Rayssa Leal: a caçula e uma das principais atletas brasileiras nas Olimpíadas de Tóquio

Ela viralizou na internet e desde então coleciona medalhas: na capital japonesa, vai defender a tradição brasileira no esporte, que é estreante nos Jogos

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Rayssa Leal, a "Fadinha" do skate, na Vila Olímpica (Rafael Bello)

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Agentes de mercado estão diariamente em busca das melhores empresas para investir —identificar uma companhia que outrora dava prejuízo e viveu, ou vive, um processo de reconstrução de imagem, gestão, administração e posicionamento na busca do lucro não é tarefa das mais fáceis.

Se fôssemos trazer essa realidade para o esporte, no entanto, veríamos uma modalidade que seria a ‘queridinha’ dos analistas e investidores: o skate. Antes mal vista e associada muitas vezes com as drogas e a ‘vagabundagem’, o skate sofreu muito em ser reconhecido como esporte de verdade e não como uma simples forma de recreação.

No final dos anos 1980, por exemplo, o prefeito da cidade de São Paulo Jânio Quadros chegou a proibir que skatistas praticassem suas manobras dentro do Parque do Ibirapuera. Uma situação impensável e absurda que levou os skatistas da velha guarda às ruas para protestar.

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O reposicionamento, ou melhor, a forma que as pessoas passaram a enxergar a modalidade, começou na metade dos anos 1990. Inúmeros fatores contribuíram com o processo, mas possivelmente nenhum teve tanto impacto quanto o espírito esportivo que o skate proporciona.

Um esporte onde os atletas não estão preocupados com a vitória, mas sim em se divertir, e que conta ainda com respeito ao próximo, com direito a torcida pelo adversário, chamou a atenção do Comitê Olímpico Internacional (COI), que em 2015 incluiu a já bilionária modalidade que dialoga com o público jovem — algo que a organização vem incansavelmente tentando achar — no programa olímpico.

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Um unicórnio brasileiro chamado Rayssa Leal

Se fossemos fazer outro paralelo do mundo esportivo com o mundo dos negócios, poderíamos dizer que o skate possuí uma startup unicórnio. E ela é tupiniquim, mas precisamente do Maranhão. Rayssa Mendes Leal é o nome que você ouvirá muito daqui para frente.

Nascida em 2008, na cidade de Imperatriz, no interior do Maranhão, conheceu a modalidade através de um amigo de seu pai, Haroldo Leal. O rapaz chegou na casa da atleta e lhe deu de presente um skate, que logo a encantou.

Das primeiras subidas no “novo brinquedo” até o primeiro ollie, sua primeira manobra, não demorou muito. Hoje, cerca de cinco anos depois, Rayssa é vice-campeã mundial da modalidade street, será a mais nova atleta do Brasil a participar de uma Olimpíada e é séria candidata a uma medalha olímpica.

“Ela nem falou pra mim que queria ser skatista. Depois que ela ganhou o skate, eu chegava do trabalho e ela estava brincando. Aí um dia passamos na casa do amigo que deu o skate pra ela e ele estava andando na rua. Ela começou a andar e ele disse que ela tinha futuro. Leva ela pra pista que vai dar certo,” contou Haroldo Leal.

Primeiro treino de Rayssa Leal no Ariake Urban Sports Park, em Tóquio (Gaspar Nóbrega/COB)
Primeiro treino de Rayssa Leal no Ariake Urban Sports Park, em Tóquio (Gaspar Nóbrega/COB)

A fadinha que viralizou

A explosão para o mundo esportivo ocorreu quando a jovem criança postou em sua conta no Instagram um vídeo fazendo uma manobra no seu skate vestida de fada e viralizou na internet. Após o vídeo bombar na rede social, Rayssa Leal ganhou o apelido de Fadinha e passou a somar conquistas e mais conquistas no currículo.

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Haroldo e sua esposa não quiseram forçar a barra para profissionalizar a garota logo de cara. Segundo ele, o processo foi totalmente escolhido por ela e o caminho do sucesso chegou naturalmente, sem pressão.

“Não pensamos em investir na carreira dela logo de cara. A gente deixou fluir, deixa-la ir evoluindo. À medida que ela passou a se interessar mais e mais, fomos investindo aos poucos. O pessoal da pista [skatistas da cidade] incentivou muito e nós fomos levando a Rhayssa a campeonatos, até que chegamos ao ponto de a gente deixar de trabalhar para focar na carreira dela,” explicou o pai da jovem skatista.

Bom exemplo de gestão de carreira

O processo não foi fácil. Haroldo e Lilian, sua esposa, tiveram que se virar financeiramente para que Rhayssa tivesse acesso às competições e também as melhores estruturas. “Passamos um monte de perrengue, nenhum dos dois estava trabalhando,” conta.

Com uma menina centrada e de um talento nato, não demorou muito para que os resultados nas principais competições internacionais viessem e o retorno financeiro também.

O melhor resultado de Rayssa Leal até aqui veio no mundial de skate street feminino, disputado na cidade de São Paulo em 2019. Aos 11 anos de idade, Rayssa Leal faturou a medalha de prata no torneio vencido pela amiga e compatriota Pâmela Rosa.

Nesse ano, no Mundial de Street em Roma, na Itália, realizado em junho, Rayssa Leal se classificou para a final e assim carimbou seu passaporte para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Na decisão, a maranhense terminou na terceira colocação e levou a medalha de bronze.

É de se destacar também o bom gerenciamento da carreira e da vida da filha por parte dos pais. “Até 2020, eu e minha esposa que tocávamos a carreira da Rhayssa. A gente dividia as tarefas. A parte burocrática ficava comigo e as viagens, pedidos de entrevista e filmagem etc., ficavam com a mãe. Hoje em dia, temos pessoas que trabalham para nós e os direcionamos”, explicou Haroldo.

Primeiro treino de Rayssa Leal no Ariake Urban Sports Park, em Tóquio (Gaspar Nóbrega/COB)
Primeiro treino de Rayssa Leal no Ariake Urban Sports Park, em Tóquio (Gaspar Nóbrega/COB)

Pronta para brilhar no Japão

Se você for acompanhar as Olimpíadas, ainda vai ouvir muito sobre Rayssa Leal. Além do já mencionado fato da atleta ser a mais jovem competidora olímpica do Brasil aos 13 anos e 203 dias, a atleta pode fazer parte um histórico pódio triplo olímpico ao lado de Pâmela Rosa, campeã mundial em 2019, e Letícia Bufoni, uma das maiores skatistas da história.

“A gente fica muito feliz com tudo isso que está acontecendo. Sabemos do potencial dela e imaginávamos que ela iria conseguir essa vaga. Brigamos muito para ela chegar onde está. Ainda bem também que todos os gigantes do skate com quem ela anda perto gostam dela. Para nós, é uma felicidade maior ainda ver a Rayssa realizando os seus sonhos,” finalizou Haroldo.

Por ser menor de idade, Rayssa será acompanhada pela mãe dentro da Vila Olímpica, algo não permitido para outros atletas. A presença pode ajudar mais ainda a talentosa Rayssa a fazer história. Não só na Tóquio 2021, mas também nas muitas Olimpíadas que ainda estão por vir em sua carreira.

**Por Rafael Freitas

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