Investimento em startups bate recorde brasileiro e mundial no 1º semestre de 2021

Em volume de investimento aportado no Brasil, lideram fintechs, proptechs e retailtechs. Concentração em startups maduras é realidade mundial e nacional

Mariana Fonseca

(Daria Shevtsova/Pexels)

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SÃO PAULO – Diversos países ainda estão sofrendo com os efeitos da pandemia de Covid-19 – e os olhares dos investidores ainda estão voltados para a tecnologia. Em nível nacional ou global, as startups continuaram divulgando captações recordes no acumulado dos primeiros seis meses deste ano.

Segundo a base de dados Crunchbase, cerca de US$ 288 bilhões foram investidos em startups pelo mundo durante o primeiro semestre de 2021. O número representou alta de 61% sobre último recorde, de US$ 179 bilhões investidos no segundo semestre de 2020. Na comparação com os US$ 148 bilhões do primeiro semestre de 2020, a alta foi de 95%.

Neste primeiro semestre, 250 startups se tornaram unicórnios – alcançaram uma avaliação de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão. Em todo o ano de 2020, foram 161 novos unicórnios. Essas companhias deixaram de ser exóticas: o mundo acumula 879 unicórnios, com valor de mercado acumulado de US$ 3 trilhões. Dos 250 unicórnios registrados no primeiro semestre de 2021, 161 deles estão nos Estados Unidos. Os próximos da lista, Canadá e China, criaram 10 unicórnios cada.

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Na separação entre investimentos em startups de estágio semente (angel e seed), estágio inicial (early stage) e estágio avançado (growth/late stage), a última categoria atraiu mais recursos. Foram US$ 11,3 bilhões investidos em estágio semente; US$ 81,1 bilhões investidos em estágio inicial; e US$ 195,3 bilhões em estágio avançado na soma dos dois primeiros trimestres de 2021.

Os fundos mais ativos em número de rodadas foram Tiger Global Management (144 rodadas lideradas ou com participação), Insight Partners (109), Andreessen Horowitz (106), Accel (105) e General Catalyst (80).

De maneira similar, mais companhias investidas por venture capital chegaram à uma avaliação acima de US$ 10 bilhões em sua estreia na Bolsa de Valores no primeiro semestre de 2021 do que durante todo o ano de 2020. Foram 16 companhias neste semestre, ante 13 em 2020. Apenas no segundo trimestre de 2021, foram oito:

Investimento em startups brasileiras

Segundo o Inside Venture Capital, relatório da empresa de inovação Distrito, US$ 5,2 bilhões foram investidos em startups brasileiras neste primeiro semestre. Esse também é um recorde histórico, superando em 45% o visto ao longo de todo o ano de 2020. Na comparação apenas com o primeiro semestre de 2020, a alta é de 299%.

Volume de investimento em startups (Distrito/Reprodução)
Volume de investimento em startups (Distrito/Reprodução)

O número deste semestre é enviesado por grandes aportes. Foram 11 megarodadas no período, aportes que passam da marca dos US$ 100 milhões, responsáveis por 74% do total investido nas startups brasileiras. Segundo o Distrito, foram quatro novos unicórnios nacionais condecorados neste semestre: MadeiraMadeira (venture capital), Hotmart (venture capital), C6Bank (venda para o J.P.Morgan) e Mercado Bitcoin (venture capital). Hoje, o Brasil tem 16 unicórnios.

Junho também teve recorde histórico para as startups brasileiras: foram US$ 2 bilhões captados, em mais de 63 rodadas. O valor foi puxado por megarodadas em startups que já eram unicórnios brasileiros, como Gympass (US$ 220 milhões), Ebanx (US$ 430 milhões) e Nubank (US$ 500 milhões).

Em volume aportado, lideram fintechs (US$ 2,4 bilhões), proptechs (US$ 829,4 milhões) e retailtechs (US$ 416,2 milhões). Foram realizados 339 aportes em startups brasileiras, 35% mais rodadas do que o visto em 2020. Os setores preferidos dos investidores foram fintech (72 aportes), retailtech (36) e healthtech (29).

