado de crédito agro também tem afetado as captações nos fundos. Em janeiro deste ano, os depósitos líquidos (diferença entre aportes e resgates) em Fiagros chegaram a R$ 20,5 milhões. O volume representa um recuo em relação a dezembro, quando as entradas líquidas chegaram a R$ 572,3 milhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Atrasos nos pagamentos de CRAs

Para Grahl, o mercado tem sofrido com notícias ruins envolvendo recuperações judiciais e atrasos nos pagamentos de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) investidos por Fiagros. A Valora, por exemplo, passa por um problema com títulos emitidos pela Cooperativa Languiru Ltda, focada na produção de aves, suínos, gado, leite e derivados e que deve apresentar um plano de liquidação extrajudicial até o fim de março.

O caso acima, porém, é diferente dos últimos atrasos em CRAs, que envolveram produtores de grãos, em sua maioria. De acordo com levantamento feito pela Uqbar a pedido do InfoMoney, os exemplos mais recentes tratam de dois Fiagros-FIIs (produtos que alocam em ativos imobiliários): Galapagos Recebíveis do Agronegócio (GCRA11) e SFI Investimentos do Agronegócio (IAGR11).

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No caso do Galapagos Recebíveis do Agronegócio, há três companhias com problemas e que fazem parte do portfólio do produto: CRAs Três Irmãos, em que o devedor é a Agropecuária Três Irmãos Bergamasco LTDA; CRAs Mitre, onde o devedor é a Mitre Agropecuária e CRA Castilhos, em que o devedor é a Agrícola Formosa LTDA.

Já dentro da SFI Investimentos, os problemas envolvem os três primeiros exemplos acima e mais dois CRAs Piva, em que o devedor é um produtor conhecido como Nivaldo Piva.

Amadurecimento do mercado (e dos investidores)

Embora os atrasos deixem o investidor em alerta, na avaliação de especialistas, a situação dos Fiagros é parte de um processo natural para uma classe de fundos tão nova e para um setor tão cíclico como o agronegócio. “Já teve a onda de inadimplência nos FIIs [fundos imobiliários] no passado e separamos o joio do trigo. A seleção é um processo contínuo. Quem vai sobreviver agora é quem tiver uma carteira mais conservadora e com menor nível de risco”, avalia Vitor Duarte, CIO da Suno Asset.

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Em um ambiente de maior estresse no crédito, Duarte diz que está mais cauteloso com Fiagros, especialmente com os produtos do tipo mais high yield (maior risco e retorno). Apesar disso, o profissional não vê o risco de uma “hecatombe” no agronegócio.

Há quem também diga que os problemas vistos em alguns ativos estressados podem promover mudanças positivas na indústria. “Muito provavelmente, veremos Fiagros com maior exigência de governança dos devedores agora”, avalia Guilherme Sharovsky, investment banker da Bloxs Capital Partners. Para ele, uma possibilidade é que gestores passem a aceitar apenas credores auditados ou listados em Bolsa.

A expectativa é que o estresse visto agora também leve a um amadurecimento dos cotistas. “Os investidores precisam lembrar que estão investindo em ativos de risco. Retorno de CDI+8,5% é uma operação que não é de baixo risco. Quando se investe em um Fiagro mid e high yield, é possível que haja algum default [calote]”, destaca Sharovsky.

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Investidores também poderão ficar ainda mais atentos às decisões de investimentos dos gestores e contratos estabelecidos com a contraparte. “A transparência na gestão proporciona maior confiança aos investidores e permite uma avaliação mais clara dos riscos”, resume Rafael Bellas, head de fundos imobiliários da InvestSmart XP.