Gafisa anuncia mudanças no Conselho após saída de gestor polêmico e ações têm nova alta

Mu Hak You, dono da GWI Asset Management, deixou o comando da empresa após leilão de ações em que perdeu o controle da companhia

Weruska Goeking

Gráfico de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Em mais um desdobramento após a reviravolta da semana passada, quando o fundo GWI Asset Management deixou o controle da Gafisa (GFSA3), a companhia informou que Mu Hak You, o polêmico dono da GWI, e seu filho, Thiago You, não fazem mais parte do Conselho de Administração da companhia. Os investidores comemoram a notícia e as ações da companhia operam em alta. Às 11h30 (horário de Brasília), os ativos GFSA3 registravam ganhos de 1,87%, às R$ 9,79. Na máxima do dia, os papéis chegaram a subir 3,54%, a R$ 9,95. 

Daqui em diante, o economista Augusto Marques da Cruz Filho passa a ser o presidente do Conselho. Ele é presidente do Conselho da BR Distribuidora, vice-presidente do conselho da BRF, conselheiro da General Shopping e JSL, e já foi diretor-presidente do Grupo Pão de Açúcar.  No lugar de Thiago You, fica Oscar Segall, executivo com experiência no mercado imobiliário brasileiro e um dos fundadores da Klabin Segall.

Além disso, o Conselho aprovou um comitê de reestruturação, que deverá fazer estudos e análises aprofundados visando a reestruturação financeira e administrativa da companhia.

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“A construtora passa a ter um time de executivos experientes e que buscará melhorar a operação da companhia”, afirmam Felipe Bevilacqua e Eduardo Guimarães, especialistas em ações da Levante, em relatório enviado a clientes.

Paira a dúvida, agora, sobre quem são os compradores das ações da Gafisa, que movimentou R$ 131,4 milhões em um leilão de suas ações da semana passada.  A Gafisa anunciou que a Planner atingiu fatia de 18,45% das ações ordinárias no negócio  em que a GWI reduziu sua participação de 50,17% para 7,7% das ordinárias e deixou o bloco de controle da companhia.

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu uma apuração para descobrir quem são os demais compradores, que deveriam ter sido divulgados pela própria Gafisa.

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“Dependendo de quem são os compradores, as ações podem ter grandes oscilações, seja para baixo ou para cima”, alertam os especialistas da Levante.

Gestão polêmica

A gestão da GWI, comandada pelo investidor Mu Hak You, foi curta e marcada por polêmicas. Após assumir o controle da empresa, em setembro de 2018, a GWI demitiu metade dos funcionários, incluindo executivos do alto escalão, como CEO, diretor financeiro e diretor comercial, que foram substituídos por advogadas sem experiência no ramo de incorporação. A nova administração ainda deixou de pagar fornecedores e buscou a renegociação de contratos que considerava pouco vantajosos.

A companhia também foi alvo de acusação de desvios de recursos. Segundo a Polo Capital Securitizadora, que comprou dívidas da Gafisa e teria o direito de receber parte dos valores pagos pelos clientes da companhia, a construtora enviou novos boletos de cobrança a clientes no início de fevereiro em que listava seus próprios dados bancários, em vez dos relativos à Polo. O total seria de R$ 1,8 milhão.

Com a alteração dos boletos, a Polo Capital afirmou que “a Gafisa passou a receber indevidamente os créditos de compradores de imóveis de titularidade da securitizadora”. Segundo fontes de mercado, haveria cerca de R$ 300 milhões em CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) emitidos pela Gafisa. Não há detalhes sobre qual parcela foi securitizada pela Polo Capital.

Além dessas polêmicas, a Gafisa é uma das empresas mais alavancadas do segmento e, para não deixar o preço do papel cair muito, gastou o pouco caixa que tem com um plano de recompra de suas ações iniciado em setembro de 2018 pela GWI. A incorporadora desembolsou R$ 18 milhões em recompra apenas no mês de janeiro. Com isso, a liquidez da companhia passou a ser foco de grande preocupação dos acionistas.

“A necessidade de gerar caixa para fazer frente às margens financeiras devidas para a corretora e a pressão da B3 fizeram com que a venda de Gafisa fosse realizada”, afirmaram os especialistas da Levante na semana passada. 

Em 11 de fevereiro o mercado já havia respondido com entusiasmo os rumores de que a GWI estaria negociando a venda de sua participação. Na ocasião, os papéis saíram de perdas de 10,82% para queda de 1%. Já na sexta, os papéis chegaram a subir 7%, mas depois amenizaram e fecharam com ganhos de 2,23%. 

Apesar da resposta bastante imediatamente otimista com a conclusão da troca no controle, a Gafisa ainda tem um longo caminho para recuperar o valor de suas ações, que acumulam perdas de 42,4% somente neste ano.

Prova disso são os dados da prévia operacional do quarto trimestre, que decepcionaram as já baixas expectativas do mercado e com os analistas vendo pouca atratividade e baixa geração de caixa para o papel. Mesmo com a forte queda do papel, boa parte do mercado não via o papel como barato, ainda mais por conta dos problemas de gestão que a Gafisa enfrentava.

Desta forma, a companhia ainda enfrenta muitos desafios – mas o primeiro passo foi dado com a troca da cúpula de sua administração.

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