Qual o cenário para o venture capital no Brasil? SoftBank, Monashees e Kaszek traçam panorama

Na Expert XP, SoftBank, Monashees e Kaszek falam sobre cenário de investimento de venture capital e growth equity

Mariana Fonseca

(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

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SÃO PAULO – “A gente ficou muito feliz com a oportunidade de vir para a América Latina quando os investidores globais não prestavam tanta atenção, há dois anos. Hoje, todos olham para a região”. É assim que Paulo Passoni, sócio do SoftBank Latin America Fund, resume a chegada do conglomerado japonês de telecomunicações ao mercado de capital de risco brasileiro. Desde então, as startups cresceram, impulsionadas tanto por um aumento de liquidez no mercado quanto por uma digitalização forçada com a pandemia do novo coronavírus.

Passoni, Paulo Lima (Monashees), e Santiago Fossatti (Kaszek) compartilharam suas visões sobre o dinheiro disponível para o mercado de capital de risco e sobre a aceleração mais recente das startups durante o painel “Venture Capital: O que grandes gestores estão buscando?”, na 11ª edição da Expert XP. Realizado todos os anos pela XP, o evento é considerado um dos maiores festivais de investimentos do mundo.

Essas três gestoras de capital de risco têm participação relevante no Brasil. A Monashees foi fundada em 2005 e tem em seu portfólio startups como Neon, Loggi e Rappi. Já a gestora Kaszek foi criada em 2011 e aportou em startups como Cora, Creditas e Kavak. Por fim, o SoftBank investiu em startups como MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin e VTEX por meio do SoftBank Latin America Fund, criado em 2019.

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Mais liquidez, mais crescimento

O InfoMoney já mostrou em matéria anterior como o dinheiro investido em startups está crescendo, tanto no Brasil quanto no mundo.

Segundo a base de dados Crunchbase, cerca de US$ 288 bilhões foram investidos em startups pelo mundo durante o primeiro semestre de 2021. O número representou alta de 61% sobre último recorde, de US$ 179 bilhões, registrado no segundo semestre de 2020. Na comparação com os US$ 148 bilhões do primeiro semestre de 2020, a alta foi de 95%.

Segundo o Inside Venture Capital, relatório da empresa de inovação Distrito, US$ 5,2 bilhões foram investidos em startups brasileiras neste primeiro semestre. Esse também é um recorde histórico, superando em 45% o visto ao longo de todo o ano de 2020. Na comparação apenas com o primeiro semestre de 2020, a alta é de 299%. “Esperamos que os próximos semestres sejam igualmente movimentados, graças ao amadurecimento do mercado somado à recuperação econômica e à superação da crise sanitária”, escreveu o Distrito em seu relatório.

Com o mercado de venture capital crescendo, fundos e startups têm mais facilidade em captar recursos. “O que não falta é capital. Virou commodity“, resumiu Passoni. “O jogo mudou completamente. Quando começamos, o Mercado Livre era o grande case da região e não sabíamos qual fundo iria entrar na próxima rodada de uma startup em que investíamos. O risco caiu muito”, concordou Fossatti.

Para o gestor da Kaszek, existe conhecimento, métricas e pessoas que sabem o que fazer em venture capital. Do lado do empreendedor, assim que uma empresa atinge seu encaixe entre solução e mercado consumidor (product-market fit), a velocidade de crescimento é recorde.

“Mais liquidez faz com que as empresas cresçam, atinjam outros mercados e ganhem penetração com mais rapidez. (…) Pegamos vários memorandos de empresas em que investimos em 2012, e hoje elas estão muito maiores do que projetávamos naquela época. Ter uma empresa que valesse US$ 10 bilhões era apenas um sonho”, disse Lima, da Monashees.

Por outro, mais dinheiro na mesa também faz com que a disputa entre fundos de venture capital se acirre. Então, as startups brasileiras atingem uma avaliação mais alta. “Houve um aumento de preços porque é uma consequência da competição. Mas ainda vemos uma lacuna de avaliação, especialmente nas startups em estágio mais inicial, comparando mercado brasileiro e mercado americano ou asiático”, ressaltou Lima.

Passoni destaca que fundos de venture capital e growth equity olham mais para apostas corretas do que apostas perfeitamente precificadas. “Existem, sim, situações em que o valuation está esticado. Mas, especialmente no começo, vale muito mais apostar no cavalo certo do que no pagamento mais certo. Porque tenho certeza que, daqui cinco ou dez anos, a empresa valerá muito mais. A mentalidade é olhar para comparáveis nos EUA e na Ásia e ver quanto essa startup pode valer na América Latina”.

O sócio do SoftBank Latin America Fund afirmou que fundos de growth equity olham para 60% a 70% de acertos no portfólio, uma porcentagem que cai quanto mais cedo o fundo entrar na vida da startup. “Você pode pagar um pouco mais, se tiver um belo retorno. Os acertos devem pagar pelos erros.”

Pandemia e impacto social

Os gestores também fizeram um saldo do impacto da pandemia do novo coronavírus nas startups. Lima, da Monashees, ressaltou startups que despontaram em curto, médio e longo prazo.

“Algumas se beneficiaram instantaneamente, como e-commerce, delivery de comida e soluções antifraude. Outro grupo foi o de SaaS [softwares como um serviço], que passaram a atender empresas que precisavam melhorar sua produtividade. Por fim, com a reabertura da economia, alguns negócios mais impactados pegaram um vento favorável, como mobilidade, beleza e viagem. A Covid-19 foi uma viagem no tempo, acelerando uma curva de adoção digital por negócios B2C e B2B na América Latina que levaria três anos.”

Sobre a relação do venture capital com o ESG, movimento que defende bandeiras como a atenção ao ambiente, ao impacto social e à governança nos negócios e nos investimentos, Lima afirmou que os fundadores já pensam não só em como gerar valor, mas também em como causar impacto na sociedade. “Eles escolhem invariavelmente mercados grandes, como mercado financeiro, saúde e educação. É raro ver empresas investidas por nós que resolvem problemas pequenos. Procuramos empreendedores ambiciosos, com brilho nos olhos.”

A América Latina está cheia desses empreendedores, completa o sócio da Monashees. “É uma das belezas da região. A matéria-prima do empreendedor é problema, então estamos em uma região cheia de grandes oportunidades. Essa motivação se encaixa bem com o tema de ESG.”

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.