Vale foca em eficiência e redução de custos para menor endividamento e dividendos elevados

De olho no futuro, o CFO da empresa projeta escassez de níquel de alta pureza no mundo, o que deve beneficiar a mineradora

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A gestão da Vale (VALE3) está focada em manter o nível de eficiência conquistado nos últimos anos e seguir reduzindo custos com o objetivo de minimizar seu endividamento para, na ponta final, elevar os ganhos dos acionistas. Esse é o “plano de voo” da companhia apresentado por Luciano Siani Pires, diretor-executivo de finanças e relações com investidores da Vale desde 2012, que esteve nos estúdios do InfoMoney nesta quarta-feira (29) para uma entrevista exclusiva (veja entrevista completa no vídeo acima).

Durante seu trabalho na Vale, Pires viu a companhia perder 75% de sua receita em um intervalo de apenas três anos em decorrência da forte desvalorização do minério de ferro e conta como foi possível se manter no posto de maior mineradora das Américas e maior mineradora do mundo em minério de ferro e níquel: “a companha aprendeu a trabalhar de uma maneira super eficiente e cortar custos. Os custos em reais são hoje os mesmos de cinco anos atrás”, contou em entrevista a Karel Luketic, analista da XP Investimentos.

Esse eficiência conquistada ao longo dos anos faz com que a companhia se sinta confortável com a tonelada do minério de ferro se mantendo perto dos US$ 65 e com baixa volatilidade. “Estamos gerando mais caixa hoje do que em 2014 quando era US$ 97. Se o preço [do minério] for muito mais alto pode estimular entrada de novos competidores”, explica Pires.

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Ele explica ainda que os frutos colhidos pela empresa hoje são derivados de muita disciplina financeira e, em breve, estarão também no bolso dos acionistas. A dívida atual da empresa é de aproximadamente US$ 10 bilhões e a expectativa é de geração de caixa entre US$ 16 bilhões e US$ 17 bilhões neste ano, levando a relação entre dívida líquida e Ebitda a ficar abaixo de 1 vez.

Como o setor de commodities é bastante imprevisível, Pires destacou que essa posição de caixa é conservadora, mas “ideal” para que a empresa possa enfrentar eventuais quedas acentuadas no preço do minério de ferro e ainda aproveitar possibilidades que podem surgir em ativos que estejam em situação difícil com a desvalorização da commodity.

“Atingido esse patamar de endividamento, vamos usar o caixa para distribuir para os acionistas”, disse Pires. Em julho, Luketic havia destacado em programa no InfoMoney que a Vale está no fim de um ciclo de queda da dívida e se prepara para o “maior ciclo de dividendos da história da companhia”

Guerra comercial

A guerra comercial entre China e Estados Unidos também não parece preocupar a companhia. Segundo Pires, após o forte desenvolvimento dos Estados Unidos e China nas últimas décadas que demandou grandes quantidades de aço, o foco agora são as economias emergentes, como a Índia, com grande potencial consumidor e fora do centro das tensões comerciais. 

As incertezas eleitorais que têm sacudido o mercado doméstico também não são um foco de preocupação, principalmente porque a Vale tem sua receita atrelada ao dólar e custos majoritariamente em real. Ou seja, a disparada recente da moeda norte-americana é benéficas aos seus negócios. Embora as ações sofram em dias de maior aversão ao risco, Pires afirma que os investidores estrangeiros são atraídos pelo preço mais barato da ação nos pregões seguintes. 

“No prazo curto a ação pode oscilar junto com a Bolsa brasileira, mas no longo prazo, com o dólar, é mais resiliente”, diz o CFO.  

De olho no futuro, Pires também aponta a Vale como a principal produtora de níquel do mundo, produto que representa de 10% a 15% do fluxo de caixa da companhia e atualmente tem excesso de oferta no mundo. No entanto, o CFO explica que o níquel de alta pureza, usado na fabricação de baterias de carros elétricos, é explorado por poucas mineradoras. Entre elas, está a Vale, e a expectativa do executivo é que o aumento pela demanda por carros elétricos faça o preço do níquel disparar, a exemplo do que já ocorreu com o cobalto – outra matéria-prima usada nas baterias. 

“A demanda por níquel é avassaladora. A produção de veículos elétricos está crescendo 70% em 2018 em relação ao ano passado e já são 2 milhões de veículos elétricos no mundo. Não há como suprir esse níquel na velocidade necessária para esse crescimento. Em 3 anos vai faltar níquel de alta pureza”, projeta o executivo. 

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