Fleury: a aposta na alta renda deu resultado

Com crescimento de lucro, receita e geração de caixa nos últimos três anos, a companhia ganhou o prêmio de melhor empresa da Bolsa no setor de saúde

Giuliana Napolitano

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SÃO PAULO – A recessão que o Brasil viveu em 2015 e 2016 – e da qual se recupera ainda lentamente – obrigou muitas empresas a encolher e a se tornar mais eficientes para sobreviver. Estratégias de crescimento ficaram em segundo plano. Com raríssimas exceções. Um grupo que protagonizou uma dessas exceções foi o Fleury (FLRY3).

De 2014 para cá, o segundo maior grupo de exames diagnósticos do país – atrás da DASA – apostou no crescimento orgânico e via aquisições, melhorou a produtividade dos ativos disponíveis e reforçou o modelo de governança.

Todos os indicadores do grupo caminharam na direção contrária da economia: lucro, receita e geração de caixa (ebitda) aumentaram nos últimos três anos. O faturamento passou de R$ 2,09 bilhões em 2015 para R$ 2,66 bilhões em 2018.

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Já o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) praticamente dobrou desse período, saindo de 20,3% no final de 2015 para 41,3% em dezembro do ano passado.

O desempenho levou a empresa a ser classificada como a melhor empresa do setor no ranking Melhores Empresas da Bolsa, feito pelo InfoMoney em parceria com o Ibmec e a Economatica. O ranking analisou diferentes indicadores das companhias abertas em três anos, de 2016 a 2018 (confira as demais vencedoras e a metodologia da pesquisa).

Os números atuais do Fleury são resultado de um turnaround que começou em 2013. Até aquele ano, a empresa havia colocado em prática um plano de expansão via aquisições e abertura de novas unidades principalmente no segmento mais votado para a classe média, com a marca A+.

O crescimento estava comprometendo o lucro e, assim, a nova gestão – comandada por Carlos Marinelli, que assumiu como CEO em 2014 – decidiu se concentrar em tornar a operação mais rentável.

As aquisições foram integradas e foram tomadas medidas para otimizar o uso das unidades – por exemplo, incentivando a realização de exames à tarde, quando os laboratórios costumam ficar vazios.

Além disso, a companhia voltou a investir na marca Fleury, premium e mais rentável que as demais. Os ajustes terminaram em 2016. “Foi um período difícil, mas o Fleury mostrou sua força se concentrando nos elementos que contam nossa história, como a qualidade reconhecida da marca e a eficiência operacional”, diz Marinelli.

A experiência anterior de Marinelli, que é formado em administração e passou por Unilever, Promon e Pão de Açúcar, ajudou no processo de mudanças. “Ainda somos uma companhia médica, mas combinamos conhecimento com diversos perfis gerenciais. Unimos administradores, engenheiros, economistas para dar mais qualidade na gestão”, diz.

Nova maneira de crescer

Com a casa em ordem, o Fleury retomou um projeto de expansão, mas, dessa vez, dando prioridade à marca Fleury, premium, também para o crescimento em novas regiões e setores em que não atuava. Comprou o Serdil, de Porto Alegre, especializado em diagnóstico por imagem, segmento em que o grupo não estava presente na cidade. Também entrou em novos mercados, como no Rio Grande do Norte, adquirindo o Instituto de Radiologia.

No ano passado, comprou o carioca Lafe Laboratório de Análises Clínicas, presente em bairros da cidade do Rio de Janeiro que não têm unidades Fleury. “O carioca tem uma dinâmica diferente, ele não sai de seu bairro para fazer exames”, explica Marinelli.

Também foi adquirida a SantéCorp, gestora de planos para empresas. Tanto o crescimento orgânico como via aquisições, contudo, não comprometeu o nível de endividamento. Hoje, é de uma vez o Ebtida e já foi de 1,5. “Somos uma empresa de baixo endividamento e alta geração de caixa”, resume o CEO. Para uma receita de R$ 2,9 bilhões, o Fleury gera R$ 700 milhões de caixa.

Além disso, a margem ebtida voltou a subir em 2017, para 25,1%, permanecendo neste nível em 2018. No ano passado, o lucro líquido foi de R$ 331,58 milhões, alta de 3,4% sobre 2017, e de 44,9% sobre 2016.

Os altos e baixos das ações

O bom desempenho se refletiu nas ações da companhia. Em 2016, a valorização do papel (incluindo dividendos e juros sobre capital próprio) foi de 138,38%, seguido por mais 69,02% de ganho em 2017.

No ano passado, o receio de que a forte expansão orgânica não desse o resultado esperado, associado a um cenário ruim para a saúde suplementar, fez os investidores tirarem o pé. As ações caíram 30,88%.

Para Marinelli, a preocupação dos investidores é exagerada. Em sua visão, o Fleury sofre menos com a pressão por custos menores porque atua no segmento premium e tem “uma marca forte, desejada por médicos e pacientes”.

Neste ano, os investidores parecem concordam com o executivo: os papéis do Fleury subiram 24,45% de janeiro a 30 de julho.

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Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.