A previsão de 2 anos atrás para o cenário de fintechs está se mostrando equivocada

Para diretor do CFA Institute, haverá demissões nas empresas do mercado financeiro, mas não um apocalipse

Paula Zogbi

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São Paulo – O cenário quase apocalíptico previsto para os grandes bancos com a chegada das fintechs não irá se concretizar, acredita John Bowman, diretor administrativo para a América do CFA Institute. Mais provável do que o fim dessas grandes empresas, segundo ele, é a coexistência entre as companhias consolidadas e aquelas que já chegam digitalizadas. Esse é, também, o cenário mais positivo para o consumidor, em seu ponto de vista.

O instituto que Bowman administra é a maior associação de profissionais da área de investimentos do mundo. Recentemente, realizou uma pesquisa com seus membros onde descobriu que 89% dos associados acredita que a automação nesta área terá impactos positivos em preços para os consumidores. Ao mesmo tempo, 46% deles temem falhas em sistemas automatizados de análise financeira.

Já um relatório realizado pela Accenture e disponibilizado com exclusividade ao InfoMoney mostra que 7 em cada 10 consumidores estão dispostos a utilizar serviços baseados em robo advisor (consultoria e serviços gerados por computador, sem orientação humana) para seus serviços bancários, de consultoria financeira e seguros. Por outro lado, 84% dos consumidores preferem a interação humana para resolver algumas dúvidas e reclamações.

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Esses dados, para o executivo, demonstram que consumidores têm postura híbrida com relação à tecnologia em finanças. Em outras palavras, haverá público para companhias tradicionais e também para as fintechs.

“As mudanças trazidas por esse tipo de empresa podem nem atingir investidores com maior poder aquisitivo, da chamada ‘ultra high net worth’”, disse Bowman em entrevista ao InfoMoney na data da inauguração do escritório do CFA em São Paulo, na semana passada.

“Mas é inegável que empresas como o Nubank estão fazendo barulho e levando bancos tradicionais a mudarem suas posturas”, destaca, e investidores e clientes de menor poder aquisitivos podem ser os maiores beneficiados – entrando em um mercado que antes não tinha espaço para eles.

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Segundo o executivo, “dois anos atrás todo mundo, inclusive eu, achava que as fintechs iam chegar com tudo e acabar com os bancos tradicionais. Hoje, a tendência mostra que não é isso que vai acontecer”. 

Empregos

Previsões recentes, como a de um relatório do Citi publicado em março de 2016, preveem que a transformação digital deve demitir milhões de trabalhadores do setor. A previsão dessa publicação foi de cerca de 30% do pessoal.

Bowman não duvida de um enxugamento na mão de obra humana, mas acredita que a assessoria financeira tem espaço para o digital e para o tradicional. “Isso tudo vai coexistir. Trabalhando com o número de investidores que trabalhamos, percebemos que pode ser difícil construir robôs que se enquadrem totalmente em todos os perfis de clientes”, explica. “A diversidade de tipos de investidor pode ser uma oportunidade enorme de revidar” ao avanço tecnológico, de acordo com ele.

Outro desafio, para ele, é regulatório. Para o especialista, é papel de órgãos reguladores garantir que haja espaço para todos os tipos de clientes no mercado financeiro, e isso pode ajudar empresas tradicionais a demonstrarem seu valor, desde que estejam em linha com as necessidades dos clientes mais conectados.

Reação

A reação dos bancos brasileiros não foi imediata, mas tem sido rápida. Dentre os maiores bancos, o Banco do Brasil já possibilita que clientes abram contas de maneira totalmente digital, sem a necessidade de comparecer a uma agência. Todos eles permitem boa parte das transações de maneira eletrônica pelos correntistas.

No caso do Itaú, percebe-se um esforço, por meio da publicidade, de mostrar uma imagem mais digital e tecnológica, tendência que pode crescer entre outros bancos.

Tudo isso, diz Bowman, completa a imagem de confluência. “Existe consumidor para ambos os públicos, e a existência de todos os tipos de serviços é sempre benéfica para eles”, garante. 

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney