Sem solução para deterioração de liquidez, ação da Viver despenca 62% no ano

Enfraquecimento do desempenho operacional e indicadores de crédito fizeram duas agências de classificação de risco reduzirem rating da empresa em menos de dois meses

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Viver Incorporadora e Construtura (VIVR3) passa há um longo tempo por uma situação delicada. A companhia enfrenta uma deterioração na sua posição de liquidez, algo que a própria companhia vem tentando solucionar, mas ainda nada foi feito. Esse cenário conturbado da empresa afeta suas ações, que intensificaram as perdas desde o início de novembro para cá, e caíram 43,09%, aos R$ 0,70. Em 2012, a queda já chega a 62,14%.

A última reunião do conselho de administração da Viver, que ocorreu no último dia 5 de dezembro, tinha como uma das questões centrais discutir sobre a liquidez da empresa no curto prazo, porém nenhuma deliberação foi requerida em relação a este assunto. Após este evento, as ações da companhia já recuaram 23,91%.

Enfraquecimento do desempenho operacional
A companhia mostra um enfraquecimento do desempenho operacional e dos indicadores de crédito, que estão abaixo das expectativas iniciais, o que contribuiu para que as agências de classificação de risco Moody’s e Fitch rebaixassem o rating da empresa, entre outubro e novembro.

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No ano passado, a companhia mudou o antigo nome Inpar para Viver. A mudança veio após a entrada da Paladin Realty Partners no controle acionário da empresa, e que atualmente possui 40% de seu capital. A partir desse momento, a empresa implementou um profundo processo de reestruturação financeira e organizacional. Contudo, o processo de transição parece não ter solucionado os problemas da companhia, e desde o início de 2011 para cá, os papéis já desvalorizaram 77,99%

Embora a companhia tenha anunciado um plano de reestruturação, o qual inclui a venda de ativos não estratégicos e capitalização dos acionistas, a Moody’s estima que haja baixa probabilidade de que o desempenho operacional e os indicadores de crédito se recuperem substancialmente antes de 2014. 

Resultado fraco no terceiro trimestre
A companhia apresentou no terceiro trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 185,6 milhões, um forte aumento das perdas na comparação com os R$ 48,7 milhões um ano antes. A receita líquida no período ficou em R$ 15,9 milhões, contra R$ 176,5 milhões na comparação anual. 

“A situação da empresa não é nada boa. Houve uma postergação de entrega de obras, e a companhia também apresentou um resultado muito fraco no terceiro trimestre deste ano, com prejuízo bruto, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) negativo e prejuízo líquido”, disse o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller.  

Quanto mais pra frente olha, pior fica
Nos últimos doze meses, a Viver sofreu aumento de custos, cancelamentos de contratos, atrasos de construção, os quais causaram ajustes de receitas, e que impactaram significativamente a margem bruta da companhia, fazendo-a cair para 5,5% no período. E dado que a maior parte das entregas de 2012 e 2013 é referente a projetos de margens baixas lançados até 2009, o potencial para recuperação da margem de 2014 é bastante limitado, apontaram os analistas Cristiane Spercel e Brian Oak, da Moody’s, em relatório. 

O cenário da empresa é desfavorável, e reflete desafios significativos da empresa para melhorar a rentabilidade operacional e desalavancar seu balanço nos próximos 12 a 18 meses. A relação dívida líquida por patrimônio líquido da empresa cresceu de 85,5% para 149,2% no terceiro trimestre deste ano.  

Outro ponto ressaltado é o “cash burn” (uso de caixa pela companhia), que foi reduzido pelo segundo trimestre consecutivo, de R$ 37,4 milhões para R$ 27 milhões. Segundo Muller, a empresa enfrenta muitos desafios e precisa urgentemente melhorar seu desempenho operacional para que as ações possam ter uma virada de tendência. 

Compromisso de melhorar a estrutura de capital
Em resposta aos acontecimentos, a companhia reforça que continua focada em maximizar sua posição de liquidez, tendo como prioridade e compromisso melhorar a lucratividade e alcançar uma estrutura melhor de capital, proporcionando fluxo de caixa operacional positivo e redução da alavancagem. 

“A companhia vem apresentando prejuízos operacionais e geração de caixa negativa, e nesse sentindo, vem buscando ações para reverter essa situação”, esclarece o vice presidente financeiro e relações com investidores da Viver, Eduardo Canonico. 

Entre essas medidas, ele destaca: o aumento de capital de R$ 50 milhões, subscrito no início de novembro; transferência de aproximadamente R$ 130 milhões de sua dívida corporativa/projetos, do curto para o longo prazo, bem como a negociação de covenants de dívida, buscando assim readequar o fluxo de pagamento de dívidas ao cronograma de repasse de clientes; racionalização de despesas gerais e administrativas, iniciadas nos últimos meses, e que poderá gerar ganhos na ordem de 15% a partir do quarto trimestre. 

Segundo ele, a companhia também buscará concentrar-se em mercados onde possui diferenciais comparativos (estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, além de outros estados do Sudestes de forma seletiva) com produtos de qualidade, mais padronizáveis e menos exposição de caixa. 

Vale mencionar ainda que no dia 21 de dezembro, a empresa realizará uma reunião aberta aos investidores para apresentar sua estratégia de curto prazo e para o próximo ano.