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SÃO PAULO – A empresa de telefonia Oi (OIBR3; OIBR4) protagoniza o maior pedido de recuperação judicial da história do mercado brasileiro. A decisão, comunicada ao mercado na noite da última segunda-feira (20), no sentido de garantir proteção temporária à companhia enquanto renegocia sua dívida avaliada em R$ 65,4 bilhões vem após o fracasso de uma tentativa de acordo direta com os detentores de títulos de sua dívida. Estima-se que a dívida financeira da companhia esteja em R$ 16 bilhões nas mãos de instituições financeiras.
O processo de recuperação judicial é lento e envolve muitas etapas. A partir do pedido, a empresa tem até 180 dias para tentar um acordo com os credores sobre um plano de recuperação que definirá como sairá da crise financeira. Após o despacho, a empresa tem 60 dias para apresentar o plano de recuperação à Justiça (caso contrário, o juiz decreta a falência). Apresentado o plano, os credores tem 30 dias (contados a partir do despacho) para aprovar ou não.
Difícil saber como será o desenrolar do processo, mas a história mostra que há tanto casos de sucesso como de fracassos – apesar dos desfechos negativos serem mais comuns que os bem-sucedidos. Veja abaixo os dois lados da moeda: um exemplo é da empresa Kepler Weber (KEPL3), que dez anos atrás entrou em recuperação judicial, mas conseguiu sua salvação logo após. No total, a empresa passou um período de cerca de 20 dias com suas ações impedidas de serem negociadas na bolsa; o outro exemplo é da Agrenco (AGEN11), que não conseguiu negociar seu plano de recuperação com os credores e teve sua falência decretada.
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Kepler Weber: da quase falência ao sucesso
Atolada em dívidas que somavam R$ 500 milhões, sem nenhum capital de giro, devendo para os fornecedores e sem crédito em 2006, a Kepler Weber é um bom exemplo de empresa que deu a volta por cima e superou as adversidades do pedido de recuperação judicial. Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Anastácio Fernandes Filho, CEO (Chief Executive Officer) desde a crise, conta que a companhia apostou em expansão em um momento errado no mercado.
Até 2004, a Kepler encontrava-se em posição confortável, com sua capacidade instalada praticamente esgotada, mas, a partir deste ano, optou por fazer captações para a construção de um novo empreendimento em Campo Grande (MS). “As dívidas contraídas com as construções em Campo Grande começaram a vencer, só que o capital de giro tinha ido embora, porque a crise fugiu com a demanda – o mercado caiu muito”, conta o presidente da companhia.
“Eu vim para cá em um momento de crise para tentar salvar a companhia e ajudá-la em sua recuperação. A primeira coisa que fiz foi chamar os credores e começar a negociar, mas os bancos não cediam e os acionistas também não. Com isso, analisamos todas as hipóteses e chegamos à conclusão de que o assunto estava rendendo demais e não saía do lugar. Então, entramos com o pedido de recuperação”, explica Anastácio Fernandes Filho.
O CEO conta que a oficialização do pedido de recuperação judicial pegou todos de surpresa e, poucos dias depois, ambas as partes cederam e a companhia conseguiu iniciar sua reestruturação. O acordo feito resultou na divisão da dívida em 3 partes: a primeira convertida pelos bancos em equity, a segunda, em debêntures, enquanto a última consistiu na entrada de dinheiro novo de acionistas. Isso fez com que a companhia conseguisse reestruturar o perfil de sua dívida, que passou a ser de longo prazo, com carência de 3 anos para a debênture, e preparasse terreno para um turnaround que tomou vulto rapidamente.
A reviravolta se consolidou com as novas políticas de austeridade da empresa, que, aliadas ao sucesso na reestruturação da dívida, fizeram com que o mercado passasse a acreditar mais na companhia, que começou a entregar resultados cada vez melhores, acompanhando de perto o movimento positivo do agronegócio brasileiro. Com duas altas anuais superiores a 10% nos lucros líquidos de 2011 e 2012 e uma alta acumulada de 140% na bolsa em 2013, a Kepler Weber prova que é possível dar a volta por cima e recuperar bons resultados.
Agrenco: credores não chegam a acordo e falência é decretada
A história da Agrenco marca o outro lado da moeda. Sem conseguir aprovar seu plano de recuperação judicial com os credores, a empresa teve a falência de suas filiais decretada em 5 agosto deste ano, e, juntamente, suas ações, que eram cotadas sob o ticker AGEN11, tiveram suas negociações suspensas na BM&FBovespa.
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A falência foi desfecho de um imbróglio iniciado em 2008, quando Antônio Iafelice (fundador da Agrenco) e alguns sócios e executivos da companhia foram presos durante a Operação Influenza, da Polícia Federal, sob um leque de acusações que envolvia lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e remessa ilegal de dinheiro ao exterior.
Com isso, os bancos cortaram o crédito, arrastaram os estoques de grãos e não permitiram que a empresa cumprisse seus contratos. A Agrenco então passou por uma série de intempéries. Os sócios foram afastados e, para tentar se reerguer, a companhia contratou a Íntegra Associados e elaborou seu primeiro plano de recuperação judicial, em março de 2009, que previa a venda de ativos e contratação de uma empresa para concluir e operar as plantas da companhia.
Em 2010, Iafelice voltou a dar as cartas na empresa, e, em agosto de 2012, amparado por uma decisão judicial, foi contratado como conselheiro, passando a trabalhar diretamente na elaboração de um segundo plano de recuperação – rechaçado pelos bancos três anos depois. A recusa da proposta, que previa o pagamento de 42,6% (cerca de R$ 494,34 milhões) de uma dívida total de R$ 1,15 bilhão num prazo de até 12 anos, levou à sua falência. Em outubro de 2014, a corte de Bermudas decidiu pela liquidação da companhia, após o Credit Suisse formular um pedido de liquidação.