O que era para ter sido bom veio ainda melhor: o que explica a disparada de 5% da RD?

Estabilização das margens, expansão das margens e premissas positivas para o longo prazo: RD surpreende mais uma vez na bolsa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quem vendeu as ações da RD (RADL3), ex-Raia Drogasil, no final do pregão da véspera, quando as ações fecharam em queda de mais de 3% com volume acima da média, sofrem ao ver a forte alta dos papéis da companhia, na esteira dos bons resultados do terceiro trimestre de 2017. As ações chegaram a saltar 5,6%, negociando desde o final da manhã em alta de mais de 5%, impulsionando os ganhos da Carteira InfoMoney (para conferir o portfólio completo, clique aqui). 

Como costuma ser recorrente para a companhia (mesmo em tempos de crise), os números apresentados foram muito sólidos. Mas, além disso, nesse trimestre, uma das maiores preocupações foi dirimida, com a execução exemplar ofuscando o cenário mais desafiador para a empresa: as margens conseguiram mostrar sinal de estabilização, após um segundo trimestre considerado de “morte anunciada” com a queda desse indicador na comparação com 2016. No ano passado, houve um forte aumento nos preços de remédios, o que levou a companhia a considerar que o maior desafio para esse ano foi justamente 2017. 

E, de acordo com o balanço entre julho e setembro, os desafios estão sendo superados. Enquanto analistas esperavam uma queda da margem Ebitda, a companhia conseguiu entregar um resultado estável em 8,3%.

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“Apesar de termos enfrentado uma pressão de margem bruta de 1 ponto percentual no trimestre, principalmente em função da forte base de comparação do terceiro trimestre de 2016, fomos capazes de neutralizá-la completamente através da diluição de despesas, obtendo um sólido ganho de eficiência que, ao contrário da pressão de margem bruta, é estrutural e recorrente, e será fundamental para apoiar a expansão da margem nos próximos trimestres”, disse a empresa em seu relatório de resultados. 

Durante a teleconferência, mais destaques foram detalhados pela companhia, como a expansão de  54 novas lojas no terceiro trimestre e fechamento de 6, tendo o guidance de 200 novas para 2017 sendo reiterado pela empresa.

Além disso, houve expansão da participação de mercado da companhia, passando de 11,1% para 11,7% na comparação anual, tendo um grande destaque para o Nordeste, com uma participação de 5,2%, representando um ganho de 1,2 ponto percentual. Muito dessa expansão vem de forma orgânica que, conforme aponta a XP Investimentos, é algo que tende a continuar, dado que em julho a RD entrou no estado do Ceará com e reiterou que entrará nos estados do Maranhão e Piauí nos próximos trimestres,  completando a presença em todo o Nordeste. 

“A expansão continua muito expressiva, estamos abrindo lojas com muita força. E a loja abre preparada, após muitos estudos, o que comprova a proposta de valor da nossa marca, com foco em experiência e atendimento ao cliente”, avaliou a companhia durante a teleconferência. 

Assim, a empresa conseguiu compensar a compressão de margem bruta com corte de despesas, conforme aponta o Credit Suisse. “Isso deve ser bom para a margem Ebitda do quatro trimestre. Além disso, a empresa continua executando seu programa de expansão e aumento de participação de mercado. Do lado negativo, destaque para a piora do capital de giro em 1,7 dia”, avaliam os analistas do banco.  

O BTG Pactual também apontou o resultado resiliente da companhia. “Mesmo com a pressão pela inflação menor de medicamentos ao longo de 2017, a margem Ebitda veio estável na base de comparação anual, indicando a execução superior da companhia, o que permite abrir grande número de lojas sem pressionar margens, e ao mesmo tempo diluir custos operacionais”, avaliam os analistas. 

Consolidação + envelhecimento da população: a receita da RD

Assim, o resultado para a companhia indica a forte resiliência, e o futuro também promete ser promissor, ainda mais levando em conta a consolidação da companhia, uma vez que ainda há grande espaço para aumento de participação de mercado, e a questão demográfica, já que o envelhecimento da população é positivo para o case da empresa. 

Com isso, mesmo aqueles que ainda acham que a ação subiu demais e possuem recomendação neutra para a RD, seguem de olho na ação da empresa. Esse é o caso do Bank of America Merrill Lynch: o banco possui recomendação neutra para os ativos com preço-alvo de R$ 85, destacando que o valuation já reflete bastante os sólidos fundamentos da empresa. “Observamos, no entanto, que a administração está superando as expectativas e os investidores devem monitorar a ação”, avaliam. 

O BTG, por sua vez, manteve recomendação de compra, vendo “a ação como uma das empresas premium de nosso universo de cobertura”. Porém, em relatório antes do início do pregão, os analistas apontaram que não viam que o bom trimestre seria um grande catalisador para os papéis (ao contrário do que aconteceu), especialmente considerando outros segmentos de consumo discricionário que devem performar melhor no curto prazo, após sofrerem durante a recessão econômica. 

Olhando para a variação no ano, é possível destacar a diferença de desempenho entre a RADL3 com outras ações de varejo: enquanto ela sobe um pouco mais que o Ibovespa no ano (cerca de 29% ante 26% do índice), outras ações sobem mais, caso de Lojas Renner (LREN3, +68%), Pão de Açúcar (PCAR4, +46%).

Mas no longo prazo, o desempenho da ação foi muito expressivo: “desde o IPO da Drogasil, registramos uma alta de 1.239,3% nas ações da empresa, com retorno anual médio de 28,8%. Considerando o IPO da Droga Raia, geramos um retorno anual médio de 33,6%”, destacaram os executivos em teleconferência.

Neste sentido, eles apontaram: para quem for comprar ação de um trimestre para o outro, os ativos RADL3 podem não ser tão interessantes. Mas no longo prazo, é um ativo para ficar muito de olho.

De qualquer forma, vale ressaltar: mesmo quem apostou no evento de curto prazo da companhia (o resultado), teve motivos para comemorar, em meio à forte alta dos ativos nesta sessão. Para os investidores de curto e longo prazo, a RD está dando motivos para os investidores sorrirem. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.