Setores de startups preferidos para investimento no primeiro semestre de 2021 (Distrito/Reprodução)
Setores de startups preferidos para investimento no primeiro semestre de 2021 (Distrito/Reprodução)

Assim como no panorama mundial, investimentos em estágio avançado concentram o maior volume captado. Essa realidade é ainda mais vista no Brasil: o late stage concentra 95% do volume investido. Já em número de rodadas, 69% vão para estágio semente e inicial.

Os fundos brasileiros que mais realizaram investimentos no primeiro semestre deste ano foram Bossa Nova (27 aportes), Domo Invest (21) e Canary (12).

O futuro do investimento em startups

“Esperamos que os próximos semestres sejam igualmente movimentados, graças ao amadurecimento do mercado somado a recuperação econômica e a superação da crise sanitária”, escreve o Distrito em seu relatório. “Acreditamos que até o fim do ano, novos unicórnios devam aparecer em terras brasileiras. Algumas das principais apostas são Neon, CargoX, Zenvia e Petlove.”

Esse otimismo com o futuro do investimento em startups se repetiu em entrevistas que o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, fez anteriormente com fundos brasileiros de venture capital e private equity.

“No Brasil, nós nunca tivemos tanto capital disponível para empreendedores em empresas nascentes de tecnologia como temos agora”, afirmou Daniel Chalfon, sócio da Astella Investimentos. A Astella investiu em negócios como Omie, Resultados Digitais e Sallve. Essa liquidez deve continuar pelo resto de 2021.

“Houve acesso à capital facilitado por quase todos os bancos centrais, e também facilidade de crédito na esfera privada. Os investidores conseguiram se organizar para uma maior captação de recursos em 2020, e se prepararam para investimentos em momentos subsequentes. É natural que os investimentos em VC e PE estejam aquecidos em 2021, frente ao ano anterior”, diz Marcelo Amorim, sócio operador da Invisto. A Invisto tem no portfólio startups como Gofind, HeroSpark e Knewin. “Temos várias indicações que durante os próximos meses o nível de atividade em venture capital e private equity deve permanecer elevado.”

“Para os próximos meses, estamos animados com uma recuperação ainda mais forte com um possível efeito das vacinas e aquecimento da economia. O investidor brasileiro está em busca de investimentos alternativos e mais retorno, dado o fim dos altos juros em aplicações como títulos do Tesouro Direito”, concorda Rodrigo Carneiro, CEO da SMU Investimentos. A plataforma de equity crowdfunding mediou aportes em negócios Flapper, Lady Driver e Pink Farms.

A liquidez pode gerar competição pelos melhores empreendedores, segundo Gonzalo Costa, sócio do NXTP. O fundo de venture capital aportou em startups como Amaro, CargoX e Ripio. “O que certamente pode acontecer no futuro próximo é uma escassez de boas oportunidades de investimento, o que pode levar a um aumento dos valuations e também à flexibilização dos termos de investimento”.

Renato Valente, da Iporanga Ventures, concorda e ressalta: “O país tem muita carência e desafio. É um prato cheio para empreendedores cada vez mais preparados e com acesso a capital. Existe também uma inflação de salários de desenvolvedores, o que faz com que o valor dos aportes cresça”. O fundo investiu em empreendimentos como Quero Educação, Loggi e Olist.

Mesmo com avisos de aportes pontualmente inflados, os especialistas afirmam que ainda temos muito caminho a percorrer em termos de investimento na tecnologia. “Não acreditamos que esse fenômeno seja passageiro. Ainda existem muitas ineficiências nas cadeias de valor e oportunidades na prestação de serviços que a tecnologia pode endereçar”, afirma Valente.

“Muitas corporações se viram muito mais atrasadas; muitos investidores se viram muito mais mal alocados; e muitos governos perceberam que são menos incentivadores de inovação do que imaginavam. Essa percepção generalizada e muito forte que faz com que os investimentos em startups e empresas inovadoras de tecnologia ainda venham a atrair muito capital não só ao longo dos próximos trimestres, mas certamente nos próximos anos e talvez décadas”, concorda Dan Yamamura, sócio da gestora Fuse Capital. A Fuse Capital aportou em negócios como AIO, Fligoo e W.Dental.

A adoção da rede 5G traz um impulso ainda maior para soluções digitais. “Internet super rápida e baixa latência vão permitir, por exemplo, fazer cirurgias mais precisas à distância, lançar carros autônomos, construir cidades inteligentes e muito mais coisas, que não conseguimos sequer imaginar.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.