SEC atinge “magnata cripto” e coloca outra exchange sob risco de insolvência, temem especialistas

A Huobi, que já foi uma das maiores corretoras de ativos digitais do mundo, tem reservas compostas principalmente por tokens ligados a suposto controlador

Bloomberg

O empresário de criptomoedas Justin Sun (Calvin Sit/Bloomberg)

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O token TRX, que está no centro das acusações de fraude contra o magnata dos ativos digitais Justin Sun, representa uma fatia significativa das reservas da bolsa de criptomoedas Huobi Global, da qual o empresário chinês é consultor.

O TRX – comumente chamado de Tron – é responsável por 18% das reservas da Huobi, uma importante plataforma cripto, de acordo com dados do agregador DeFiLlama. Dúvidas sobre a moeda, temem especialistas, podem reacender as preocupações sobre a força da Huobi em um setor traumatizado pelo colapso da corretora FTX, em novembro.

A criptomoeda caiu quase 16% na quarta-feira (22) depois que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (a SEC) acusou Sun e suas empresas de manipulação de mercado para com o objetivo de simular negociações do token. A SEC também processou Sun por supostamente infringir leis de valores mobiliários. O empresário de 32 anos rejeitou as acusações, afirmando via Twitter que a acusação da SEC “não tem mérito”.

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Outra grande parte das reservas de Huobi está na própria moeda da bolsa, a HT. Juntos, TRX e HT respondem por cerca de 41% das reservas da plataforma. Os mercados cripto tornaram-se cada vez mais cautelosos com os tokens nativos depois que a implosão do token FTT, da FTX, contribuiu para o fim da corretora.

As exchanges de criptomoedas tentaram garantir que possuem ativos suficientes para dar garantia a depósitos dos investidores, mas estão enfrentando cobranças por auditorias completas.

“Ativos exógenos, estáveis e não correlacionados, cujo sucesso independe da bolsa, servem como uma melhor forma de garantia”, disse Kunal Goel, analista de pesquisa da Messari.

As reservas totais da Huobi são de US$ 3,1 bilhões, de acordo com o CryptoQuant. Excluindo os tokens nativos, o número cai para cerca de US$ 1,8 bilhão – uma métrica que o CryptoQuant chama de reservas limpas. A taxa de reserva limpa da Huobi é a mais baixa entre as oito exchanges listadas pelo provedor de dados de ativos digitais.

“Pode haver um risco na liquidez da bolsa se um token emitido por ela mesma retiver uma porcentagem significativa do valor total das reservas”, afirma a CryptoQuant.

Quando questionada sobre a concentração de HT e TRX em sua reserva de ativos, a Huobi disse que possui um pool de reservas forte e saudável para lidar com quaisquer riscos.

Injeções com sablecoins

Este ano, Sun injetou US$ 100 milhões por duas vezes em stablecoins – um tipo de token que deve manter um valor constante de US$ 1 – na Huobi para aumentar sua proteção financeira.

A transferência mais recente foi no início de março, quando ele tentou conter as preocupações provocadas por uma queda repentina do HT. A infusão anterior foi em janeiro, depois que a Huobi foi atingida por uma onda de saques. A empresa disse que os US$ 200 milhões combinados em stablecoins vieram dos fundos pessoais de Sun.

No ano passado, o empresário gastou cerca de US$ 1 bilhão para comprar uma participação de aproximadamente 60% na Huobi, informou a Bloomberg em novembro. Ele negou possuir participação majoritária e diz que é apenas um “consultor” da bolsa.

A Huobi, uma plataforma com raízes chinesas, recuou da liderança global das exchanges de criptomoedas, mas ainda alcançou US$ 11 bilhões em volume mensal de negociação em fevereiro deste ano, mostram dados da CryptoCompare.

TRX recuperou nesta quinta-feira (23) parte de sua queda do dia anterior, subindo cerca de 5% nas primeiras horas da manhã. Já o HT caiu cerca de 9% no acumulado das 24 horas anteriores, de acordo com o CoinGecko.