O que foi revelado (até agora) sobre as reuniões do Conselho da Petrobras

De acordo com áudios obtidos pelos jornais Folha e Estadão, contestações sobre cálculos com perdas de corrupção e indicação de nomes para fundo de pensão da Petrobras por Mantega dominaram reuniões

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Nos últimos dias, as gravações das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras (PETR3;PETR4) foram reveladas para o público, destacando algumas rusgas entre os seus integrantes.

Nesta data, aliás, a companhia divulgou comunicado destacando manter áudio das reuniões do Conselho desde setembro, a partir do início das investigações dos escritórios independentes contratados pela estatal, refutando assim que tivesse destruído os áudios de forma proposital para dificultar o trabalho de investigação da CPI da estatal. 

Nos últimos dias, foram reveladas diversas reuniões do Conselho pela imprensa, o que deu algumas indicações sobre o clima de tensão nos bastidores da estatal. 

Continua depois da publicidade

Conforme revelou a Folha de S. Paulo, em janeiro deste ano, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou impedir a divulgação de um cálculo encomendado pela própria Petrobras. 

E o material mostra que Mantega, que presidia o conselho de administração da estatal, diz que o cálculo era uma “temeridade” e teve um atrito com Graça Foster, então presidente da empresa, que defendia a divulgação das informações ao mercado, o que acabou ocorrendo.

Com a divulgação da cifra de R$ 88,6 bilhões pela estatal no balanço, Graça acabou desagradando à presidente Dilma Rousseff e perdeu o cargo pouco tempo depois. Ela foi substituída por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil (BBAS3). 

Continua depois da publicidade

Mais cedo, em novembro de 2014, Graça Foster sugeriu que as obras da refinaria Abreu e Lima foi acelerada para a eleição. A presidente da estatal afirmou, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, que nunca houve motivos técnicos para que as obras de Abreu e Lima fossem aceleradas, “a não ser terminar a refinaria no ano de 2010”.

Em 2010, a presidente Dilma Rousseff foi candidata à Presidência e, naquela eleição, menos de 30% da obra estava pronta e a refinaria não foi concluída. As obras de Abreu e Lima começaram em 2007, sem a conclusão dos projetos básicos, e o valor do parque industrial instalado no litoral sul de Pernambuco saltou de US$ 2,5 bilhões para US$ 18 bilhões, com uma série de aditivos contratuais. A primeira parte da refinaria, que é alvo de investigação por suspeita de desvios para pagamento de propinas, só começou a operar no fim de 2014. A previsão inicial de conclusão era 2011.

Já na reunião seguinte, de 12 de dezembro de 2014, os cálculos das perdas com corrupção na Petrobras foram, mais uma vez, alvo de questionamento, segundo o jornal. Graça Foster disse que qualquer valor que fosse colocado no balanço anual da empresa para medir as perdas com corrupção decorrentes da Lava Jato não seria verdadeiro. “Essa de dizer que eu só posso mostrar para o mercado a certeza absoluta dessa questão da Operação Lava Jato é uma inverdade, porque jamais acontecerá. Só daqui a três, cinco ou dez anos. Quando tudo isso for julgado e sair o valor dessa operação toda”, afirmou.

Continua depois da publicidade

Ao falar sobre as datas-limite para a empresa divulgar o balanço, um dos presentes perguntou: “O juízo final é 28 de fevereiro então?”. Graça interveio ao dizer: “não há a menor perspectiva racional de ter esse número exato. Não há. Se o jurídico achar que já, por favor, pode se manifestar”, e não houve resposta. 

Além disso, outra reunião revelou que Guido Mantega fez indicações políticas para o comando do fundo de pensão dos funcionários da estatal, sendo que a iniciativa foi criticada por integrantes do colegiado, que apontavam inexperiência dos indicados e até suspeita de que um deles teria lidado com propinas em ocasiões anteriores. 

Graça Foster disse, em reunião do dia 13 de janeiro, ter recebido uma “determinação” de Mantega, com nomes e currículos, e que ele pediu que Graça “viabilize as mudanças” na Petros. Ao final, Graça pediu que essa informação não constasse da Ata. Meses de dois meses depois, houve mudanças na Petros. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.